domingo, 30 de julho de 2023

CLUBE DE LEITURA DE JULHO 2023

Na passada 5ª feira, dia 27 de julho, pelas 21h00, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura. para a análise e discussão da obra "A gorda" Isabela Figueiredo publicada em 2016.

“Comprei o livro há já uns anos, sem saber nada sobre ele, sem conhecer a autora.  Penso que foi o título que me chamou a atenção. E a primeira frase, bombástica, também: “Quarenta quilos é muito peso.”

Como provavelmente acontecerá com toda a gente, logo pensei tratar-se de um romance sobre obesidade, transtornos alimentares ou algo do género. Desengane-se o leitor! A obesidade da narradora não é o foco do romance, embora seja um fator que o faz acontecer, pois é uma condicionante da sua vida, um obstáculo ao seu grande amor. Será, sobretudo, um pretexto para a narrativa de tantos acontecimentos, tantas problemáticas, tantos estados de espírito.

Seguir a vida de Maria Luísa, a narradora e protagonista, nascida em Moçambique e enviada pelos pais para Portugal em 1975, é entrar num mundo de conflitos psicológicos e de luta contra os estereótipos da sociedade. Luísa não encaixa nesta sociedade, nem na sua família, nem no seu próprio corpo: “O corpo não para de crescer. As mamas não cabem no sutiã. Sobram apertadas no peito e junto às axilas. Pesam. Preciso de outro, mas não tenho como o adquirir. A anca, o rabo e as coxas alargam. As cuecas demasiado pequenas apertam-me as virilhas, deixando marcas fundas, arroxeadas. Tenho o corpo destravado e cheio de fome.” (pág. 152)

A história da sua vida (e a dos seus pais, retornados de Moçambique após o 25 de abril de 1974) conduz o leitor numa viagem pela política, pela sociedade, pela música, pela televisão de um passado recente, num vaivém constante entre tempos que alternam o foi com o é, o que faz despertar nos leitores nascidos nos anos 60, memórias de tempos vividos e, provavelmente, já esquecidos.

Maria Luísa vive uma vida amorosa que perturba o leitor. São muitos os desejos, muitas as frustrações, muitos os dilemas o que a faz viver em constantes contradições. E a sua forma nua e crua de se expor pode chocar almas mais sensíveis. Mas é isto que faz deste romance um romance poderoso.

A técnica narrativa usada, sequências narrativas alternadas em que o passado antigo, o passado recente e o presente se confundem, obriga o leitor a estar atento e a envolver-se na história. Da mesma forma, a divisão do romance em capítulos com o nome das divisões da casa convidam-no a desenhar, mentalmente, a arquitetura da casa e a descobri-la: o leitor entra pela “porta de entrada”, o primeiro capítulo, e explora-a até ao "hall" (o último capítulo) que tanto recebe como deixa sair os convidados.

À tendência de o leitor associar a narradora à autora e crer que a vida de uma é a vida da outra, Isabela Figueiredo responde à pergunta, feita pelo jornal Público: o que é que distingue Isabela de Maria Luísa? “Essa é a pergunta à qual nunca irei responder. Se estivesse lá inteira, seria o caos. Quero prender o leitor, obrigá-lo a amar-me e sirvo-me de todos os estratagemas. A literatura é o privado e o íntimo, o autêntico, mas posso construir camadas sobre a autobiografia.” Montar uma narrativa, mesmo usando a experiência autobiográfica, não deixa de ser um trabalho ficcional, e Isabela fala de um leitor que numa sessão de apresentação do livro elogiou a sua coragem em revelar um episódio que, diz ela, não foi vivido por si: “Adorei e assumi. É tudo verdade e é tudo ficção. Uso a minha vida para construir outra vida. Estou aqui, este é o meu corpo e o meu corpo está aqui para tudo, amem-me, dêem-me pancada, façam o que quiserem.  Estou aqui para fazer barulho.” 

in, https://www.publico.pt/2016/11/25/culturaipsilon/noticia/fat-power-1751917 [consultado em 29-07-2023]

Concluindo, A gorda é um romance muito bem escrito, com uma narrativa escrita de forma original, poderosa e marcante. Li-o quando o comprei e reli-o, agora, por ter sido o livro de julho do Clube de Leitura da BM de S. João da Madeira. Das duas vezes, fiquei fã da autora.”


Ana Paula Oliveira








Leitura da BM de S. João da Madeira. Das duas vezes, fiquei fã da autora.”


 


 

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