sexta-feira, 26 de novembro de 2021

CLUBE DE LEITURA - DEZEMBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.





O Clube de Leitura reunirá a 16 de dezembro, pelas 20h00.

Sinopse: Amores de adolescência evocados com serena nostalgia, jovens vistas apenas pelo canto do olho, críticas sobre discos de jazz desconhecidos, um poeta amante de basebol, um macaco que trabalha como massagista nas termas e que fala como gente grande, um velhote que disserta com ar de entendido sobre um círculo com vários centros.

As personagens e as cenas deste aguardado livro de contos contribuem para levar o leitor a repensar os limites entre a imaginação e o mundo real. E devolvem-nos, intactos, os amores perdidos, as relações desfeitas e a solidão, a adolescência, os reencontros e, sobretudo, a evocação do amor, porque ainda que a «paixão se desvaneça, que não seja correspondida, podemos sempre agarrar-nos às recordações de ter amado alguém, de nos termos apaixonado e sido correspondidos», garante o narrador. Um narrador na primeira pessoa que, por vezes, poderia muito bem ser o próprio Murakami.

Estamos diante de um livro de memórias, de relatos com pinceladas autobiográficas ou de um livro exclusivamente de ficção? Como sempre, o trabalho de Murakami raras vezes encaixa numa categoria única e singular. Terá de ser o leitor a decidir.


Quem é Haruki Murakami?


Haruki Murakami, de quem a Casa das Letras editou Kafka à Beira-Mar (com mais de 15 mil exemplares vendidos) e Sputnik, Meu Amor, é um dos escritores japoneses contemporâneos mais divulgados em todo o mundo sendo, simultaneamente, aplaudido pela crítica, que o considera um dos «grandes romancistas vivos» (The Guardian) e a «mais peculiar e sedutora voz da moderna ficção» (Los Angeles Times).
Nasceu em Quioto, em 1949. Estudou teatro grego antes de gerir um bar de jazz em Tóquio, entre 1974 e 1981. Além de Sputnik, Meu AmorKafka à Beira-MarDance, Dance, Dance e A Wild Sheep Chase, que recebeu o Prémio Noma destinado a novos escritores, Murakami é ainda autor, entre outros, de Hard-boiled Wonderland and the End of the World (distinguido com o prestigiado Prémio Tanizaki) e, mais recentemente, de Blind Willow, Sleeping Woman, a sua terceira coletânea de contos, distinguida com o Frank O'Connor International Short Story Award.


CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Um escritor que opta por uma modernidade sustentada ainda na cultura japonesa tradicional, mas submersa pelo pop e por toda a multidão de ícones que glorificam a modernidade.»
João Céu e Silva, Diário de Notícias

Citações:

Conto 8:

O narrador foi a um bar e pediu um "vodka gimlet" ao balcão. Depois tirou um policial do bolso e pôs-se a ler.


O que é um vodka gimlet?

O "gimlet" clássico é um coquetel feito com gim, sumo de limão fresco e calda de açúcar. Ou então com cordial de limão, em vez do limão fresco e da calda de açúcar. Junta-se numa coqueteleira o gelo, o gim, o sumo de limão e a calda de açúcar. Agita-se, coa-se e serve-se sem gelo, com uma rodela de limão. O vodka gimlet é uma variante em que se usa vodka em vez de gim.

O Gimlet nasceu em Inglaterra, no fim do século XIX, quando os médicos da marinha inglesa entenderam que os seus marinheiros estavam carentes de vitamina C. Então, para prevenir o escorbuto, passaram a receitar o consumo diário de sumo de limão, que os marinheiros misturavam com a ração diária de rum, para ajudar "o remédio" a descer. Mas os oficiais bebiam gim em vez de rum. Assim nasceu a receita.

Quanto ao nome, "gimlet" (verruma , em português) é um pequeno instrumento em forma de parafuso e de ponta aguda, que serve para abrir furos na madeira e que os marinheiros usavam para perfurar os barris. Por que motivo batizaram a bebida com este nome não está muito bem explicado.

Outra versão diz que o nome vem de um médico da Marinha inglesa que passou a prescrever a mistura. Esse médico chamava-se Thomas Desmond Gim.



