segunda-feira, 30 de setembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 31 de outubro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "À espera no centeio" de J. D. Salinger




Sinopse: À espera no Centeio é a história de um jovem nova-iorquino, expulso da escola três dias antes das férias de Natal e que não tem coragem de regressar a casa e enfrentar os pais. Por isso passa esses dias deambulando pela cidade, fazendo descobertas decisivas, vivendo contradições, alegrias e temores.

 

Quem é J. D. Salinger?

Escritor norte-americano, nascido em 1919, Jerome David Salinger, foi um símbolo da juventude norte-americana da década de 50, retratando-a e captando a sua linguagem, problemas e experiências. Filho de pai judeu e mãe católica irlandesa, aos dezoito anos teve a oportunidade de passar 5 meses na Europa. Quando regressou aos Estado Unidos, ingressou na Universidade de Nova Iorque e em 1939 inscreveu-se na disciplina de contos na Columbia University, cujo professor era Whit Burnett, fundador da revista Story Magazine.

Combateu na Segunda Guerra Mundial e esteve envolvido na invasão da Normandia.

Salinger é um dos grandes clássicos da literatura norte-americana sendo "À Espera no Centeio", o seu livro mais conhecido e aquele que melhor revela a vida da rica burguesia nova-iorquina, o vazio social e os falsos valores encontrados pelos jovens da época. O seu realismo irónico encontra-se também em obras como "Nine Stories" (1953), "Franny and Zooey" (1961), "Raise High the Roof Beam"," Carpenters" (1963) e "For Esmé - With Love and Squalor" (1986). É também autor de inúmeros contos, muitos deles publicados nas prestigiadas revistas "Esquire" e "New Yorker".


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Na passada quinta-feira, dia 26 de setembro, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de setembro do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "Cravos e ferraduras" de J. Rentes de Carvalho, publicada nos inícios do ano corrente.

O título da obra remete-nos para a expressão idiomática "Dar uma no cravo e outro na ferradura" onde na verdade são expostos uma grande diversidade de perspectivas, ou seja os vários lados de uma contenda.

Trata-se de 84 pedaços do seu Trás-os-Montes, escritos entre o conto, a crónica e o apontamento lateral, através da perspectiva de Rentes de Carvalho, nos seus 94 anos, que nos retrata um Portugal anacrónico ao contrário do que nos transmitido através da TV ou das redes sociais um país civilizado.

No interior profundo ou na periferia das grandes cidades há ainda um terceiro estrato onde deambulam gente desamparada, resignada ou no obscurantismo mais profundo. São estas personagens escolhidas pelo autor, depois de o ter feito com os neerlandeses e ter colhido o fruto de quem tem a rudeza de confrontar um povo com a sua face.

Nesta obra, somos nós os heróis dos relatos, a partir de uma realidade vivida, contada ou recordada como nos serões antigos em que mais velhos narravam proezas idas, e em que os mais torpes pareciam saídos de um lugar remoto, porém tão excessivamente familiar.

Histórias desfiadas com aspereza e sobranceria, uma espécie de breviário que desmonta a candura de uma ruralidade não contaminada pelos novos tempos, um retrato do país, de todos nós pontuados com erotismo, humor, cumplicidade, atrevimento, proximidade, umas vezes rindo, outras vezes macambúzio.

No conto "Bingo" o autor confessa "continuo a acreditar que só as histórias do passado possuem os ingredientes necessários ao sonho. As do presente parecem quase sempre carecer de elementos essenciais... para sonhar, recordo de vez em quando as histórias de antigamente, e é como se pudesse viajar no tempo".

No entanto, nos contos "O doutor Google", Culpa da Netflix"ou no "Dom da mãe" são retratadas preocupações da atualidade como a dependência das redes sociais e dos telemóveis em que o puto Kevin "vive com telemóvel a modos de prótese", sem deixar de fazer referência às guerras brutais que decorrem no Médio Oriente e no Leste Europeu.









segunda-feira, 29 de julho de 2024

CLUBE DE LEITURA - SETEMBRO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 26 de setembro, pelas 21h00.

O livro selecionado será "Cravos e Ferraduras" de J. Rentes de Carvalho.


Sinopse: 
Um retrato dos últimos anos da vida portuguesa através de personagens escolhidas a dedo. Nenhuma delas é conhecida. Nenhuma delas merece a nossa piedade.


