Com uma periodicidade
mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer
da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente
escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre
quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura
ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.
Livro indicado: "UMA CANA DE PESCA
PARA O MEU AVÔ" DE GAO XINGJIAN
Data: 28 fevereiro, 21h00 às 22h00
Sinopse: Recordações de infância,
as alegrias simples do amor e da amizade, a terra natal e os seus lugares
familiares, mas também os dramas da rua ou as tragédias vividas pela China, são
estes os temas destes seis contos escolhidos pelo autor.
Com um imenso talento, Gao Xingjian brinca com estas imagens e com a sua escrita, leva-nos, como se nada fosse, a entrar nos seus sonhos mais íntimos - quer sejam os do rapazinho que se tronou adulto, de um jovem recém-casado perdido de amor ou de um nadador em risco de vida... Sorrisos e lágrimas atravessam esta leitura, que nos deixa o belo e suave sabor da emoção.
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 3º ciclo, destinado a leitura autónoma.
GAO XINGJIAN - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA
2000
Escritor, dramaturgo, crítico e pintor chinês, Gao Xingjian nasceu a 4 de janeiro de 1940, em Ganzhu, na China.
Tirou o curso de francês no Instituto de Línguas Estrangeiras em Pequim, tendo traduzido para chinês várias obras dos seus autores franceses preferidos. Durante a revolução cultural chinesa foi enviado para um campo de reeducação. Desde essa altura até 1979 foi impedido de sair do país. A partir desta data foi autorizado a publicar algumas das suas obras, que nunca foram bem acolhidas por serem consideradas uma afronta ao regime chinês.
Abandona a China em 1988 refugiando-se na França, país onde se naturalizou. Em 1989, com os trágicos acontecimentos na praça Tienamen, pertencendo à geração de dissidentes, viu as suas obras censuradas no seu país de origem.
Em 1995 publica na França aquela que é considerada a sua obra-prima La Montagne de l'âme, onde denuncia o sistema totalitário chinês. É autor de outras obras como, por exemplo, o romance Le Livre d'un homme seul (1999), os ensaios Ma conception du théâtre (1986) e Clés pour mon théâtre (1991), e as peças La fuite (1992) e Le Somnambule.
Em Portugal não existiam até 2001 traduções da sua obra e apenas se sabia que tinha sido traduzida para francês e para inglês. Apesar de pouco conhecido internacionalmente, Gao Xingjian recebeu o prémio Nobel da Literatura a 13 de outubro de 2000. Este facto causou a indignação da Associação de Escritores Chineses que consideraram a atribuição do prémio uma atitude política em vez de literária.
Para além da escrita, dedica-se também à pintura tendo participado em exposições. É autor das ilustrações das suas próprias obras.
Em 2001 foi traduzida para português a obra Uma Cana de Pesca para o meu avô e em 2002 o livro A Montanha da Alma.
Opiniões
"Com imenso talento, subtileza e inteligência, Gao Xingjian percorre, nestes seis inesquecíveis contos, os lugares da infância, as alegrias simples do amor e da amizade, os dramas da rua e as tragédias vividas pela China. Sorrisos e lágrimas atravessam esta leitura, que nos deixa o belo e suave sabor da emoção. A revelação de um dos maiores escritores chineses da actualidade."
Eis que, no espaço de um mês leio dois
prémios Nobel da literatura, Ivo Andrić e agora o Gao Xingjian, escritores dos
quais ainda não tinha lido nada. :)
Uma Cana de Pesca para o Meu Avô, é
uma colectânea de contos a transbordar de simplicidade, cultura
oriental e poesia.
Ao longo dos cinco contos que compõem
este pequeno livro, o escritor dá-nos a conhecer o amor, a amizade, a morte, a
saudade e a vida.
No primeiro conto, O Templo,
intromete-mo-nos na lua-de-mel de um casal jovem que transmite uma tal
serenidade na forma de se amarem e de estarem juntos, não só como casal, mas
também como amigos e companheiros que são, que só podemos sorrir durante a sua
leitura.
No segundo conto, O Acidente, passamos
da vida e do amor para a morte e um outro tipo de amor. Neste conto, um homem é atropelado
por um autocarro e morre. No local do acidente junta-se uma multidão perplexa e cheia de
opiniões, como só este tipo de desgraças consegue juntar. O fascínio que todos acabamos
por sentir, de uma forma ou de outra, por situações como esta é estranhíssimo,
inexplicável e, neste caso inconsequente, porque passadas apenas algumas horas
após o acidente, já todos seguiram com as suas vidas e no local do acidente já
nada nem ninguém recorda a vida que ali se perdeu.
O terceiro conto, A Cãibra, traz o tema do mar, que se repete nos contos que se seguem. Um rapaz nada no mar e sente uma cãibra, aflito para regressar a terra firme deseja que a rapariga que estava a tentar impressionar o tivesse visto entrar no mar e se aperceba da sua situação.
No quarto conto, Num Parque, conhecemos
um rapaz e uma rapariga que se reencontram ao fim de alguns anos. No passado
gostaram um do outro mas nunca deram o passo que levaria a relação mais além. A vida separa-os e, agora que se voltaram a encontrar, aquilo que
sentiam um pelo outro, embora intacto já não faz muito sentido. Ao longe, no
mesmo parque, observam uma rapariga que chora. Não a tentam consolar porque
de nada servirá, a dor é algo que faz parte da vida e da qual não se consegue
fugir.
O conto que dá nome ao livro, Uma Cana
de Pesca para o Meu Avô, é o mais extenso e aquele em que a escrita de Gao
Xingjian se torna mais apelativa e imaginativa. Um conto com um cheirinho
oriental e muito bom de se ler, cujo título resume bem aquilo de que trata. Um
homem jovem compra uma cana de pesca para o avô que não vê há muitos anos e de
quem sente muita falta. O conto narra a infância deste homem junto do avô que
lhe ensinou tanto. Uma história de saudade, de esquecimento e lembrança.
O último conto, intitulado
Instantâneos, não é bem um conto, mas sim, como o próprio nome indica,
instantâneos. A narração de alguns instantes nas vidas de várias personagens sendo possível perceber um fio condutor que os liga uns aos outros. O mar volta a ser uma referência
importante. Gostei bastante destes Instantâneos. :)
Gostei desta colecção de pequenas
histórias e da escrita de Gao Xingjian, poética e colorida.
Recomendo!