Venho partilhar convosco esta notícia. Não sei se já sabiam, mas um dos filmes candidatos aos Óscares deste ano, "Drive my car", foi adaptado de um conto de Haruki Murakami. 

Boas leituras, bons filmes e até breve.

Graça Serra Santos




CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO

Ontem, pelas 21h00 decorreu a sessão do Clube de Leitura para análise e discussão da obra pré-selecionada "A sala magenta" de Mário de Carvalho. 

Este romance possui uma estrutura narrativa muito simples, há um destaque inteiro para a palavra, para a estética da frase, para a riqueza de vocabulário, para a capacidade descritiva das personagens e dos lugares, numa linguagem muito rica, precisa, harmoniosa, quase poética e musical.

Não é uma história empolgante, que nos crie urgência de chegar ao fim. Mas é um texto que nos convoca à reflexão em cada página, construído a partir do quotidiano atual ou passado das suas personagens, daí surgirem recorrentemente analepses, principalmente nos momentos de solidão.

As personagens principais são 3: Gustavo, Marta e Maria Alfreda.

Gustavo é a personagem central e a mais complexa. É à volta dela que toda a narrativa se desenvolve e Marta e Maria Alfreda quase não existem nas suas relações com ele.

Gustavo e a irmã Marta são antagónicos em quase tudo e representam dois estereótipos: Ele o homem egoísta, preguiçoso, boémio, bon vivant, mulherengo e viciado. Ela a mulher organizada, diligente, maternal, compassiva, meiga.

Os encontros e desencontros amorosos de Gustavo e Maria Alfreda atravessam o romance da primeira à última página. Entre muitas amantes de Gustavo, Maria Alfreda pode chamar-se "a amante", com uma personalidade misteriosa e instável, ela era provocadora e sensual num momento, para se tornar altiva, distante, evasiva no momento imediato.

Na relação de ambos ela foi sempre a parte maior, aquela que determinava a extensão da intimidade, limitando-a muitas vezes à sala magenta, antecâmara do seu quarto, onde Gustavo nunca chegou a entrar.

"O fruto proibido é o mais apetecido". E, Gustavo foi acumulando desejo, medo (da pequena pistola), obsessão, ciúme, frustração, numa relação sempre pendente, mas nunca consolidada.

Assume as suas frustrações, como realizador, como irmão, como homem. No extremo de decadência, doente, velho, despojado já de quase todos os seus "modos de vida" e de novo mergulhado no álcool, Gustavo tenta sumir-se na água, mas nesse momento-limite teve coragem para ir até ao fim.

Lê-se na advertência: "A acção e as figuras deste romance reportam-se a um mundo ficcional de entrada franca, sem chaves ou gazuas. Procurar moldes da vida real para acontecimentos e personagens é ter em má conta a imaginação do autor. Pode ser que ele o mereça, mas não os lesados por equívocos de leitura."

“A advertência com que Mário de Carvalho abre o romance sinaliza a condição paradoxal do próprio romance enquanto género. Constituindo-se como representação ficcionada de um mundo que é co-presente ao acto de escrita, o romance tem de reafirmar, a cada instanciação, e a um mesmo tempo, a sua verosimilhança e a sua ficcionalidade”. 

Situado entre o neo-realismo e os pós-modernismo, num contexto pós 25 de abril, são de destacar o sentido de liberdade e emancipação feminina, neste romance muito agradável de ler e que recomendamos vivamente.

Boas leituras!





 


terça-feira, 9 de novembro de 2021

CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.



O Clube de Leitura reunirá a 25 de novembro, pelas 21h00, para a abordagem da obra "A sala magenta" de Mário de Carvalho.

Sinopse: Paixão, luxúria e erotismo. Raiva, crueldade e regelo. Dois tempos. O presente, numa casa na floresta, perto da Lagoa Moura, onde pena Gustavo Miguel Dias, um cineasta em fim de carreira, lambendo as suas feridas e rememorando tempos gloriosos. O passado, impante na capital. As festas. O álcool. Os quartos de hotel. O rol interminável de mulheres e amantes. E aquela sala magenta, duma tal Maria Alfreda, antecâmara da felicidade, conchego alcatifado, jogo perverso entre o desdém, o apaziguamento e a ameaça.

