segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 30 janeiro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "As primeiras coisas" de Bruno Vieira Amaral.


Sinopse: Quem matou Joãozinho Treme-Treme no terreno perto do depósito da água? O que aconteceu à virginal Vera, desaparecida de casa dos pais a dois meses de completar os dezasseis anos? Quem foi o homem que, a exemplo do velho Abel, encontrou a paz sob o céu pacífico de Port of Spain? Porque é que os habitantes do Bairro Amélia nunca esquecerão o Carnaval de 1989? Quem é que poderá saber o nome das três crianças mortas por asfixia no interior de uma arca? Onde teria chegado Beto com o seu maravilhoso pé esquerdo se não fosse aquela noite aziaga de setembro? Quantos anos irá durar o enguiço de Laura? De que mundo vêm as sombras de Ernesto, fabuloso empregado de mesa, Fernando T., assassinado a 26 de dezembro de 1999, Jaime Lopes, fumador de SG Ventil, Hortênsia, que viveu e morreu com medo de tudo? Quando é que Roberto, anjo exterminador, chegará ao bairro para consumar a sua vingança?

Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de Domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados: a Humanidade inteira arde no Bairro Amélia.

Quem é Bruno Vieira Amaral?

É um dos escritores contemporâneos mais significativos da literatura portuguesa. Nascido no Barreiro, as suas obras refletem o universo dos bairros periféricos da margem sul do Tejo, abordando temas como a marginalidade, a identidade racial e a experiência do regresso ao lugar de onde se partiu, seja através do regresso ao bairro de infância ou ao país de nascença, como no caso dos, assim chamados, “retornados”. O autor ganhou o Prémio José Saramago em 2015 pelo seu romance de estreia, As Primeiras Coisas, e recebeu também o Prémio Fernando Namora e o Prémio PEN Narrativa. A sua escrita combina análise social com narrativas onde viajamos ao núcleo da emoção, ao indizível humano, que causa na personagem a perplexidade vencida pela acomodação e pelas condições externas.


CLUBE DE LEITURA - DEZEMBRO 2024

Na última quinta-feira do passado dia 19 de dezembro, pelas 20 horas decorreu a sessão deste mês do Clube, completamente dedicada ao Natal.

Desde o já habitual jantar-convívio, em que cada elemento do clube  partilhou as suas próprias iguarias gastronómicas (salgadas, vegetarianas, doces, bebidas, etc.), assim como a leitura de pequenos contos, poemas, anedotas, crónicas, interpretação de canções e outras expressões artísticas de acordo com o tema natalício.

Foi uma noite gastronómico-literária que ficará na memória de quem participou.

De todos os textos lidos, destacamos o texto abaixo, que  nos apresenta o sentimento de um Pai Natal... e definem uma amiga que não pôde estar presente na sessão.

Vi nascer famílias inteiras. Vi desaparecer os mais velhos. Vi as crianças tornarem-se homens e mulheres partirem para as cidades grandes em busca de trabalho. Vi coisas boas e coisas más, alegres e tristes e,  muito antes de ser Pai Natal, também vi o mal que as guerras podem fazer a quem quer viver em paz.

Como qualquer carteiro que gosta do seu ofício, eu acompanhava a vida das notícias que levava e trazia.  Uma lágrima de tristeza no rosto de quem as recebia dizia-me que podiam ser bem melhores do que eram. Um sorriso largo mostrava-me que elas traziam felicidade a alguém.

E eu estava sempre ao lado de quem sofria ou quem ficava contente, sim porque os amigos são isso mesmo. São aqueles com quem se pode contar tanto nas horas boas como nas más.

In "Bom Natal, Pai Natal" de José Jorge Letria

























quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - DEZEMBRO 2024

No próximo dia 19 de dezembro, pelas 20 horas, decorrerá a sessão do Clube de Leitura, com o habitual jantar natalício e literário.

Sobre o tema Natal, serão ditos, lidos, contados, cantados poemas, excertos, pequenos textos, contos, anedotas, etc.

Sim, porque o NATAL é também alegria e boa disposição.


Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher








 

CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO 2024

Na passada quinta-feira, pelas 21h00, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura para a abordagem e discussão do romance "A máquina de Joseph Walser" de Gonçalo M. Tavares, autor de vasta obra que está a ser traduzida em mais de sessenta países, sendo considerado um dos mais inovadores escritores europeus da atualidade.
Essa inovação deve-se à sua linguagem em ruptura com as tradições líricas portuguesas e a subversão dos géneros literários.


Os romances do autor abordam temáticas sombrias com diversas ocorrências de imagens de guerra, violência, doenças físicas e psíquicas, dor, vazio existencial. 
As personagens encontram-se num mundo de difícil compreensão, onde os seus limites espaciais e temporais são abstratos. 

Tendo como foco principal uma análise sobre a vida do protagonista que nomeia o livro, o texto procura captar as relações desse indivíduo no seu universo particular, como revelação das problemáticas sociais e crítica de vida. 
Constantemente frio e apático, mesmo diante de ofensas, repreensões ou até nos seus raros momentos de entusiasmo, Walser é um homem de falas extremamente económicas e silêncios absolutos. 
O seu convívio com as pessoas é marcado por distanciamento e isolamento. 
A sua coleção de peças metálicas, muitas quebradas e imprestáveis, é a razão de sua existência e o lugar de acesso particular e exclusivamente seu, onde ninguém jamais entrou ou entrará (enquanto Walser tiver tal poder de decisão) é o seu quarto. 
Na sua relação com a máquina, de que o próprio título do livro já é um tanto sugestivo, desenha-se a humanização do objeto: a sua perigosa máquina que, além de seu sustento, representa um perigoso cotidiano quando manipulada. 

A personagem Klober Muller, apresentada como encarregado da fábrica onde trabalha Walser, é relevante durante o desenvolvimento do enredo. As suas falas são sempre apresentadas e dirigidas a Joseph Walser, constantemente impregnadas de argumentações e ensinamentos. Para Muller, o verdadeiro homem do século pode ter apenas um sentimento em si: o ódio a todos os demais. Tal ódio é resultado da necessidade de um isolamento, uma vez que a aproximação causa a eliminação da individualidade. 

Fluzst é o único indivíduo do livro que se posiciona contra a guerra e decide tomar uma atitude a esse respeito. Os homens Fluzst M. e Klober Muller assumem posturas antagónicas. O primeiro, mesmo apesar da tentativa, não consegue superar a realidade que o oprime. O segundo compreende friamente o jogo de interesses que desenvolve as relações humanas e parece completamente adaptado ao sistema. Mas se todos os indivíduos se comportassem como ele, ou até seguissem o que ele discursa, o cenário tornar-se-ia ainda mais sombrio e devastador. 

As semelhanças da história ficcionada, por mais que caricatas, com questões humanas reais que envolvem egoísmo, individualidade, traições, relações de poder, alcançam o leitor de maneira particular ainda que o narrador seja até certo ponto determinante na história. 

Nota reflexiva que complementa a mensagem inerente ao conteúdo apresentado no livro "A máquina de Joseph Walser", de autoria de Gonçalo M. Tavares:

Uma estudante perguntou uma vez à antropóloga Margaret Mead qual considerava o primeiro sinal de civilização numa cultura. 
A aluna esperava que a antropóloga falasse sobre anzóis, taças de barro ou pedras para afiar, mas não. 
Mead disse que o primeiro sinal de civilização numa cultura antiga é o teste de uma pessoa com um fêmur partido e curado. Segundo Mead, nenhum animal sobrevive com uma perna partida o tempo suficiente para o osso se curar por si. Um fêmur partido que se curou é a prova de que alguém dedicou tempo suficiente a quem caiu, por forma a que a lesão pudesse sarar, mantendo a pessoa em segurança e provendo o seu sustento até que ela se recuperasse. 
 “Ajudar alguém a atravessar a dificuldade é o ponto de partida da civilização», explicou Mead. “A civilização é uma ajuda comunitária. ”


As opiniões do Clube de Leitura quanto à obra de Gonçalo M. Tavares e esta obra em particular dividem-se. Há leitoras que apreciam e outras que tentaram dar uma oportunidade ao autor, mas um pouco em vão.

