quarta-feira, 5 de novembro de 2025

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO 2025

Na passada quinta-feira, dia 30 de outubro, pelas 21h00, decorreu a sessão mensal do Clube para a abordagem e discussão da obra "Siddhartha" do romancista e poeta alemão Herman Hesse (1877-1961), Prémio Nobel da Literatura em 1946.

A obra escolhida para a comemoração dos 13º aniversário do Clube de Leitura, não poderia ter sido a mais apropriada, porque se trata da história de uma demanda de um jovem, em busca do seu caminho em que o mais importante não é o ponto de chegada, mas o percurso realizado para o alcançar.

Assim, segundo o próprio Herman Hesse, este poema indiano, resultou de uma sua estadia em 1911, durante quatro meses, na Índia, que, se por um lado o teria desiludido, em contrapartida, constituiu uma motivação para o estudo das religiões orientais. É, na verdade, um romance largamente influenciado pelas culturas hindu e chinesa.

O autor começa por recriar a fase inicial da vida de Buda (563 a.C.), contando-nos a vida de um filho de um Bramane, (sacerdote da mais alta casta da sociedade hindu) que se revolta contra os ensinamentos e tradições do seu pai, até encontrar a iluminação espiritual. A tradução para inglês desta obra nos anos 50 marcou definitivamente a Geração Beat norte americana e influenciou movimentos posteriores, como o movimento hippie e a contracultura dos anos 1960. Os seus ideiais de liberdade, igualdade e busca espiritual ainda inspiram a arte e literatura contemporâneas.

O romance é rico em metáforas e imagens e na sua peregrinação, Siddhartha depara-se com personagens, conhece diversos aspetos da vida, desde o ascetismo, à paixão, ao jogo, ao comércio,  num crescimento interior, até à iluminação final e união com o Absoluto.

Todas as dúvidas existenciais expressas na obra são as mesmas do homem da atualidade, por isso, esta continua a fascinar e inspirar os jovens, que se deparam com temas próximos dos seus interesses, como a busca uma postura na vida de equilíbrio, serenidade, harmonia interior neste mundo, demasiado focado no materialismo e consumismo e nas inovações tecnológicas que se por um lado nos vêm ajudar em muitas tarefas, nos obrigam cada vez mais a uma reflexão e uma procura do que realmente é importante.

Siddhartha é para ler, reler e refletir. "É talvez a obra mais importante e convincente alegoria moral que o nosso conturbado século passado produziu. Integrando tradições espirituais orientais e ocidentais com psicanálise e filosofia, este simples conto, escrito com uma profunda e comovente empatia pela humanidade, tocou a vida de milhões desde a sua publicação original em 1922." Ralph Freedman

Obrigada pelo 13º aniversário do CL, pelas rosas amarelas, o delicioso bolo e o champanhe.








sábado, 27 de setembro de 2025

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO 2025

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 30 de outubro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Siddhartha" de Herman Hesse.


Sinopse: 
Siddhartha, filho de um brâmane, nasceu na Índia no século VI a.C. Passa a infância e a juventude isolado das misérias do mundo, gozando uma existência calma e contemplativa. A certa altura, porém, abdica da vida luxuosa, protegida, e parte em peregrinação pelo país, onde a pobreza e o sofrimento eram regra. Na sua longa viagem existencial, Siddhartha experimenta de tudo, usufruindo tanto as maravilhas do sexo, quanto o jejum absoluto. Entre os intensos prazeres e as privações extremas, termina por descobrir «o caminho do meio», libertando-se dos apelos dos sentidos e encontrando a paz interior. Em páginas de rara beleza, Siddhartha descreve sensações e impressões como raramente se consegue. Lê-lo é deixar-se fluir como o rio onde Siddhartha aprende que o importante é saber escutar com perfeição.

Quem é Herman Hesse?



PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 1946

Romancista e poeta alemão, Hermann Hesse nasceu em 1877 na pequena cidade de Calw, na orla da Floresta Negra e no estado de Wüttenberg. Como os pais depositavam esperanças no facto de Hermann Hesse poder vir a seguir a tradição familiar em teologia, enviaram-no para o seminário protestante de Maulbronn, em 1891, mas acabou por ser expulso. Passando a uma escola secular, o jovem Hermann tornou a revelar inadaptação, pelo que abandonou os seus estudos.
Hermann Hesse começou depois a trabalhar, primeiro como aprendiz de relojoeiro, como empregado de balcão numa livraria, como mecânico, e depois como livreiro em Tübingen, onde se teria juntado a uma tertúlia literária, "Le Petit Cénacle", que teria, não só grandemente fomentado a voracidade de leitura em Hesse, como também determinado a sua vocação para a escrita. Assim, em 1899, Hermann Hesse publicou os seus primeiros trabalhos, Romantischer Lieder Eine Stunde Hinter Mitternacht , volumes de poesia de juventude.
Depois da aparição de Peter Camenzind, em 1904, Hesse tornou-se escritor a tempo inteiro. Na obra, refletindo o ideal de Jean-Jacques Rousseau do regresso à Natureza, o protagonista resolve abandonar a grande cidade para viver como São Francisco de Assis. O livro obteve grande aceitação por parte do público.
Em 1911, e durante quatro meses, Hermann Hesse visitou a Índia, que o teria desiludido mas, em contrapartida, constituído uma motivação no estudo das religiões orientais. No ano seguinte, o escritor e a sua família assentaram arraiais na Suíça. Nesse período, não só a sua esposa começou a dar sinais de instabilidade mental, como um dos seus filhos adoeceu gravemente. No romance Rosshalde (1914), o autor explora a questão do casamento ser ou não conveniente para os artistas, fazendo, no fundo, uma introspeção dos seus problemas pessoais.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Hesse demonstrou ser desfavorável ao militarismo e ao nacionalismo que se faziam sentir na altura e, da sua residência na Suíça, procurou defender os interesses e a melhoria das condições dos prisioneiros de guerra, o que lhe valeu ser considerado pelos seus compatriotas como traidor.
Finda a guerra, Hesse publicou o seu primeiro grande romance de sucesso, Demian (1919). A obra, de caráter faustiano, refletia o crescente interesse do escritor pela psicanálise de Carl Jung, e foi louvada por Thomas Mann. Assinada nas primeiras edições com o nome do seu narrador, Emil Sinclair, Hesse acabaria por confessar a sua autoria. Deixando a sua família em 1919, Hermann Hesse mudou-se para o Sul da Suíça, para Montagnola, onde se dedicou à escrita de Siddharta (1922), romance largamente influenciado pelas culturas hindu e chinesa e que, recriando a fase inicial da vida de Buda, nos conta a vida de um filho de um Bramane que se revolta contra os ensinamentos e tradições do seu pai, até poder eventualmente encontrar a iluminação espiritual. A obra, traduzida para a língua inglesa nos anos 50, marcou definitivamente a geração Beat norte-americana.
1919 foi também o ano em que Hesse travou conhecimento com Ruth Wenger, filha da escritora suíça Lisa Wenger e bastante mais nova que o autor. O escritor renunciou à cidadania alemã, em 1923, optando pela suíça. Divorciando-se da sua primeira esposa, Maria Bernoulli, casou com Ruth Wenger em 1924, tendo o casamento durado apenas alguns meses. Dessa experiência teria resultado uma das suas obras mais importantes, Der Steppenwolf (1927). No romance, o protagonista Harry Haller confronta a sua crise de meia-idade com a escolha entre a vida da ação ou da contemplação, numa dualidade que acaba por caracterizar toda a estrutura da obra.
Em 1931 voltou a casar, desta feita com Ninon Doldin, de origem judaica. Com apenas quatorze anos, havia enviado, em 1909, uma carta a Hermann Hesse, e desde então a correspondência entre ambos não mais cessou. Conhecendo-se acidentalmente em 1926, foram viver juntos para a Casa Bodmer, estando Ninon separada do pintor B. F. Doldin, e a existência de Hesse ter-se-à tornado mais serena.
Durante o regime Nacional-Socialista, os livros de Hermann Hesse continuaram a ser publicados, tendo sido protegidos por uma circular secreta de Joseph Goebbels em 1937. Quando escreveu para o jornal pró-regime Frankfürter Zeitung, os refugiados judeus em França acusaram-no de apoiar os Nazis. Embora Hesse nunca se tivesse abertamente oposto ao regime Nacional-Socialista, procurou auxiliar os refugiados políticos. Em 1943 foi finalmente publicada a obra Das Glasperlernspiel, na qual Hesse tinha começado a trabalhar em 1931. Tendo enviado o manuscrito, em 1942, para Berlim, foi-lhe recusada a edição e o autor foi colocado na Lista Negra Nacional-Socialista. Não obstante, a obra valer-lhe-ia o prémio Nobel em 1946.
Após a atribuição do famoso galardão, Hesse não publicou mais nenhuma obra de calibre. Entre 1945 e 1962 escreveria cerca de meia centena de poemas e trinta e dois artigos para os jornais suíços.
A nove de agosto de 1962, Hermann Hesse veio a falecer, aos oitenta e cinco anos, durante o sono, vítima de uma hemorragia cerebral.


CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2025

Na passada quinta-feira, dia 25 de setembro, pelas 21h00, decorreu a sessão mensal do Clube para a abordagem e discussão da obra "Inquieta", de Susana Amaro Velho, terceiro romance da escritora depois de "As últimas linhas destas mãos" e "Bairro das Cruzes".

Trata-se de um romance psicológico muito intenso. A narrativa não é linear, pormenorizada, com avanços e recuos no tempo. A autora escolhe intervalos de dez anos para podermos acompanhar o percurso psicológico de Julieta, a personagem principal.

A escrita é fácil, corrida, cativante, talvez nas passagens de introspecção se torne mais lenta, revelando muita intimidade emocional, um livro que nos deixa a pensar, a refletir, a respirar mais rápido.

Há de tudo: abandono, paternidade incógnita, paixão doentia, insegurança, violência psicológica, obsessão pela maternidade, perdas, infidelidades, manipulação, fragilidade, mas também amizades puras.

Durante a leitura ficamos divididos entre o que parece ser uma realidade perfeita e um interior perturbado da Julieta (e com razão, já que ela era um "cemitério de memórias"), memórias de eventos passados traumáticos que a moldaram para sempre e dos quais não se consegue libertar nem com ajuda clínica. Essas memórias que a destroem e condicionam o presente e que estão sempre a ressuscitar.

Julieta é uma personagem marcada pela mãe e pelo Gustavo, que a destruiram, deixando-a com feridas abertas.

Podemos questionar se houve mesmo um aborto, um Jaime que seria a razão última para o fim do relacionamento.

Quando parecia que com o Zé, o seu novo amor, tudo se resolveria afinal, as memórias não lhe davam tréguas.

E como de facto o tratamento com as consultas não resultou, temos até ao fim um crescendo de um processo de autodestruição.

A autora usou uma mestria incrível para deixar o leitor completamente supreendido e "agarrado" até ao final, que se pensava horrível mas foi de superação. Fica a sensação de inquietude durante a narrativa e também no Gran Final, no qual nos é desvendado o mistério da doença mental da personagem e nos obriga a criar empatia com todas as Julietas que carregam tantos traumas que por vezes levam à loucura.










domingo, 7 de setembro de 2025

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2025

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 25 de setembro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Inquieta" de Susana Amaro Velho.


Sinopse: Poderá um amor de juventude inquietar uma vida inteira?


Julieta parece ter a vida perfeita. Aos trinta e sete anos tem um marido adorável que cozinha os melhores bolos. O emprego com que sempre sonhou e que a preenche. Uma casa cheia de luz e livros, onde a mesa está enfeitada com camélias. Então, por que motivo está agora sobre o varadim escorregadio de uma ponte, descalça e suja de sangue, prestes a saltar?

Afinal, nem tudo o que parece é. Quando um amor antigo regressa do passado, traumas são ressuscitados e uma proposta impensável desperta em Julieta um fantasma adormecido. Mas que proposta é essa que vem tornar a verdade perturbadora? E o que é a verdade quando a própria realidade a confunde?

