terça-feira, 3 de junho de 2025

CLUBE DE LEITURA - JUNHO 2025

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 26 de junho, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Coração, cabeça e estômago" de Camilo Castelo Branco.


Sinopse: «Autobiografia amorosa de Silvestre da Silva, ou o caminho em direção a Tomásia com passagem por órfãs, viúvas, a mulher que o mundo respeita, a mulher que o mundo despreza… Uma experimentação pioneira na irrisão do sentimentalismo a partir de dentro. E também de fora, claro.»
Abel Barros Baptista

Coração, Cabeça e Estômago é um dos romances mais aclamados de Camilo Castelo Branco.


Quem é Camilo Castelo Branco?

Nasceu em 1825, em Lisboa, e faleceu em 1890, em S. Miguel de Seide (Famalicão). Com uma breve passagem pelo curso de Medicina, estreia-se nas letras em 1845 e em 1851 publica o seu primeiro romance, Anátema. Em 1860, na sequência de um processo de adultério desencadeado pelo marido de Ana Plácido, com quem mantinha um relacionamento amoroso desde 1856, Camilo e Ana Plácido são presos, acabando absolvidos no ano seguinte por D. Pedro V. Entre 1862 e 1863, Camilo publica onze novelas e romances, atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Tornou-se o primeiro escritor profissional em Portugal, dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular a partir da observação da sociedade, com inclinação para a intriga e análise passionais. Considerado o expoente do romantismo em Portugal, autor de obras centrais na história da literatura nacional, como Amor de PerdiçãoA Queda dum Anjo e Eusébio Macário, Camilo Castelo Branco, cego e impossibilitado de escrever, suicidou-se com um tiro de revólver a 1 de Junho de 1890.

CLUBE DE LEITURA - MAIO 2025

Na passada quinta-feira, dia 29 de maio, pelas 21h00 decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura, para análise e discussão da obra "Não há pássaros aqui" do jovem escritor brasileiro, Victor Vidal e Prémio Leya 2023.

Esta obra teve como fonte de inspiração uma visita à casa de Anne Frank e da sua família durante a Segunda Guerra Mundial, em Amsterdão, levando o autor a refletir sobre os traumas de infância e a necessidade de esconderijos físicos e emocionais.

Trata-se de uma história de violência, com uma análise psicológica precisa, onde não faltam relações familiares complexas, alcoolismo associado que levam à solidão e deixam cicatrizes visíveis.

Há também algum suspense criado à volta do trauma de Ana, pelo que se passou certa noite: “Eu sou uma criança maligna”.

Exagero? A realidade não é assim?

É realidade pura.

A personagem principal Ana, em crescimento, é filha de um silêncio, mas um silêncio que grita. Cresceu sem conhecer o pai, entre garrafas vazias, maus tratos e abandono. Aprendeu a andar sem fazer barulho, tendo também sido vítima de abuso sexual.

A sua vida são escombros, um deserto de amor. Acaba por matar o homem para defender a mãe. Na sua casa de infância não há pássaros, não há felicidade, nem esperança, nem forma de fugir à desgraça.

Ana enquanto adulta acaba por conseguir afastar-se fisicamente da mãe a quem até trata pelo seu nome próprio.

Assim, apresenta alguns comportamentos degradantes de caráter patológico, de autodestruição (automutilação), inclusive, encontros ocasionais de índole sexual com desconhecidos, destruição de uma obra de arte de valor estimativo para o seu melhor amigo, etc.

Predominam sentimentos de raiva, medo, e simultaneamente de brutalidade para com as pessoas e um crescente desejo de suicídio no final, apesar de esta ação ficar um pouco em aberto para os leitores. Mas, não poderia ser diferente, porque a sua vida continuou e sem pássaros era terrível.

Em resumo, todas as personagens além de Ana, a mãe – Andrea, Tomás, Benjamim, revelam os seus traumas de infância e o quanto isso lhes causou desequilíbrios que permanecem ainda durante a vida adulta.

O autor, nesta obra propõe uma “reflexão madura sobre o modo como aquilo que vivemos na infância determina a nossa vida adulta, e como tendemos a reproduzir comportamentos a que assistimos, mesmo quando friamente os condenamos”.

As metáforas implícitas na obra, como por exemplo, a do fogo, simboliza o rompimento com o passado aterrador e a metáfora dos pássaros representa uma esperança de dias bons.

Segundo a farmácia literária da Bertrand, esta obra está indicada para encarar o lado mais sombrio do comportamento humano; purgar traumas de infância relativos a famílias disfuncionais, tóxicas, negligentes, violentas e abusivas; sentir-se amparado, no reviver de memórias dolorosas e subsequentes, quadros de ressentimento e amargura, vergonha e solidão; treino de empatia e de compaixão.

Efeitos secundários:

Possíveis sentimentos de desconforto, angústia, aversão, tristeza e desesperança; maior sensibilidade à vulnerabilidade dos outros; refrear a tentação de julgar/condenar liminarmente os outros,  necessidade de focar-se na beleza das pequenas coisas, na redenção pela amizade e pelo amor, busca de alegria e leveza.

Posologia: ler ao ritmo.

Ana Paula Oliveira