Detetámos ainda que havia edições com um número diferente de capítulos. Por exemplo, a versão mais antiga, de 2004, possui 26 capítulos, enquanto que a versão mais recente, de 2023, inclui 27 capítulos, o que indica que a história apresenta finais diferentes. Um mistério que procuraremos desvendar.

Ana Azevedo










domingo, 3 de novembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 28 de novembro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "A máquina de Joseph Walser"de Gonçalo M. Tavares.


Sinopse: No romance A Máquina de Joseph Walser, pertencente à série O Reino, o protagonista, Joseph Walser, trabalhador modesto numa fábrica e colecionador obsessivo de pequenas peças metálicas, vai sobrevivendo à violência da guerra e à vida familiar deprimente, com uma apatia que, por vezes, de longe, parece uma espécie de sabedoria.


O seu corpo sobrevive às traições, que comete e que sobre ele são cometidas, e resiste às bombas, mas diante da máquina de trabalho o seu corpo cede, não resiste. Mas ainda assim sobrevive. Joseph Walser é um sobrevivente.

 

Quem é Gonçalo M. Tavares?

É o autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em mais de sessenta países. A sua linguagem em rutura com as tradições líricas portuguesas e a subversão dos géneros literários fazem dele um dos mais inovadores escritores europeus da atualidade. Recentemente, Le Quartier (O Bairro), de Gonçalo M. Tavares, recebeu o prestigioso Prix Laure-Bataillon 2021, atribuído ao melhor livro traduzido em França, sucedendo assim à Nobel da Literatura Olga Tokarczuk, que recebeu este prémio em 2019, e ao escritor catalão Miquel de Palol. Ainda em 2021, O Osso do Meio foi também distinguido no Oceanos, um dos mais relevantes prémios de língua portuguesa. De entre a sua vasta bibliografia, vinte e duas das suas obras já foram distinguidas, em diversos países. Foi seis vezes finalista do prémio Oceanos, tendo sido premiado três vezes. Foi ainda duas vezes finalista do Prix Médicis e duas vezes finalista do Prix Femina, entre outras distinções de relevo, como o Prix du Meilleur Livre Étranger em 2010. Saramago vaticinou-lhe o Prémio Nobel. Vasco Graça Moura escreveu que Uma Viagem à Índia dará ainda que falar dentro de cem anos. A The New Yorker afirmou que, tal como em Kafka e Beckett, Gonçalo M. Tavares mostrava que a «lógica pode servir eficazmente tanto a loucura como a razão».


CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO

Na passada quinta-feira, dia 31 de outubro, pelas 21h00, decorreu a sessão do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "À espera no centeio" de Jerome David Salinger (1918-2010).

No mês em que se comemora o 12º aniversário do Clube de Leitura, por coincidência foi selecionada esta obra que nos remete para o universo de um adolescente, em plenos anos 50, nos EUA. 

Salinger já tinha publicado vários contos e novelas, mas foi com este romance que se revelou um "exímio contista", obtendo um sucesso imediato, o que o tornou famosíssimo, e a obra começa fazer parte dos grandes clássicos da literatura universal, influenciando gerações até aos dias de hoje.

Depois deste sucesso, Salinger tornou-se um pouco eremita, chegando a construir um escritório numa espécie de bunker, onde se refugiava para escrever, chegando a declarar que publicar era uma invasão da sua privacidade, dado que muita da sua escrita é autobiográfica.

Salinger pretende retratar as angústias, inseguranças e as questões complexas da adolescência. As personagens são quase sempre os inadaptados que não se conseguem integrar na sociedade, que têm dificuldade em adaptar-se às regras, às instituições ou à família e à incompreensão pelo universo dos adultos. Aproveita também de forma hábil fazer uma crítica à superficialidade e falsidade da sociedade.

A técnica narrativa é quase coloquial, recorrendo à linguagem usada na oralidade e à gíria, por vezes excessivamente repetitiva, de uma forma sarcástica, de língua afiada, no entanto revelando uma sensibilidade fora do comum.