Inquieta é um relato cru e intenso dos anseios e traumas de uma mulher. É a história de alguém incapaz de fugir do abismo da própria memória e de se sentir livre.

Quem é Susana Amaro Velho?


Nasceu em Mafra em março de 1986. Estudou Jornalismo e Solicitadoria e trabalha atualmente como 
freelancer na área da comunicação.

Publicou o seu primeiro romance em 2017. Em 2022, foi a primeira autora portuguesa a integrar a chancela Aurora, com Inquieta, onde também viria a reeditar Bairro das Cruzes. Participou no projeto coletivo O Sono Delas e, em 2024, publicou Descansos, distinguido pela revista NiT como Melhor Livro do Ano.
Vive numa aldeia, entre o sossego e o caos feliz de uma casa com três filhos pequenos. As Últimas Linhas Destas Mãos, o seu romance de estreia, é agora reeditado numa edição totalmente revista.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

CLUBE DE LEITURA - JULHO

Na passada quinta-feira, dia 31 de julho, pelas 21h00, decorreu a sessão mensal do Clube para a abordagem e discussão da obra " Os meus homens", de Victoria Kielland, romance revelação, que alcançou um sucesso internacional junto da crítica e dos leitores.

Foram-lhe atribuídos vários prémios como Stig Saeterbakken Memorial Award 2021, Doubloug Prize 2022 e Thorleif Dahal Prize 2022, sendo considerada a mais jovem autora a receber estes prémios.

Trata-se de um romance psicológico em que se acompanha a mente de uma mulher perturbada até ao seu colapso final numa Noruega, em finais do século XIX.

Este romance foi baseado numa história verídica de uma mulher que assassinou cerca de 40 pessoas.
Depois de um intenso caso amoroso que termina da pior forma, Brynhild, com dezassete anos emigra para os EUA em busca de uma nova vida, fortuna e fé verdadeira, mas acima de tudo um amor absoluto.
Essa procura obssessiva vai levá-la à violência e uma pulsão da morte.
A autora consegue transmitir a vida interior da personagem, de forma empática e do seu percurso até à loucura.
A narrativa apesar de ser construída em prosa, em algumas passagens remete-nos para a prosa poética de rara beleza literária, com "um estilo que é único na literatura norueguesa".















terça-feira, 8 de julho de 2025

CLUBE DE LEITURA - JULHO 2025

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 31 de julho, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Os meus homens" de Victoria Kielland (1985).

Sinopse: Nascida Brynhild Størset, em 1859, numa família modesta na Noruega, Belle Gunness, como ficou conhecida, partiu em busca do sonho americano no final do século XIX. Com o tempo, Belle tornou-se cada vez mais alienada, implacável e perversamente atraente, e terá assassinado mais de quarenta pessoas, a maioria homens.

É o seu incrível destino que está no centro deste romance: o de uma mulher cujas injustiças de classe, a busca pelo amor absoluto e a austeridade religiosa levam à loucura assassina. Da Chicago do final do século XIX a uma quinta em La Porte, no Indiana, Belle atrairá e depois matará os seus maridos, os próprios filhos, os rapazes da quinta e outros jovens escandinavos recém-chegados aos Estados Unidos, que ela seduz por meio de anúncios em jornais.

Neste romance cru, visceral e hipnótico, Victoria Kielland imagina a tumultuosa vida interior desta norueguesa que se tornou Belle Gunness - a primeira mulher assassina em série dos Estados Unidos. Escrito numa prosa de uma beleza selvagem, Os Meus Homens é um retrato radicalmente empático e inquietante de uma mulher consumida pelo desejo.

Os Meus Homens é um texto carnal e sombriamente poético que dá voz aos tormentos de Belle, ao seu apetite erótico, à sua necessidade insaciável de ser amada e ao peso da culpa luterana que a persegue neste novo país onde ela, como tantos outros, espera reinventar-se.

Quem é Victoria Kielland?

