sexta-feira, 1 de outubro de 2021

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO

A sessão do Clube de Leitura de ontem decorreu animada com a análise e discussão da obra “Bonjour tristesse” de Françoise Sagan (1935-2004).

Este seu primeiro romance gerou um escândalo mundial, transformando-se rapidamente num best-seller, vendendo milhões de exemplares. O lançamento da edição americana em 1955 ampliou internacionalmente o sucesso do romance, que adquiriu um renome ainda maior ao ser adaptado para o cinema em 1957 pelo realizador Otto Preminger, com atores Deborah Kerr, David Niven e Jean Seberg nos principais papéis.

A sua prosa contida, seca e austera faz lembrar a dos maiores nomes da literatura francesa. No entanto, dentro dos limites da forma clássica, Françoise Sagan expressa um amoralismo e um tédio precoce em relação a um mundo com que muitos dos seus leitores se identificaram. Fortemente influenciada pelas primeiras obras de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Sagan criou personagens cujas vidas são marcadas pela solidão, por um sentido agudo da passagem do tempo e especialmente pelo tédio. A sua ocupação principal é a busca do prazer, mas são continuamente dececionadas pelo carácter efémero de todos os prazeres, de todas as relações humanas. Evitando qualquer tipo de grandiloquência, Françoise Sagan apresenta em Bonjour Tristesse uma visão da realidade que é fundamentalmente crua e descomprometida.

Em 1953, aos 18 anos de idade, a jovem que viria a ser conhecida como Françoise Sagan foi reprovada em exames prestados na Sorbonne, em Paris. Durante as férias de Verão daquele ano, refazendo-se da frustração, passou várias semanas a escrever o seu primeiro romance, Bonjour Tristesse, publicado em 1954.

O livro fez um sucesso extraordinário, e a autora, cercada de enorme publicidade, transformou-se em uma espécie de porta-voz de uma geração entediada e desiludida de jovens franceses do pós-guerra. O livro, de facto, embora tenha a sua trama situada na Riviera francesa, ecoa o estado de espírito das caves parisienses, onde se praticava o «comportamento existencialista».

A obra destacou-se pela análise psicológica das relações amorosas, da solidão e da forma de reverte-la. Está implícita a defesa de uma total liberdade individual,  inclusivamente da feminina, do hedonismo, o charme dos carros velozes, a vida social intensa e boémia e a influência de correntes filosóficas da época. Tudo isto num contexto de pós-guerra causou escândalo, assim como a agitada vida da autora contribuíram para que o seu primeiro romance fosse considerado um mau exemplo para a juventude e fosse apelidada de "charmant petit monstre".

De leitura rápida, agradável, linguagem acessível, musical e direta, sem grandes sofisticações, num estilo claro, contém todos os elementos para a construção de um drama. A narrativa é hábil, rica, fantástica, bastante visual, pontuada por opiniões, sentimentos e aforismos, que é surpreendente, porque a autora é demasiado jovem para tanto conhecimento sobre a alma humana.

A sua paixão pela velocidade desmedida e pelo álcool, os sucessivos tratamentos de desintoxicação a que foi submetida e a sua dependência pelo jogo levaram-na praticamente à ruína. A partir de 1990, o seu nome foi, por várias vezes, envolvido em escândalos relacionados com uso e posse de droga e, em 2002, apareceu implicado numa fraude fiscal ligada à companhia petrolífera ELF Aquitaine.

O título Bonjour tristesse foi inspirado num poema de Paul Eluard

 

Adieu tristesse

Bonjour tristesse

Tu es inscrite dans les lignes du plafond

Tu es inscrite dans les yeux que j’aime

Tu n’es pas tout à fait la misère

Car les lèvres le plus pauvres te dénoncent

Par un sourire

Bonjour tristesse

Amour des corps aimables

Puissance de l’amour

Dont l’amabilité surgit

Comme un monstre sans corps

Tête désappointée

Tristesse beau visage

 

Paul Eluard, La vie immédiate, 

 

 



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