Durante a leitura deste obra, que foi ícone da rebelião de muitos adolescentes, revivemos através de Holden Caufield uma fase de muita inocência, a procura de uma identidade, lidamos com a perda, com a revolta e com a importância da conexão com universo e os outros.




























  

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 31 de outubro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "À espera no centeio" de J. D. Salinger




Sinopse: À espera no Centeio é a história de um jovem nova-iorquino, expulso da escola três dias antes das férias de Natal e que não tem coragem de regressar a casa e enfrentar os pais. Por isso passa esses dias deambulando pela cidade, fazendo descobertas decisivas, vivendo contradições, alegrias e temores.

 

Quem é J. D. Salinger?

Escritor norte-americano, nascido em 1919, Jerome David Salinger, foi um símbolo da juventude norte-americana da década de 50, retratando-a e captando a sua linguagem, problemas e experiências. Filho de pai judeu e mãe católica irlandesa, aos dezoito anos teve a oportunidade de passar 5 meses na Europa. Quando regressou aos Estado Unidos, ingressou na Universidade de Nova Iorque e em 1939 inscreveu-se na disciplina de contos na Columbia University, cujo professor era Whit Burnett, fundador da revista Story Magazine.

Combateu na Segunda Guerra Mundial e esteve envolvido na invasão da Normandia.

Salinger é um dos grandes clássicos da literatura norte-americana sendo "À Espera no Centeio", o seu livro mais conhecido e aquele que melhor revela a vida da rica burguesia nova-iorquina, o vazio social e os falsos valores encontrados pelos jovens da época. O seu realismo irónico encontra-se também em obras como "Nine Stories" (1953), "Franny and Zooey" (1961), "Raise High the Roof Beam"," Carpenters" (1963) e "For Esmé - With Love and Squalor" (1986). É também autor de inúmeros contos, muitos deles publicados nas prestigiadas revistas "Esquire" e "New Yorker".


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Na passada quinta-feira, dia 26 de setembro, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de setembro do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "Cravos e ferraduras" de J. Rentes de Carvalho, publicada nos inícios do ano corrente.

O título da obra remete-nos para a expressão idiomática "Dar uma no cravo e outro na ferradura" onde na verdade são expostos uma grande diversidade de perspectivas, ou seja os vários lados de uma contenda.

Trata-se de 84 pedaços do seu Trás-os-Montes, escritos entre o conto, a crónica e o apontamento lateral, através da perspectiva de Rentes de Carvalho, nos seus 94 anos, que nos retrata um Portugal anacrónico ao contrário do que nos transmitido através da TV ou das redes sociais um país civilizado.

No interior profundo ou na periferia das grandes cidades há ainda um terceiro estrato onde deambulam gente desamparada, resignada ou no obscurantismo mais profundo. São estas personagens escolhidas pelo autor, depois de o ter feito com os neerlandeses e ter colhido o fruto de quem tem a rudeza de confrontar um povo com a sua face.

Nesta obra, somos nós os heróis dos relatos, a partir de uma realidade vivida, contada ou recordada como nos serões antigos em que mais velhos narravam proezas idas, e em que os mais torpes pareciam saídos de um lugar remoto, porém tão excessivamente familiar.

Histórias desfiadas com aspereza e sobranceria, uma espécie de breviário que desmonta a candura de uma ruralidade não contaminada pelos novos tempos, um retrato do país, de todos nós pontuados com erotismo, humor, cumplicidade, atrevimento, proximidade, umas vezes rindo, outras vezes macambúzio.

No conto "Bingo" o autor confessa "continuo a acreditar que só as histórias do passado possuem os ingredientes necessários ao sonho. As do presente parecem quase sempre carecer de elementos essenciais... para sonhar, recordo de vez em quando as histórias de antigamente, e é como se pudesse viajar no tempo".

No entanto, nos contos "O doutor Google", Culpa da Netflix"ou no "Dom da mãe" são retratadas preocupações da atualidade como a dependência das redes sociais e dos telemóveis em que o puto Kevin "vive com telemóvel a modos de prótese", sem deixar de fazer referência às guerras brutais que decorrem no Médio Oriente e no Leste Europeu.









segunda-feira, 29 de julho de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 26 de setembro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Cravos e Ferraduras" de J. Rentes de Carvalho.