Entre o conto e a crónica, trocando os nomes e avariando as grandes teorias sobre o funcionamento da pátria, estes textos de J. Rentes de Carvalho retratam o país com humor, cumplicidade, atrevimento, ou uma compreensão que não pede distância, mas proximidade. Os comportamentos destas personagens não são, na maior parte das vezes, dignos de elogio ou de serem escolhidos como exemplo, não receberão medalhas no Dia de Portugal. Mas são, arrancados à vida desconhecida da província, das vilas e aldeias da pequena pátria, um dos melhores retratos de todos nós, frívolos ou sentimentais, mentirosos ou com um fingido amor pela verdade.

Este livro, que recolhe textos de diário, pequenos contos ou crónicas ficcionadas, é uma espécie de resumo dos últimos anos da vida portuguesa, um retrato do país através de pequenos apontamentos sobre personagens e vidas comuns, populares, rurais, desconhecidas - e sobre um escritor que observa o seu país, rindo ou ficando macambúzio. Ou fingindo-se.

Quem é J. Rentes de Carvalho?

De ascendência transmontana, J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para jornais como O Estado de São PauloO Globo e o Expresso. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, onde se licenciou (com uma tese sobre Raul Brandão) e foi docente de Literatura Portuguesa entre 1964 e 1988. Dedica-se desde então exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. Escreveu romances, contos, diário, crónica, e guias de viagem ou ensaios. Vive entre Amesterdão e Estevais (Mogadouro), metade do ano em cada sítio.

Críticas:


«É verdade que importa haver, no grupo extenso e variado de romancistas lusos, quem assuma o papel de retratista das figuraças dos palanques deste tempo.»
Sábado

«Vital, violento, implacável, lúcido e aquiliniano, virtuoso no vocabulário popular e numa escrita que alavanca a tradição oral.»
Visão


CLUBE DE LEITURA - JULHO 2024

Na passada quinta-feira, dia 25 de julho, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de julho do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "E três maçãs caíram do céu" de Nariné Abgarian.

Editada pela Presença e com tradução direta do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra, “E três maçãs caíram do céu foi publicado originalmente em 2015 e venceu o prémio mais importante da Rússia, o Prémio Literário Yasnaya Poliana, instituído pelo Museu Leo Tolstoi.

Também foi galardoada pela sua obra infantil, que já teve adaptações cinematográficas, a autora viveu durante alguns anos em Moscovo, tendo regressado ao seu país natal em 2022, dividindo agora o tempo entre a Arménia e a Alemanha.

É o primeiro livro da romancista arménia Nariné Abgarian a ser publicado em Portugal, romance premiado e aclamado pela crítica, ambientado numa pequena aldeia das montanhas arménias.

Esta obra, que a escritora russa Ludmila Ulitskaya descreveu como “um bálsamo para a alma”, centra-se numa mulher que se convence de que vai morrer e deita-se na cama à espera”, uma história que mescla realidade e fábula, esbatendo os limites entre racional e onírico.

A história passa-se em Maran, uma pequena aldeia montanhosa arménia, onde os aldeões apanham amoras e fazem baclava (pastel doce folhado com pasta de nozes), e onde os sonhos, as pragas e os milagres são produtos da realidade, intocados pelo tempo.

Uma antiga linha telegráfica e um perigoso caminho de montanha que até as cabras têm dificuldade em seguir são a sua única ligação ao mundo exterior.

Neste lugar perdido vive Anatólia, tranquila, deitada na sua cama, à espera da morte, convicta de que só isso pode acontecer.

Antes de se deitar e vestir a roupa fúnebre preparada para o efeito, incluindo umas meias grossas de malha, porque “toda a vida teve frio nos pés”, Anatólia dedica-se a alguns preparativos finais, que incluem regar a horta e alimentar bem as galinhas, pois não sabe quanto tempo os vizinhos demorarão a dar com o seu corpo inanimado.

Depois de se deitar e folhear o álbum da família, perde-se em divagações da memória, que a transportam até à infância, dando a conhecer ao leitor a sua vida longa, em que não concretizou o sonho de ser mãe, viveu um casamento que em vez de amor lhe trouxe sofrimento, e passou anos a cuidar da biblioteca da aldeia, o centro da sua pouca felicidade.

Deitada na cama, convencida de que vai morrer, é surpreendida por um vizinho que entra de surpresa em sua casa, com uma proposta inesperada, que vai transformar a aldeia de Maran.

Quando foi publicado e, sobretudo, quando começou a ser traduzido, o romance começou a destacar-se entre a crítica literária, pela forma cativante como retrata a vida numa aldeia remota da região montanhosa da Arménia, oferecendo um olhar único sobre a cultura e a ruralidade daquela região.