Quem é Mário de Carvalho?

Nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão. Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois da Revolução dos Cravos, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.

Desde então, tem praticado diversos géneros literários – Romance, Novela, Conto, Ensaio, Crónica e Teatro –, percorrendo várias épocas e ambientes, sempre em edições sucessivas. Utiliza uma multiforme mudança de registos, que tanto pode moldar uma narrativa histórica como um romance de atualidade; um tema dolente e sombrio como uma sátira viva e certeira; uma escrita cadenciada e medida como a pulsão de uma prosa endiabrada e surpreendente.

Nas diversas modalidades de Romance, Conto, Crónica e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários mais prestigiados (designadamente os Grandes Prémios de Romance e Novela, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube Português e o prémio internacional Pégaso de Literatura). Em 2020, foi distinguido com o Grande Prémio da Crónica e Dispersos Literários, da APE, pela obra O que Eu Ouvi na Barrica das Maçãs. Os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas.

Obras como Os Alferes, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel, A Liberdade de Pátio ou Epítome de Pecados e Tentações são a comprovação dessa extrema versatilidade.


CRÍTICAS DE IMPRENSA

«Ler Mário de Carvalho deixou de ser uma simples aventura na linguagem: passou a ser uma expedição. O que lhe devemos é já demasiado para caber num texto de jornal.»

Joel Neto, Diário de Notícias


MÁRIO DE CARVALHO EM BOA HORA REEDITADO
F.T.

Não aconselhável a quem não gosta da língua portuguesa.


PARA QUEM GOSTA DE LER
Elizabete Alves

Uma escrita inteligente que nos apraz ler. Uma história de vida que não é de modo nenhum impossível nem excecional. Em certos aspetos absolutamente banal , real e atual, com todas as inseguranças , os arrependimentos , as agonias a que os seres humanos estão sujeitos ao longo da vida. Gostei de ler, mas não será uma leitura inesquecível.


VALE A PENA LER!
S.

Um dos livros que mais gostei do Mário de Carvalho, a seguir a "Um Deus passeando pela brisa da tarde". Vale a pena ler!


Excertos:

capítulo IV (pág. 62)

"Cristina vestia-se muito rapidamente, deixava-se ficar à cabeceira da cama, com as mãos atrás da nuca, numa pose de Maja Vestida, com um ar de ligeiro enfado..."

capítulo VI (pág. 82)

"Num fim de tarde, no quarto de pensão, Gustavo perguntou a Cristina, estando ela na sua posição de Maja, meio atravessada na cama, os braços cruzados atrás da cabeça..."  


"A Maja Vestida" é uma das mais célebres obras de Francisco Goya, pintor espanhol (1746 - 1828), a par de "A Maja Nua". "A Maja Nua" foi pintada entre 1790 e 1800. "A Maja vestida" é posterior, foi pintada entre 1802 e 1805. 

Os quadros foram encomendados por Manuel de Godoy, primeiro-ministro do rei Carlos IV e supõe-se que a modelo foi a andaluza Pepita Tudó, sua amante e mais tarde esposa. Figuravam ambos numa sala da sua residência, a vestida sobre a nua, que ficava a descoberto mediante um mecanismo próprio. 

Desde 1910, as duas obras encontram-se em exposição no Museu do Prado, em Madrid. 






capítulo VIII, pág. 101

Gustavo trauteou Madamina, il catalogo è questo...Norma, sem compreender a alusão, olhou-o desconfiada.



"Madamina, il catalogo è questo", é o nome de uma ária da ópera "Don Giovanni", estreada em 1787. É uma ópera em 2 atos, com música de Mozart e libreto do autor italiano Lorenzo da Ponte. Don Giovanni é um nobre que seduz as donzelas, promete-lhes casamento e depois abandona-as. Esta ária é cantada pelo servo de Don Giovanni, Leporello, para Donna Elvira. Donna Elvira é uma nobre de Burgos, que foi seduzida e abandonada por Don Giovanni. Leporello aconselha Donna Elvira a esquecer Don Giovanni, mostrando-lhe uma lista de todas as amantes do seu amo, no total mais de 2000. 

