segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CLUBE DE LEITURA - FEVEREIRO

Sinopse:A morte de um homem amado; o pranto de uma mulher que falha uma promessa e se julga castigada; uma mãe, uma filha e o cheiro venenoso das acácias; uma mulher que se extravia dentro dos seus sonhos; aquele elevador com alguém preso lá dentro; o futebol, implacável jogo bravo; setenta e cinco rosas cor de salmão, seguras por um laço de seda e embrulhadas em papel de prata; solidariedade machista, conselhos de um velho a um rapaz; uma água-marinha que traz uma mensagem; não cobiçar as coisas alheias; uma teia de enredos, e a Alice que caiu num buraco do qual dificilmente conseguirá sair.

Catorze contos extraordinários, de uma das autoras mais consagradas e inquietantes da literatura actual, que nunca deixa de nos surpreender com a acutilância e profundidade da sua escrita. 

ENTREVISTA

Teolinda Gersão no "Todas as Palavras"
Teolinda Gersão entrevistada por Luís Caetano no programa Todas as Palavras, a propósito do seu novo livro de contos, "Prantos, amores e outros desvarios".
A autora recebe, a 9 de novembro, no Casino do Estoril, o Prémio Literário Fernando Namora pelo seu último romance, "Passagens"!

veja em: https://www.facebook.com/PortoEditora/videos/1151226731581501/?hc_ref=PAGES_TIMELINE



CRÍTICAS DE IMPRENSA

Selecionado na lista de melhores livros de 2016 do jornal “Expresso”
Expresso
«A escrita de Teolinda Gersão traz luz à nossa escuridão, mesmo que a loucura espreite a cada momento. O primeiro conto desta coletânea, “Pranto e Riso da Noiva Assassina” é uma magnífica tirada a uma condição universal que é o amor entre dois seres humanos, seguida pela humilhação da rejeição, a raiva íntima sentida num momento de uma vida tornada para sempre numa comédia posterior, o que mais nos move e comove enterrado inevitavelmente na sucessão de relacionamentos abertos ou escondidos, ou na aceitação da solidão e saudade. A morte de que aqui se fala “acontece” com um realismo quase assustador, mas apenas num estado onírico.»
Vamberto Freitas, Jornal i
Prantos, Amores e Outros Desvarios percorre com destreza o espectro vasto do quotidiano. Do mais conturbado ao mais aparentemente plácido, a escrita de Teolinda Gersão capta o pulsar distinto da vida como se de um batimento comum se tratasse.
Público (4 ****)

"O que a Teolinda faz é escrever a vida"
Maria Alzira Seixo, Jornal das Letras 


 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

CLUBE DE LEITURA - JANEIRO

Ontem, pelas 21 horas, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura para a abordagem da obra "Morreste-me" de José Luís Peixoto.

Trata-se do primeiro livro do autor, um poema ficcionado, em memória de José João Serrano Peixoto, seu pai, com uma forte marca biográfica, resultado da sua vivência pessoal, bastante emotivo, afetivo, telúrico e muito alentejano.

Esta obra está recomendada como remédio literário, sendo uma terapia de ajuda a quem passa pela ausência de alguém que nos morreu e precisa de aguentar a carga, o legado e fazer o luto.

Embora o tema seja extremamente depressivo, todos se deixaram render à qualidade literária da obra, puderam partilhar a inquietação causada por todo o processo do envelhecimento até ao momento fatal e a angústia associada.

Mas, não foi só de tristeza que se falou. Rimo-nos e concluímos que tudo isto deve ser encarado como um processo natural, ficando apenas a ausência física, porque todo o resto, fica connosco e com os descendentes nos mais pequenos detalhes.

"Levo o teu nome e as tuas certezas nos passos".
"deixas-te ficar em tudo".
"Pai, meu pequeno filho".

Por fim, a propósito da extrema sensibilidade e humildade do autor, relembremos o seu poema do livro "Criança em ruínas"

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

CLUBE DE LEITURA - JANEIRO

Sinopse:
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.
Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.