Nariné Abgarian, que escreve em russo, foi elogiada pela prosa simultaneamente autêntica e poética e pela riqueza de caracterização dos ambientes e personagens, explorando as complexidades da vida humana.

Segundo o jornal The Herald, este é um romance “maravilhoso e encantador” que “celebra a palavra ‘comunidade’”, ao passo que a Publishers Weekly destaca as descrições do quotidiano “belissimamente buriladas”.

O jornal The Guardian, que em 2020 nomeou Nariné Abgaryan “uma das mais brilhantes autoras da Europa”, elogiou o romance pelas personagens complexas, a atmosfera envolvente, a visão cativante da vida numa aldeia remota da Arménia, a prosa poética e a autenticidade da narrativa.

Em entrevista a este jornal britânico, Nariné Abgaryan conta que o seu livro favorito, “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, passado na aldeia fictícia isolada de Macondo, a deixou assombrada no final, quando todos os vestígios da existência de Macondo são apagados.

Em “E Três maçãs caíram do céu”, decidiu fazer o oposto: “Queria escrever uma história que terminasse com uma nota de esperança. A humanidade está a precisar urgentemente de esperança, de histórias simpáticas”. Por isso, nesta aldeia, apesar de isolada, onde decorrem tantos acontecimentos trágicos, sobressai um espírito comunitário e de entreajuda, os habitantes preocupam-se com o bem estar uns dos outros, que nos comove e sensibiliza para a importância do apoio que todos nós precisamos ter e dar a quem precisa, não esquecendo o poder e o universo feminino onde normalmente há amor, solidariedade, compaixão e amizade.

“Vivemos uma vida tão acelerada, que mal conseguimos falar uns com os outros, perguntar como vão as coisas. O que me incomoda é a forma como os jovens estão a deixar os mais velhos para trás”, afirmou.

Nariné Abgaryan refere que os aldeões do seu romance passam os dias a “cultivar vinho que ninguém quer ou precisa”, e acrescenta que “a globalização tem benefícios, mas também efeitos secundários negativos, quando os costumes de uma região, as coisas que definem as pessoas, são retirados”.

Apesar das desgraças, a ironia está sempre presente. A cena das botas novas, que a mulher não quis calçar ao marido quando este morreu, por achar que era um desperdício e que ele vem reclamar, assombrando-a.

É hilariante também a cena do fermento que Valinka despejou na fossa e transbordou durante a noite, deixando um cheiro horrível em toda a aldeia.

As referências às guerras também, são pouco esclarecedoras sobre o período que decorrem. "Quando a guerra começou, Anatólia tinha 42 anos", (p. 31). "Passaram mais 7 anos, a guerra terminou" (p. 34). "Tigran entrou na Academia Militar e aos 25 anos já tinha alta patente. "Começou a guerra, durante 8 anos não houve notícias dele", (p. 102). "Um ano depois, partiu para o Norte, para não ser apanhado por outra guerra" (p. 103). Pode ser a Primeira Guerra Mundial, pode ser o genocídio Arménio, o extermínio Otomano, entre 1915 e 1923.

Por todos os motivos sugerimos a leitura desta prestigiada obra e deixem "rolar nas suas mãos frescas três maças que depois, tal como rezam as lendas de Maran, deixará cair do céu na terra - uma para quem viu, outra para quem contou e a terceira para quem ouviu e acreditou no bem."










sábado, 29 de junho de 2024

CLUBE DE LEITURA - JULHO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 25 de julho, pelas 21h00.

O livro selecionado será "E três maçãs caíram do céu" de Nariné Abgarian.



Sinopse: Numa pequena aldeia das montanhas arménias, onde o tempo parece não passar, uma mulher convence-se de que vai morrer e deita-se na cama, à espera. Mas um vizinho entra em sua casa com uma proposta inesperada.

Em Maran, uma pequena aldeia aninhada nas montanhas arménias, os sonhos, as pragas e os milagres são produtos da realidade, intocados pelo tempo. É neste lugar perdido que encontramos Anatólia, tranquila, deitada na sua cama, à espera da morte, convicta de que só isso pode acontecer.

Anatólia teve uma vida longa, não foi mãe como tanto desejou, passou anos a cuidar da biblioteca da aldeia, centro da sua pouca felicidade, e foi mulher num casamento em que o sofrimento substituiu o amor. Agora, sabe-o, vai morrer. Porém, Vassíli, o vizinho, entra de surpresa em sua casa: ele tem outros planos e uma proposta inesperada para lhe fazer.

