Leitura indicada: "O Deus das Moscas" de William Golding
Destinatários: público em geral
Data: 29 de Junho de 2016
Horário: 21h00 às 22h00
Sinopse:
Da inocência à barbárie - este o dilema que é a tese de O Deus dos Moscas, de William Golding, Prémio Nobel (1983), romancista inglês considerado como um dos maiores vultos da literatura do seu país. A Problemática abordada na obra de Golding (vários romances e ensaios) é a do nosso tempo e reflecte, numa visão nova e original, os matizes de um dilaceramento interior, decorrente da inadequação a estruturas mentais sub-repticiamente minadas pelas vicissitudes da conjuntura histórica. Ora essa problemática atinge o cume em O Deus das Moscas, obra que_ pela contenção e limpidez de escrita, se aproxima (segundo críticos internacionais) da tragédia grega. Através de um grupo de jovens, abandonados numa ilha deserta, o romancista britânico dá-nos a crise de valores vinda directamente dos resquícios da ll Grande Guerra (conflito em que o escritor participou). Um romance sempre actual, pois que se adapta inclusive a confrontos que ainda ocorrem na actualidade. Daí, por consequência, a sua perenidade, a par de unia lição de estética no âmbito da literatura, unicamente comparável, entre outros, a Camus e Sartre.
Análises
Muitos interpretaram "O Senhor das Moscas " como um trabalho de filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim de Éden. Assim, a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal surge no livro de Génesis.Um dos principais temas do livro é a natureza do Mal. Isto pode ser claramente visto na conversa que Simon mantém com o crânio do porco, que se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem bíblico.
Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na sociedade.
- Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos.
- Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona controlar a todos na ilha.
- Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
- O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
- Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu comportamento imita o dos cães.
- O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
- Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
- Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
- A concha representa ordem e democracia na ilha.
- Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade
- Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão impopular a verdade possa ser
- Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
- A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
- O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando usado de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo
- O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos.
William Golding nasceu em Inglaterra, no dia 19 de setembro de 1911, precisamente na cidade de Santus Columb Minor e morreu a 19 de junho de 1993, em Perranarworthal, por insuficiência cardíaca.
Filho de um professor, estudou ciências naturais em Oxford e serviu na marinha britânica, na Segunda Guerra Mundial. Sobre essa experiência, diria: "Qualquer
pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem
entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega
ou louca".
Recebeu o Prémio Nobel da Literatura de 1983.