É uma das árias mais famosas de Mozart, também conhecida como "a ária do catálogo" e há imensas interpretações. 

Esta versão é interpretada por Ferruccio Furlanetto, um baixo italiano, na Ópera Metropolitana.



  

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO

No passado dia 28 de outubro, pelas 21h00, decorreu na Biblioteca a sessão mensal do Clube de Leitura, para a análise e discussão da mais recente publicação de Ana Margarida Carvalho, "Cartografias de lugares mal situados: 10 contos de guerra”.

Nestes dez contos passados em diversificados contextos de guerras, AMC percorre alguns desses lugares, desde uma povoação de Portugal durante a Terceira Invasão Francesa, passando por uma biblioteca não nomeada, centro de operações da resistência, onde os livros servem para tudo menos para ler, até um lugar incerto onde há mulheres cercadas por snipers, as vozes são proibidas e o silêncio parece interminável.

Apesar das opiniões díspares, foi consensual que não é um livro de contos que dê para ler de um só fôlego, requer alguma reflexão entre cada conto. A capacidade narrativa da autora, os temas abordados provocam uma sensação de que estamos perante um fenómeno literário ainda não totalmente reconhecido

Em cada conto de guerra, passado em diferentes contextos temporários prevalecem as emoções, a generosidade, a compaixão, mas também a raiva, o medo, a crueldade e a brutalidade que todas as guerras provocam, seja nos conflitos da atualidade ou em qualquer outro período.

Curiosamente, no penúltimo conto com o título “E se também o Inferno for uma espécie de Biblioteca” faz referência à linha do Vale do Vouga, “na ponta da língua, já!, e ele a titubear Espinho… Oleiros… Paços de Brandão… Feira… Arrifana… S. João da Madeira… Oliveira de Azeméis…"

Serão na mente da autora lugares mal situados?





terça-feira, 5 de outubro de 2021

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.




O Clube de Leitura reunirá a 28 de outubro, pelas 21h00, para a abordagem da obra "Cartografias de lugares mal situados", de Ana Margarida de Carvalho.

Sinopse: Os cenários de guerra são, por definição, lugares mal situados. Neles, as emoções são intensificadas, a generosidade, a compaixão, mas sobretudo a raiva, o medo, a crueldade e a bruteza.

Nestes contos, Ana Margarida de Carvalho percorre alguns desses lugares, desde uma povoação de Portugal durante a Terceira Invasão Francesa, passando por uma biblioteca não nomeada, centro de operações da resistência, onde os livros servem para tudo menos para ler, até um lugar incerto onde há mulheres cercadas por snipers, as vozes são proibidas e o silêncio parece interminável.

 

Quem é Ana Margarida Carvalho?

Jornalista e escritora, licenciou-se em Direito, pela Universidade de Lisboa, onde nasceu. Assinou várias reportagens premiadas, crónicas, ensaios e crítica cinematográfica e literária. É autora de guiões de cinema e de uma peça de teatro. O seu romance de estreia, “Que Importa a Fúria do Mar”, venceu, por unanimidade, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE) referente a 2013. “Não Se Pode Morar nos Olhos de Um Gato” recebeu igualmente o Grande Prémio de Romance e Novela da APE (2016). Foi considerado livro do ano pela SPA e venceu o Prémio Literário Manuel de Boaventura (2017). Tem um livro infantil, “A Arca do É”, em parceria com o ilustrador Sérgio Marques.

“Pequenos Delírios Domésticos”, o seu primeiro livro de contos, venceu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2017.

O romance “O gesto que fazemos para proteger a cabeça”, publicado pela Relógio D’Água em 2019, foi finalista do Prémio Oceanos 2020 e do Prémio de Literatura da União Europeia 2021.


Excertos:


Conto 4 - Montículos de Montgomery

"...haviam de ir os dois desafiar as nuvens negras, escalar as pedras do Barrocal, se chovesse ainda melhor. Não existia local mais mágico para a miudagem do que aquele santuário de granito. Parecia-lhe que Deus andara a jogar pedras, só para ver o que acontecia, mas depois desinteressou-se do resultado". 