E assim começa a história que vai transformar a aldeia de Maran, uma história que mescla realidade e fábula, que confunde as fronteiras do racional e do onírico, e não deixa ninguém - naquela aldeia ou deste lado do romance - indiferente.


Quem é Nariné Abgarian?




Romancista arménia premiada, Nariné Abgarian escreve em russo e ganhou grande reconhecimento com a publicação de E Três Maçãs Caíram do Céu, em 2015, um bestseller internacional que lhe valeu o prémio Iasnaia Poliana. Também galardoada pela sua obra infantil, que já teve adaptações cinematográficas, a autora regressou ao seu país natal em 2022, dividindo agora o seu tempo entre a Arménia e a Alemanha.

Críticas: 


«Leiam este livro: é um bálsamo para a alma.»
Ludmila Ulitskaya, autora de Sonechka

«Um romance em que as descrições do quotidiano são belissimamente buriladas para deixar as personagens , tão simples e, porém, tão complexas, brilhar.
Publishers Weekly

«Maravilhoso e encantador, este romance celebra a palavra "comunidade" com um enredo em que o lado mágico e a fábula transformam a simplicidade na mais delicada escrita.»
The Herald Journal

CLUBE DE LEITURA - JUNHO

Na passada quinta-feira, dia 27 de junho, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de junho do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "Dor fantasma" do escritor brasileiro Rafael Gallo, vencedor do Prémio Literário José Saramago em 2022.

Em 2015 publicou a obra "Rebentar", vencedora do Prémio São Paulo de Literatura, em 2012 "Réveillon e outros dias", vencedora do Prémio Sesc de Literatura, tem também antologias e coletâneas publicadas em diversos países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Tem sido muito bem acolhido, com críticas favoráveis por parte da nova geração de escritores, sobretudo portugueses, tais como José Luís Peixoto, João Tordo, Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares e Bruno Vieira Amaral.

A obra está dividida em apenas quatro capítulos. O primeiro, Coda, que paradoxalmente corresponde à parte final de uma obra literária ou musical. O segundo, Exposição, o terceiro, Desenvolvimento e quarto, Cadenza.

Assim, estamos sem dúvida, perante uma obra muito bem estruturada, que revela uma grande experiência narrativa, e, que, segundo a opinião de Nélida Piñon, o autor é um "herdeiro das portas da imaginação, que Homero abriu", na qual se destaca uma grande capacidade criativa conseguindo fazer o cruzamento entre a música, a literatura e a frágil condição humana. 

Sendo a música a área de formação de Gallo, é por aí que somos conduzidos através de sinfonias musicais eruditas magistralmente executadas por um artista, que passamos a conhecer profundamente.

É a história de um pianista clássico, o Rómulo Castelo, que é um homem muito obcecado, como o são alguns músicos clássicos: aspiram à perfeição. Ele só tem isso na vida dele — o casamento é um fracasso, ele praticamente não interage nem com a mulher nem com o filho, que tem paralisia cerebral e é o oposto da perfeição. Vai vivendo à espera da sua grande estreia com uma peça de Liszt, conhecida como uma ‘peça intocável’, o “Rondo Fantastique”, mas a dado momento sofre um acidente e fica com a mão direita amputada. E já não pode mais ser o grande pianista que ele sabe ser, nem consegue refazer o sentido da sua vida, entrando uma espiral de derrocada, em busca de retomar o que ele nunca chegou a ser. Porque achava que ia fazer a grande estreia daquela peça, e quando a tocasse o mundo inteiro ia saber quem ele é.

A crise pessoal do Rómulo é um quebrar dessa rigidez, desse olhar que procura o caminho certo e não concebe sair dele. Isto é algo com o qual o autor confessa em entrevista, que teve que lidar na sua vida pessoal e andava à procura de exorcisar. "É curioso porque o lado da música é de facto o mais aparente, mas o que mais me aproxima da personagem são outros traços ainda mais profundos".

Ao longo da leitura da obra, que nos prende desde o princípio até ao final, que está carregada de dor, ironia, desespero, traumas, enclausuramento, em que a personagem se vai tornando grotesca, cruel, somos conduzidos e alertados para uma reflexão contemporânea e até de outros tempos sobre os perigos de uma educação com excesso de rigor, perfeccionismo e egocentrismo doentios, que criam verdadeiros monstros e casos patológicos.

Relembrando a citação no início da obra, define-se muito do seu desenvolvimento posterior: 

"Você é o cavaleiro louco que matou o dragão, depois matou a donzela e por fim destroçou também a si mesmo.

