domingo, 27 de novembro de 2022

CLUBE DE LEITURA NOVEMBRO

Na passada quinta-feira, dia 24 de novembro, pelas 21h00, decorreu a sessão do Clube de Leitura para a abordagem e discussão da obra "As maravilhas" de Elena Medel.

Trata-se de uma obra publicada recentemente, à qual desde logo lhe foi atribuído o Prémio Francisco Umbral, como melhor livro do ano de 2020 e foi vendido em mais de doze países. Tem sido também muito elogiado por alguns escritores portugueses como José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe.

Elena Medel normalmente escreve poesia, mas fez uma pausa e estreou-se na prosa com este romance que “olha para as pessoas e para a história com uma nitidez avassaladora. Entre o que há de melhor na literatura contemporânea" segundo José Luís Peixoto. Valter Hugo Mãe refere que é uma das suas escritoras favoritas de toda a Espanha, com uma escrita "inteligentíssima e surpreendente" e de grande "lucidez poética".

Este romance é sobre o dinheiro e a falta dele, a sorte e o azar e também sobre as circunstâncias do nascimento. Constituído por onze fragmentos, a partir da intimidade de duas mulheres, atravessa a história de Espanha desde meados do século XX até 2018. A ditadura, a morte de Franco, a transição para a democracia, a eleição de Filipe González em 1992, a entrada na União Europeia, a crise económica, o extremar de movimentos políticos. A narrativa não segue uma linha cronológica, começa em 2018 e fecha em 2018, manhã e noite do mesmo dia.

O romance intercala capítulos entre o passado e presente de Maria e Alícia, entre suas vidas em Córdoba e em Madrid: de 1969 a 2018, de 1975 a 1984 ou de 1998 a 2015, por exemplo. Enquanto constrói a trajetória de cada mulher, a autora também faz um importante retrato do movimento feminista espanhol ao longo de cinco décadas. Medel expõe as condições de trabalho e as relações de abuso de poder, entre mulheres e homens – de chefes e maridos. Especialmente nos momentos em que acompanhamos Maria, vemos uma sensível construção da consciência política da personagem, a partir de leituras e do convívio com outras mulheres, que se reuniam para tratar de asssuntos que pouco importavam aos seus companheiros, “divórcio, aborto, violência, não física, mas verbal”. Elena Medel diz, também, do silenciamento imposto ao feminino : “Quando Pedro reproduz suas ideias – não as próprias, mas as que ela compartilha com ele – na roda de amigos e nota como são recebidas com respeito. Maria sente orgulho”.

A temática é sobre a precaridade laboral, económica, também emocional, dos cuidados da maternidade, da família, assim como fala do género, da classe social, do momento, da história, da geografia, de traumas familiares, etc.

Este comovente romance torna-se um importante instrumento de reflexão sobre esta realidade que teima em prolongar-se no tempo.













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