Sinopse: 
Um retrato dos últimos anos da vida portuguesa através de personagens escolhidas a dedo. Nenhuma delas é conhecida. Nenhuma delas merece a nossa piedade.


Entre o conto e a crónica, trocando os nomes e avariando as grandes teorias sobre o funcionamento da pátria, estes textos de J. Rentes de Carvalho retratam o país com humor, cumplicidade, atrevimento, ou uma compreensão que não pede distância, mas proximidade. Os comportamentos destas personagens não são, na maior parte das vezes, dignos de elogio ou de serem escolhidos como exemplo, não receberão medalhas no Dia de Portugal. Mas são, arrancados à vida desconhecida da província, das vilas e aldeias da pequena pátria, um dos melhores retratos de todos nós, frívolos ou sentimentais, mentirosos ou com um fingido amor pela verdade.

Este livro, que recolhe textos de diário, pequenos contos ou crónicas ficcionadas, é uma espécie de resumo dos últimos anos da vida portuguesa, um retrato do país através de pequenos apontamentos sobre personagens e vidas comuns, populares, rurais, desconhecidas - e sobre um escritor que observa o seu país, rindo ou ficando macambúzio. Ou fingindo-se.

Quem é J. Rentes de Carvalho?

De ascendência transmontana, J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para jornais como O Estado de São PauloO Globo e o Expresso. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, onde se licenciou (com uma tese sobre Raul Brandão) e foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Dedica-se desde então exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. Escreveu romances, contos, diário, crónica, e guias de viagem ou ensaios. Vive entre Amesterdão e Estevais (Mogadouro), metade do ano em cada sítio.

Críticas:


«É verdade que importa haver, no grupo extenso e variado de romancistas lusos, quem assuma o papel de retratista das figuraças dos palanques deste tempo.»
Sábado

«Vital, violento, implacável, lúcido e aquiliniano, virtuoso no vocabulário popular e numa escrita que alavanca a tradição oral.»
Visão


CLUBE DE LEITURA - JULHO 2024

Na passada quinta-feira, dia 25 de julho, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de julho do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "E três maçãs caíram do céu" de Nariné Abgarian.

Editada pela Presença e com tradução direta do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra, “E três maçãs caíram do céu foi publicado originalmente em 2015 e venceu o prémio mais importante da Rússia, o Prémio Literário Yasnaya Poliana, instituído pelo Museu Leo Tolstoi.

Também foi galardoada pela sua obra infantil, que já teve adaptações cinematográficas, a autora viveu durante alguns anos em Moscovo, tendo regressado ao seu país natal em 2022, dividindo agora o tempo entre a Arménia e a Alemanha.

É o primeiro livro da romancista arménia Nariné Abgarian a ser publicado em Portugal, romance premiado e aclamado pela crítica, ambientado numa pequena aldeia das montanhas arménias.

Esta obra, que a escritora russa Ludmila Ulitskaya descreveu como “um bálsamo para a alma”, centra-se numa mulher que se convence de que vai morrer e deita-se na cama à espera”, uma história que mescla realidade e fábula, esbatendo os limites entre racional e onírico.

A história passa-se em Maran, uma pequena aldeia montanhosa arménia, onde os aldeões apanham amoras e fazem baclava (pastel doce folhado com pasta de nozes), e onde os sonhos, as pragas e os milagres são produtos da realidade, intocados pelo tempo.

Uma antiga linha telegráfica e um perigoso caminho de montanha que até as cabras têm dificuldade em seguir são a sua única ligação ao mundo exterior.

Neste lugar perdido vive Anatólia, tranquila, deitada na sua cama, à espera da morte, convicta de que só isso pode acontecer.

Antes de se deitar e vestir a roupa fúnebre preparada para o efeito, incluindo umas meias grossas de malha, porque “toda a vida teve frio nos pés”, Anatólia dedica-se a alguns preparativos finais, que incluem regar a horta e alimentar bem as galinhas, pois não sabe quanto tempo os vizinhos demorarão a dar com o seu corpo inanimado.