É uma das vozes mais originais da literatura norueguesa da sua geração.
Estreou-se com o volume de contos I Lyngen (2013), finalista do prémio Tarjei Vesaas, e o seu primeiro romance, Dammyr (2016), foi finalista do Youth Critics’ PrizeOs Meus Homens (2021), o seu segundo romance, foi galardoado com o Stig Sæterbakken Memorial Award, com o Thorleif Dahl Prize e o The Dobloug Prize.
No Festival Norueguês de Literatura, em Lillehammer, em junho de 2022, na entrega do prestigiado Doubloug Prize, o júri disse da mais jovem autora a receber este prémio: «Victoria Kielland tem uma maneira muito física de se expressar, um estilo que é único na literatura contemporânea norueguesa.»
Os Meus Homens é o romance revelação da autora, tendo alcançado sucesso internacional junto da crítica e dos leitores.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

CLUBE DE LEITURA - JUNHO 2025

Na passada quinta-feira, dia 26 de junho, pelas 21h00 decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura, para análise e discussão da obra "Cabeça, coração e estômago" de Camilo Castelo Branco, obra publicada postumamente em 1962.

Em 1859, o romance entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido torna-se do conhecimento público no Porto, levando ambos à prisão. Camilo tinha então 34 anos. Este episódio marca o início de um período particularmente fértil na sua produção literária, durante o qual escreve várias obras, entre elas Coração, Cabeça e Estômago.

O romance tem como protagonista Silvestre da Silva, que, após a sua morte, deixa uma autobiografia ao seu editor (Camilo Castelo Branco) na esperança de que este a publique para saldar as dívidas que deixou por pagar.

 A obra está dividida em três partes, cada uma representando uma fase distinta da vida do protagonista:

Coração

Passada em Lisboa, esta parte acompanha a juventude de Silvestre da Silva, marcada por pelas emoções, pelo coração, tendo vários amores fugazes e superficiais, que acabam invariavelmente em desilusão. Entre as suas paixões contam-se: uma vizinha órfã, uma vizinha de nome desconhecido, uma quarentona que gere uma hospedaria, Clotilde (uma mulher casada), uma viúva proprietária de um hotel, uma mulata e Elisa de La Salete.

Cabeça

Decorrida na cidade do Porto, esta fase corresponde à idade adulta de Silvestre e a uma tentativa de vida mais racional e responsável. Valoriza a carreira, colabora com o Periódico dos Pobres e procura casar com uma mulher rica e séria. Uma tentativa que acaba por falhar. Acaba acusado e condenado por calúnia, agravando a sua frágil situação financeira. Apesar disso, começa aqui a alimentar ambições políticas.

 Estômago

A terceira e última parte decorre na província, entre Soutelo e Carrazedo de Montenegro. Marca o início de uma vida mais tranquila e serena, centrada no prazer da boa mesa. Já mais velho, Silvestre casa-se com Tomásia, que o trata bem, e instala-se na casa do sogro. A sua principal preocupação passa a ser o bem-estar físico e o prazer gastronómico.

Convida o editor a passar uma temporada em sua casa. Este, crítico do desprendimento intelectual do protagonista, acusa-o de se ter “entorpecido”. Silvestre responde com a frase: “Brutaliza-te, faz-te estômago”, numa tentativa de convencer o amigo a render-se aos prazeres da gula.

É nomeado regedor, o seu primeiro sucesso político, mas acaba acusado de abuso de poder em benefício próprio, numa crítica evidente à classe política.

Morre provavelmente em consequência dos excessos alimentares e da negligência com a própria saúde. Deixa os seus escritos ao editor, que os publica, que não parece muito convencido do talento do amigo e autor.

A obra é uma crítica à sociedade da época, destacando a devassidão, a hipocrisia, a duplicidade e decadência moral, visando várias classes, como os ricos, políticos e o clero.

A linguagem utilizada na obra é algo complexa, com muitas expressões e frases da época em que o texto foi escrito, bem como várias palavras desconhecidas para os leitores atuais, o que dificulta uma leitura fluída e clara.