Críticas de imprensa
«Uma voz única e com um tom sublime.»
Eduardo Prado Coelho


Opinião de leitores

Intenso
EN | 13-01-2016
Primeiro livro deste grande escritor da nova geração. Brilhantemente intenso e doloroso. Repleto de sentimento da primeira à última palavra. ImperdíveL.

Fundamental
Andrea | 06-04-2015
um grande exercício de linguagem e sentimento por um dos melhores da nossa língua


Sessenta páginas que se lêem rapidamente, mas que provocam efeitos colaterais profundos. Descrever a caminhada final do pai doente, o sofrimento da família, e os seus próprios sentimentos é algo que eu estranho, por ser tão íntimo, mas ao mesmo tempo admiro, porque há-de requerer uma qualquer espécie de coragem contar a toda a gente o privado sofrimento da morte.
Não é ficção. Aconteceu. Foi o primeiro livro de José Luís Peixoto e, mesmo contando que tenha tido uns aperfeiçoamentos pelo caminho (a edição que li é de 2009), é revelador do talento admirável de colocar em palavras sentimentos que nem sempre sabemos pensar, falar, ouvir e, inevitavelmente, escrever. Quem sabe, escrever para ele seja o mais fácil, e por isso o tenha feito, não só como homenagem, mas como necessidade.
É sempre uma carga de nervos escrever sobre quem escreve tão bem. Porque nunca chega. Nunca presta. Nunca saberei exprimir como, em certas páginas, me senti a morrer um pouco, com descrições tão breves, mas pungentes, do que é acompanhar alguém que morre todos uns dias mais um bocado, que sofre num hospital, fazendo a família sangrar por dentro. Mas, ao mesmo tempo, surge a recordação do pai vivo e a felicidade da infância, contrapondo, de forma dura, a ausência numa casa que fica vazia.
Um livro intenso, por vezes violento, que se lê com um prazer imenso, como só se podem ler todos os livros excepcionalmente escritos.
“Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava. As várias sombras da sombra de mim, imóveis, passeavam-se de corpo para corpo, porque todos eles, todos meus, eram igualmente negros e frios. E abri a janela. Muito longe do luto do meu sentir, do meu ser, ser mesmo, o sol-pôr a estender-se na aurora breve solene da nossa casa fechada, pai. E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (Pág. 19)
“Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras.” (Pág. 20)
Fonte: http://planetamarcia.blogs.sapo.pt/morreste-me-jose-luis-peixoto-680078

Alguns excertos

É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste. Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és. 
 
Pai. A tarde dissolve-se sobre a terra, sobre a nossa casa. O céu desfia um sopro quieto nos rostos. Acende-se a lua. Translúcida, adormece um sono cálido nos olhares. Anoitece devagar. Dizia nunca esquecerei, e lembro-me. Anoitecia devagar e, a esta hora, nesta altura do ano, desenrolavas a mangueira com todos os preceitos e, seguindo regras certas, regavas as árvores e as flores do quintal; e tudo isso me ensinavas, tudo isso me explicavas. Anda cá ver, rapaz. E mostravas-me. Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei.
José Luís Peixoto, in 'Morreste-me'

José Luís Peixoto nasceu em Galveias, em 1974.
É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias, traduzidas num vasto número de idiomas, e é estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras.
Em 2001, acompanhando um imenso reconhecimento da crítica e do público, foi atribuído o Prémio Literário José Saramago ao romance Nenhum Olhar. Em 2007, Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha. Com Livro, venceu o prémio Libro d'Europa, atribuído em Itália ao melhor romance europeu publicado no ano anterior, e em 2016 recebeu, no Brasil, o Prémio Oeanos com Galveias. As suas obras foram ainda finalistas de prémios internacionais como o Femina (França), Impac Dublin (Irlanda) ou o Portugal Telecom (Brasil). Na poesia, o livro Gaveta de Papéis recebeu o Prémio Daniel Faria e A Criança em Ruínas recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Os seus romances estão traduzidos em mais de vinte idiomas.