Em 7 de novembro de 2020 foi inaugurado em Castelo Branco o Parque do Barrocal, de 40 hectares, com passadiços, miradouros e pontes. Um bonito lugar para uma caminhada!








Conto 5 - O Prometido é de Vidro

"Todos os anos pelo Natal, lançaria ao poço uma conta de cristal do seu rosário. E ao povo castanhas do cimo da torre da igreja".

"O Magusto da Velha" é uma tradição que ainda hoje se mantém em Aldeia Viçosa, uma aldeia a 25 km da Guarda. Esta tradição remonta ao século XVII e teve origem numa herança deixada por uma senhora abastada de que se ignora o nome, sendo designada por "A Velha".  Com o dinheiro deixado,  ordenou que todos os anos a seguir ao dia de Natal fossem lançadas castanhas da Torre da Igreja e distribuído algum vinho pelo povo. A senhora só pediu como pagamento que lhe rezassem um Pai-Nosso por alma. Assim, ainda hoje, no dia 26 de dezembro, por volta das 15h, são lançadas castanhas da Torre da Igreja (cerca de 150 kg). 

No momento em que as castanhas são atiradas para o meio da multidão, alguns rapazes protagonizam as denominadas "cavaladas", saltando para cima das costas daqueles que se se baixam para as apanhar.  









Conto 9, E se também o Inferno for uma espécie de biblioteca

"...e para ganhar alento foi passear para a beira-rio antes de atravessar a Ponte de Trajano. A aragem do rio Tâmega, a noite límpida aclaravam-lhe os pensamentos, queria acreditar. Reparou nos calhaus que ligavam as duas margens, pontos de travessia pedestre desde tempos remotos, onde às vezes ficavam entalados peixes gordos e os adolescentes gostavam de atravessar de olhos fechados. Há quanto tempo estariam ali as pedras encravadas a resistir a tudo, à passagem do tempo e das correntes. Teve um pensamento mágico. E se atravessasse até o ao outro lado, através das pedras escorregadias?"

Os "calhaus" referidos no texto são uma passagem pedonal  de origem romana, sobre o rio Tâmega, a que os flavienses chamam "POLDRAS". Há 90 no total.






  

Conto 9 

"...às vezes ainda lhe dava estas cãibras no coração, uma espécie de fecho-éclair emperrado, que não fechava, não fechava nunca, e lá regressaram eles, os homens de Giacometti, esfumados, numa verticalidade improvável, muito ao longe, pernas tão precárias que mal sustentavam o próprio corpo, os filhos e os andrajos, os homens lá ao longe de pernas errantes... "

"...eram aqueles homens, sabe, senhor doutor, muito verticais, com pernas longas e distorcidas pelas vibrações do calor, que chegavam ao acampamento, não paravam de chegar, noite e dia, e as nossas rações a escassear, as estradas bloqueadas, sem medicamentos, eles a morrerem-nos nos braços, por doença e inanição, uns mortos, outros quase..."


Alberto Giacometti (1901-1966) foi um pintor e escultor expressionista de nacionalidade suiça.

Nos trabalhos realizados depois da Segunda Guerra, onde a figura humana protagoniza as suas pesquisas plásticas, Giacometti  acompanha a tendência neo-figurativa que, nestes anos, marca o percurso criativo de vários artistas plásticos. Esta representação do corpo humano marca o período mais original de Giacometti. Depois da guerra (1947), adota um estilo que o tornou famoso, de figuras magras, alongadas e afiladas, esculpindo a maioria das obras dessa fase em miniaturas. 

Destacam-se, entre as inúmeras obras executadas durante o final da década de 40 e da década seguinte, as esculturas L'Homme Qui Marche (1949) e La Femme au Chariot (1950).


 "À primeira vista, parece que estamos perante mártires sem carne saídos do campo de concentração de Buchenwald. Mas pouco depois temos uma perceção bem diferente: aquelas naturezas finas e delgadas elevam-se para o céu", escreveu o amigo Jean-Paul Sartre, em 1948, no catálogo de uma exposição de Giacometti em Nova Iorque.






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