sexta-feira, 30 de novembro de 2018

CLUBE DE LEITURA - DEZEMBRO






Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

Livro indicado: "Um muro no meio do caminho" de Julieta Monginho (n. 1958)

Data: 18 dezembro, 20h00 às 22h00 

Sinopse:Trazem o que lhes restou: um caderno, um brinco, fotografias, a t-shirt do filho que morreu, um bebé a crescer na barriga, o barulho do seu quarto a ruir. Atravessado o mar, ergue-se o obstáculo inesperado: o muro construído pela hostilidade, esquecida dos que sucumbiram sem refúgio em território europeu, há menos de um século. À porta do muro alastram os campos de refugiados - chão de pedras, ratos, tendas fustigadas pelo sol, pela neve, pelas quezílias.

De todo o mundo acorrem os que ajudam. Levam as mãos para amparar, mimar, oferecer e cozinhar, os olhos para ver e entender.

As histórias são mais que mil e uma. A de Amina e Omid, os fugitivos, a de Dimitris, o grego cercado pelos seus próprios muros, as de Ann e Saud, Juan e Eleni. Vidas suspensas, à beira do muro, à porta da Europa. 


Julieta Monginho nasceu em Lisboa, em 1958. É escritora, magistrada do Ministério Público na jurisdição de família e crianças e formadora, colaborando com o Centro de Estudos Judiciários.
Em 1996 publicou o primeiro romance, Juízo Perfeito. Seguiram-se A Paixão Segundo os Infiéis (1998), À Tua Espera (Prémio Máxima de Literatura, 2000), Dicionário dos Livros Sensíveis (2000), Onde Está J? (2002) e A Construção da Noite (2005). Em 2008, o seu livro A Terceira Mãe foi galardoado com o Grande Prémio de Romance e Novela da APE/DGLB.
No ano de 2012 publica Metade Maior (finalista dos Prémios Fernando Namora e Correntes d'Escritas) e, em 2015, Os Filhos de K. (finalista dos Prémios Fernando Namora e Pen Club)

Saiba Mais em:






 

 

CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO



Decorreu ontem, 29 de novembro, pelas 21h00, mais uma animada sessão do Clube de Leitura.
A obra escolhida para nos fazer companhia neste tempo outonal  foi "A ronda da noite", de Agustina Bessa-Luís, deveu-se à homenagem feita à escritora há cerca de dois anos na Feira do Livro, no Porto e também por ter sido a última publicada (2006), pouco tempo antes de sofrer um AVC.
O centro da narrativa é toda uma geração da família Nabasco, focada essencialmente em Martinho Nabasco, personagem principal deste último romance da autora, no período entre o fim da ditadura e o 25 de Abril e, também, a magia de um lugar, que é o Douro profundo, bem presente em quase todas as suas obras.
Um romance com algumas características autobiográficas, que estabelece um paralelismo entre a literatura e a arte, faz referências constantes à literatura e arte universais, com uma fluência incrivelmente natural. No entanto, definitivamente, não foi consensual entre todos os membros que seja mesmo assim. Para alguns entendidos é muito forçado, exagerado e desnecessário.
A obra de Rembrandt, "masterpiece" do pintor, é o mote para Agustina estabelecer um paralelismo entre as personagens retratadas na pintura e as personagens ao longo de todo o romance. Como Mega Ferreira refere no prefácio, "Tudo o que está no romance está também no quadro".
Agustina vai-nos revelando a cada instante a sua vastíssima  cultura, sabedoria estrutural, recheada de ensinamentos, pontuada de ironia sarcástica, um humor constante, por vezes desconcertante e em alguns momentos hilariantes, como aquela parte em que a criada Josefa, maníaca de limpezas, aproveitando a ausência de Martinho resolve limpar o quadro porque o acha muito escurecido, acabando por destruir a pintura em que todos se centravam.
O quadro funcionava como um oráculo, a que todas as personagens recorrem procurando  cada um constatar a vida vazia, desnorteada, frustrada, previamente planeada e manipulada pela matriarca da família. As relações familiares pouco estáveis estão retratadas magistralmente, tal como é referido no prefácio António Mega Ferreira "todas as famílias felizes se assemelham" segundo uma citação de Tostói, nas primeiras páginas de Ana Karenina.
Assim, segundo o ensaio de Álvaro Manuel Machado há "uma espécie de movimento circular da narrativa, Agustina volta no final à sua obsessiva relação entre os enigmas da História e da arte, por um lado e os enigmas do ser humano, por outro lado cultivando-os genialmente".

Em diversas críticas da imprensa destaco esta de Pedro Mexia, no Diário de Notícias, "A Ronda da Noite é um texto imensamente subtil, mais uma história sobre famílias nortenhas abastadas que é um ensaio sobre a criação e os costumes, sobre a civilização e os instintos. [...] este livro é essencialmente um romance de ideias. Ideias sobre uma classe e um tempo, por um lado, e ideias sobre o desejo, por outro. [...] Ao mesmo tempo, este é um dos romances mais libidinais de Agustina [...] um romance sobre a mortalidade que respira imortalidade.! "
Em resumo, desta vez, estivemos na companhia de uma grande senhora, que, com a sua vastíssima obra, se tornou fonte de inspiração para o cineasta Manoel de Oliveira, não tendo deixado de escrever  alguns guiões para os seus filmes. 
Não podemos deixar de fazer referência que algumas citações preciosas do universo feminino de Agustina quando cita, "a sabedoria das mulheres dá para arrasar montanhas" ou "com a curiosidade fazem-se mais coisas do que com a inteligência".
E a curiosidade que nos suscitou a sua obra transportou-nos ao Douro, às relações familiares, a uma obra de arte de referência universal, à literatura... e mais uma vez ao prazer da leitura.

Gratas pela escolha!