Na realidade, você é o dragão."

 Amós Oz (1939-2018), escritor e pacifista israelita












quarta-feira, 29 de maio de 2024

CLUBE DE LEITURA - JUNHO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 27 de junho de maio, pelas 21h00.

O livro selecionado será "A dor fantasma" de Rafael Gallo.


Sinopse: Rômulo Castelo, um pianista virtuoso, dedica-se inteiramente a buscar a perfeição na sua arte e, todas as manhãs, ao acordar, fecha-se na sua sala de estudos e ensaia aquela que é considerada a peça intocável de Liszt, o Rondeau Fantastique. Em breve, Rômulo irá oferecê-la ao mundo, numa tournée pela Europa que o sagrará como o maior intérprete daquele compositor. A vida, porém, tem outros planos e, de um dia para o outro, Rómulo vê fugir-lhe aquele que julgava ser o seu lugar por direito no pódio do mundo.

Quem é Rafael Gallo?

Nasceu e vive em São Paulo, no Brasil, onde publicou o romance Rebentar (2015), vencedor do Prémio São Paulo de Literatura, e Réveillon e outros dias (2012), livro de contos vencedor do Prémio Sesc de Literatura. Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Com Dor fantasma, foi laureado vencedor do Prémio Literário José Saramago 2022.

Opiniões

Romance inquietante com música dentro, e também dor e desespero. A ânsia de alcançar a perfeição cruza-se com todas as fragilidades humanas. Uma leitura que prende. Absolutamente.

Pilar del Río


A mão de Rafael Gallo […] é mão cirúrgica, aplicando incisões seguras e sábias, é mão de pintor, na pincelada criativa e intencional, é mão de maestro segurando a batuta e guiando a orquestra num crescendo de som e fúria a culminar no magistral desenlace do romance.

Bruno Vieira Amaral


Uma escrita e uma história que carregam dor, mas também ironia e uma certa alegria que paira, apesar de tudo, por ali, como um outro fantasma, benigno, na sala.

Gonçalo M. Tavares


Dor Fantasma é um belíssimo romance […]. O cruzamento entre a música, a literatura e a fragilíssima condição humana (representada, neste livro, pelo atavismo) é absolutamente brilhante.

João Tordo


Estamos em presença de um texto seguro, que guia quem lê por caminhos que provocam diversas reflexões contemporâneas e de todos os tempos, como é o caso do contraste entre o humano e a arte, entre a imperfeição e o ideal.

José Luís Peixoto


Rafael Gallo tem um enorme talento, uma grande experiência narrativa e, sem dúvida, ele é um herdeiro das portas da imaginação, que Homero abriu.

Nélida Piñon


O livro de Rafael Gallo é brilhante. Este romance é ele mesmo educado, no sentido em que as feras podem ser eruditas na sua própria caçada, no rigor de sua mordida, no exercício de seus temores.

Valter Hugo Mãe


CLUBE DE LEITURA- MAIO 2024

Na passada terça-feira, dia 28 de maio, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de maio do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "Senhor Ventura" de Miguel Torga, publicada em 1943.

Em 1985, foi publicada uma nova edição e o próprio autor, no prefácio, confessou que esta obra tinha sido escrita de uma "assentada" e, passados quase 40 anos, na verdade, pretendia deixá-la no esquecimento.


No entanto, acaba por fazer uma espécie de revisão, justificando que naquela época "os atrevimentos são argumentos", deixando a "nu toda a fantasia descabelada e toda a canhestrez expressiva que se tem na juventude", mas a lucidez e benevolência que adquiriu ao longo da vida, levaram-no, pelo contrário, a recuperá-la, limpando-a de "impurezas" e dando um "jeito", numa tentativa de torná-la mais legível.

Trata-se de uma novela dividida em três partes, num total de 33 capítulos curtos, em que Miguel Torga deu asas à imaginação, também porque segundo ele, a caneta parecia o "cabo endiabrado de uma vassoira de feiticeira", por isso voou e esqueceu as leis da gravidade. "Portuguesmente verosímil", os lusitanos foram e serão sempre "andarilhos do mundo", capazes do melhor e do pior, nesta aventura que se inicia em Penedono, no Alentejo, passa por Lisboa, Macau, Pequim, Mongólia, Xangai, Cantão, Hong Kong, Nanquim, etc.