Depois de se deitar e folhear o álbum da família, perde-se em divagações da memória, que a transportam até à infância, dando a conhecer ao leitor a sua vida longa, em que não concretizou o sonho de ser mãe, viveu um casamento que em vez de amor lhe trouxe sofrimento, e passou anos a cuidar da biblioteca da aldeia, o centro da sua pouca felicidade.

Deitada na cama, convencida de que vai morrer, é surpreendida por um vizinho que entra de surpresa em sua casa, com uma proposta inesperada, que vai transformar a aldeia de Maran.

Quando foi publicado e, sobretudo, quando começou a ser traduzido, o romance começou a destacar-se entre a crítica literária, pela forma cativante como retrata a vida numa aldeia remota da região montanhosa da Arménia, oferecendo um olhar único sobre a cultura e a ruralidade daquela região.

Nariné Abgarian, que escreve em russo, foi elogiada pela prosa simultaneamente autêntica e poética e pela riqueza de caracterização dos ambientes e personagens, explorando as complexidades da vida humana.

Segundo o jornal The Herald, este é um romance “maravilhoso e encantador” que “celebra a palavra ‘comunidade’”, ao passo que a Publishers Weekly destaca as descrições do quotidiano “belissimamente buriladas”.

O jornal The Guardian, que em 2020 nomeou Nariné Abgaryan “uma das mais brilhantes autoras da Europa”, elogiou o romance pelas personagens complexas, a atmosfera envolvente, a visão cativante da vida numa aldeia remota da Arménia, a prosa poética e a autenticidade da narrativa.

Em entrevista a este jornal britânico, Nariné Abgaryan conta que o seu livro favorito, “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, passado na aldeia fictícia isolada de Macondo, a deixou assombrada no final, quando todos os vestígios da existência de Macondo são apagados.

Em “E Três maçãs caíram do céu”, decidiu fazer o oposto: “Queria escrever uma história que terminasse com uma nota de esperança. A humanidade está a precisar urgentemente de esperança, de histórias simpáticas”. Por isso, nesta aldeia, apesar de isolada, onde decorrem tantos acontecimentos trágicos, sobressai um espírito comunitário e de entreajuda, os habitantes preocupam-se com o bem estar uns dos outros, que nos comove e sensibiliza para a importância do apoio que todos nós precisamos ter e dar a quem precisa, não esquecendo o poder e o universo feminino onde normalmente há amor, solidariedade, compaixão e amizade.

“Vivemos uma vida tão acelerada, que mal conseguimos falar uns com os outros, perguntar como vão as coisas. O que me incomoda é a forma como os jovens estão a deixar os mais velhos para trás”, afirmou.

Nariné Abgaryan refere que os aldeões do seu romance passam os dias a “cultivar vinho que ninguém quer ou precisa”, e acrescenta que “a globalização tem benefícios, mas também efeitos secundários negativos, quando os costumes de uma região, as coisas que definem as pessoas, são retirados”.

Apesar das desgraças, a ironia está sempre presente. A cena das botas novas, que a mulher não quis calçar ao marido quando este morreu, por achar que era um desperdício e que ele vem reclamar, assombrando-a.

É hilariante também a cena do fermento que Valinka despejou na fossa e transbordou durante a noite, deixando um cheiro horrível em toda a aldeia.

As referências às guerras também, são pouco esclarecedoras sobre o período que decorrem. "Quando a guerra começou, Anatólia tinha 42 anos", (p. 31). "Passaram mais 7 anos, a guerra terminou" (p. 34). "Tigran entrou na Academia Militar e aos 25 anos já tinha alta patente. "Começou a guerra, durante 8 anos não houve notícias dele", (p. 102). "Um ano depois, partiu para o Norte, para não ser apanhado por outra guerra" (p. 103). Pode ser a Primeira Guerra Mundial, pode ser o genocídio Arménio, o extermínio Otomano, entre 1915 e 1923.

Por todos os motivos sugerimos a leitura desta prestigiada obra e deixem "rolar nas suas mãos frescas três maças que depois, tal como rezam as lendas de Maran, deixará cair do céu na terra - uma para quem viu, outra para quem contou e a terceira para quem ouviu e acreditou no bem."