quinta-feira, 1 de maio de 2025

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 29 de maio, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Não há pássaros aqui" de Victor Vidal.

Sinopse: Ana recebe um telefonema de uma vizinha da mãe informando que Andrea desapareceu na sequência de uma série de escândalos no bairro, entre os quais o suposto sequestro de uma criança. Apesar de ter jurado a si mesma que não voltaria à casa da mulher que lhe infligiu todo o tipo de violência, Ana não consegue ficar indiferente à situação; e o que encontra no apartamento é bastante intrigante: lixo por toda a parte, pegadas de lama, móveis destruídos, garrafas vazias amontoadas no caixote.

Enquanto se interroga sobre o que terá sido a vida de Andrea desde o dramático acontecimento que marcou as duas para sempre, Ana empreende uma dolorosa viagem às memórias da infância, que incluem não só uma mãe desequilibrada e alcoólica que tem um relacionamento conturbado com um homem perigoso, mas também um rapaz frágil que a faz cúmplice dos seus traumas e, por via das afinidades, se torna o seu único amigo. E, apesar de não se verem há muitos anos e de Ana o ter desiludido, é justamente a este amigo que resolve agora pedir ajuda.

Com personagens inesquecíveis e desconcertantes, Não Há Pássaros Aqui é uma reflexão madura sobre o modo como aquilo que vivemos na infância determina a nossa vida adulta e como tendemos a reproduzir comportamentos a que assistimos, mesmo quando friamente os condenamos.

Num tempo em que a saúde mental é um problema à escala global, este é um romance de estreia profundamente atual que venceu o Prémio LeYa em 2023

Quem é Victor Vidal?


Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil. É historiador da arte e doutor em Estudos Críticos das Artes. Publicou diversos textos sobre arte japonesa e trabalhou no setor educativo de museus e centros culturais. A atividade literária sempre esteve presente na sua trajetória, mas levou algum tempo até desenvolver algo que considerasse importante ou maduro o suficiente para mostrar a outras pessoas. Começou a trabalhar em Não Há Pássaros Aqui enquanto ainda estava na carreira docente, a partir de uma ideia que teve após conhecer a casa em que Anne Frank se escondeu com a família durante a Segunda Guerra Mundial. O local instigou-o a pensar sobre traumas de infância e esconderijos. Relações entre pais e filhos, solidão e trauma são temas que o interessam e fazem parte da sua produção literária.

 

 

 


CLUBE DE LEITURA ABRIL 2025

No passado dia 24 de abril, pelas 21h00, decorreu a sessão de abril do Clube de Leitura para análise e discussão da obra "Nós matámos o cão-tinhoso" do moçambicano Luis Bernardo Honwana (1942-)

Volvidos 50 anos sobre a Independência de Moçambique, o Clube de Leitura abordou em abril uma obra que relembra os malefícios do império colonialista português.

Nós Matámos o Cão-Tinhoso é uma coletânea de sete contos publicada em 1964, quando o autor tinha apenas 22 anos. Trata-se de uma obra marcante da literatura moçambicana, que se destaca pela força temática e simbólica, apesar da linguagem simples.

Através de uma escrita acessível, o autor transmite emoções intensas e expõe, de forma crítica e simbólica, temas como o racismo, a desigualdade social, o abuso sexual, a violência do regime colonial português, a desumanização e a perda da inocência.

Entre os contos que compõem a obra, destaca-se aquele que lhe dá o título. Narrado por uma criança, relata a história de um cão doente, rejeitado e condenado, que simboliza os oprimidos do sistema colonial. As crianças, por sua vez, incitadas por figuras de autoridade, representam a forma como a violência e a opressão são perpetuadas através da educação e da interiorização de valores discriminatórios. O contraste entre a pureza dos sentimentos infantis e a brutalidade do contexto social e político é particularmente marcante.

Outro conto relevante é Dina, que denuncia o abuso sexual de mulheres negras por parte de colonizadores brancos. Através da descrição de uma cena de violação, o conto expõe a raiva contida dos trabalhadores agrícolas, que, apesar da revolta, permanecem submissos ou são condenados a um fim trágico.

Todos os contos constituem um testemunho poderoso do ambiente de miséria, opressão e exclusão vivido em Moçambique durante o período colonial. Esta obra teve um impacto significativo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica essencial aos movimentos de libertação das colónias.

O autor, que apoiou ativamente a luta pela independência, foi preso em 1964. Em 1969, em pleno contexto colonial e com a guerra em curso, Nós Matámos o Cão-Tinhoso foi publicado em língua inglesa, alcançando grande divulgação e reconhecimento internacional. Após a independência de Moçambique, o autor assumiu vários cargos políticos, tendo chegado a ser Ministro da Cultura.