Pícara, ingénua, maliciosa, safada, trágica no fim, porque em tragédia sempre morrem os mitos. E este mito é bem português, fadado para enfrentar as agruras da vida numa peregrinação aventurosa de um emigrante, com mortos e feridos, miséria e grandeza, amores e traições, fomes e febres, alegrias entre o Oriente, Tatiana e Penedono.










segunda-feira, 6 de maio de 2024

CLUBE DE LEITURa - MAIO 2024

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. 

As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

O Clube de Leitura reunirá a 28 de maio, pelas 21h00.

O livro selecionado será "O senhor Ventura" de Miguel Torga.



Sinopse: 
«E que história a sua! - pícara, ingénua, maliciosa, safada, trágica, ao fim, porque em tragédia sempre morrem os mitos. […] E, no entanto, que mais português que o Ventura, na sua peregrinação, entre mortos e feridos, miséria e grandeza, amores e traições, fomes e febres, e alegrias - entre o Oriente, Tatiana e Penedono?
[…]
Pode finalmente dizer-se que jamais um mito tão bem baptizado foi, em nome assim e fatalmente português.»

José-Augusto França

Quem é Miguel Torga?




Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, autor de uma vasta produção literária, largamente reconhecida e traduzida em várias línguas. Nasceu em S. Martinho de Anta em 1907. Depois de uma experiência de emigração no Brasil durante a adolescência, cursou Medicina em Coimbra, onde passou a viver e onde veio a falecer em 1995. Foi poeta presencista numa primeira fase; a sua obra abordou temas sociais como a justiça e a liberdade, o amor, a angústia da morte, e deixou transparecer uma aliança íntima e permanente entre o homem e a terra. Estreou-se com Ansiedade, destacando-se no domínio da poesia com Orfeu RebeldeCântico do Homem, bem como através de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu Diário; na obra de ficção distinguimos A Criação do MundoBichosNovos Contos da Montanha, entre outros. O Diário ocupa um lugar de grande relevo na sua obra. Também como escritor dramático, publicou três obras intituladas Terra FirmeMar e O Paraíso. Recebeu, entre outros, o Prémio Montaigne em 1981, o Prémio Camões em 1989 e o Prémio Vida Literária (atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores) em 1992.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

CLUBE DE LEITURA - ABRIL

Na passada terça-feira, dia 23 de abril, pelas 21h00, decorreu a sessão mensal do Clube de Leitura para a análise e discussão da obra poética "País de Abril" de Manuel Alegre, numa especial homenagem aos 50 anos do 25 de Abril.

Manuel Alegre é um poeta com um percurso de vida inspirador, que quase dispensa apresentações.  Resistente e incorformista, foi um jovem tribunício em Coimbra, conspirativo nos Açores, combatente em África, resistente comunista na prisão e no exílio em Argel, radialista, protagonista do Partido Socialista, ministro, deputado, candidato presidencial... Mas também nadador, caçador, pescador, amante de touradas, letrista de fados, um rebelde desde cedo da causa da liberdade.

País de Abril é uma breve antologia, com uma poesia acessível, clara, objetiva, dividida em duas fases. Uma escrita antes do 25 de abril, onde nos é revelada uma antevisão da revolução dos cravos de abril, de maio, naquele tempo associado à primavera e a renovação. 

Nesta obra poética fazem parte poemas que nos falam de abril antes de Abril e de Maio antes de Maio, no poema Praça da Canção, editada em 1964, e em O Canto e as Armas, de 1967.

Em O Canto e as Armas há, por exemplo, aqueles quatro versos de «Poemarma» que, decerto, anunciam o primeiro comunicado da Revolução:


«Que o poema seja microfone e fale

uma noite destas de repente às três e tal

para que a lua estoire e o sono estale

e a gente acorde finalmente em Portugal».


Mas, também, em «Lisboa perto e longe», a estrofe que canta, sete anos antes, Lisboa na rua, de cravo vermelho na mão, no Primeiro de Maio de 1974:


«Lisboa tem um cravo em cada mão

tem camisas que Abril desabotoa

mas em Maio Lisboa é uma canção

onde há versos que são cravos vermelhos

Lisboa que ninguém verá de joelhos.»

 

No poema "Vinte anos depois", está estampado o seu receio de um retrocesso, "a história escreve-se ao contrário". O último poema é dedicado ao "herói que não se rende", Salgueiro Maia, este sim, segundo o poeta representa a "pureza inicial".

Para a merecida homenagem cantou-se alguns dos seus poemas musicados como a "Trova do vento que passa" e "Meu amor é marinheiro".

Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade! Vivam os Poetas!