sexta-feira, 26 de outubro de 2018

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO - 6º ANIVERSÁRIO


https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gifO Clube de Leitura da Biblioteca Municipal ontem, para comemorar o 6º aniversário, realizou a sua habitual sessão mensal na sala reservada do restaurante Fábrica dos Sentidos, para a abordagem e análise da obra "O casamento"  do controverso  jornalista, cronista, teatrólogo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980).

Nelson Rodrigues escreve obsessivamente sobre sexo, incesto, taras, em toda a espécie de desvios sexuais e afirmando que  "temos de encher o palco de uma rajada de monstros, o personagem tem que ser um monstro para que o espectador não seja". Para funcionar como uma espécie de catarse, pois segundo ele "cada vez que um personagem mata alguém em cena, alguém deixará de matar na vida real". Ele achava que o ser humano nasceu para se tornar santo.
O poeta Manuel Bandeira pediu-lhe a certa altura que escrevesse uma peça com pessoas normais ao que ele respondeu "Meu caro Manuel, eu só faço peças sobre pessoas como eu ou você! Todos somos aquilo."

Na revista Ler, nº 148, Ruy Castro, famoso autor de várias biografias de personalidades como Carmen Miranda, Garrincha, também publicou uma biografia de Nelson Rodrigues, com o título "Anjo pornográfico", tal como Nelson se autodenominava, na qual expõe muita sua da vida e personalidade.
Ruy Castro conheceu-o quando era menino de colo. Inicialmente, através de contos diários, uma moda na época, com o título  "A vida como ela é..." que ele publicava no jornal "Última hora", nos anos 50, que a mãe de Castro devorava e lhos lia, apesar dos seus inocentes 4 anos de idade.
Mais tarde vai conhecê-lo profissional e pessoalmente no jornal onde trabalhavam os dois. Era uma personalidade controversa e provocadora com o objetivo específico de produzir um abanão na sociedade carioca da época.

Segundo uma das participantes do debate de ontem, nota-se uma forte concentração de personagens com uma tão grande multiplicidade de pensamentos, tão díspares, o que nos exige um esforço enorme para compreender este complexo emaranhado entre a excentricidade e a loucura

É uma obra irónica, de crítica e sátira social a uma sociedade da época, cheia de preconceitos e tabus, por um lado desconcertante, mas ao mesmo tempo com momentos hilariantes, possivelmente verosímeis.

Em apenas 24 horas - aquelas que antecedem o casamento de Glorinha, menina dos olhos do seu pai (até em demasia) - o autor concentra nesta narrativa um desfile intenso de todas as obsessões que tanto o mitificaram como o tornaram maldito: adultério, incesto, moralismo, sexo e morte. Sabino, o pai, é informado que o seu genro foi apanhado a beijar outro homem e tem de decidir o que fazer: o problema é que um casamento não se adia, nem que para isso todas as vidas envolvidas fiquem viradas do avesso.
O Casamento é o único romance em nome próprio no meio das dezenas de peças de teatro e centenas de crónicas e ficções curtas escritas por Nelson Rodrigues. O livro foi feito por encomenda, concluído em apenas dois meses, e foi confiscado pela ditadura brasileira logo depois de ter sido publicado em 1966 por ser considerado «um atentado contra a organização da família».

Nelson Rodrigues é um mito do século xx brasileiro, e um dos escritores mais prolíferos e aclamados. Nasceu no Recife em 1912, mudando-se em 1916 para o Rio de Janeiro, cidade que seria o cenário privilegiado de toda a sua obra. Começou a trabalhar como jornalista aos 13 anos, logo na secção policial, num jornal fundado pelo pai, e nunca mais parou. Fez da crónica e da escrita um hábito diário e destacou-se em todos os géneros literários, pela qualidade e pela quantidade: escreveu 17 peças de teatro, nove romances e milhares de páginas de contos e crónicas, que mais tarde deram origem a várias edições de textos reunidos, assim como a adaptações para teatro, cinema e televisão. Idolatrado e odiado, politicamente conservador, Nelson Rodrigues tanto apoiou a ditadura militar brasileira como foi, mais tarde, defensor acérrimo das suas vítimas. Reacionário assumido, desencadeou sempre sentimentos fortes, não só devido à sua obra como também à sua vida pública e privada. Morreu no Rio de Janeiro em 1980. 

Se Freud fosse vivo, ou a qualquer psiquiatra dos dias de hoje, neste obra, teria na totalidade destas personagem os mais variados casos de estudo.

Nestes últimos 6 anos temo-nos encontrado todos os meses, sem interrupção, (excetuando agosto), para falar de livros com base numa seleção que tem sido consensual.
Tudo isso merece uma congratulação. A persistência dos nossos encontros, o gosto comum pela partilha de ideias e, sobretudo, o prazer da leitura.
Citando A. P. Oliveira em relação aos livros, "desejo-os para recuperar a serenidade. Sem eles, a imaginação atrofia, as ideias acorrentam-se e a solidão torna-se insuportável. Sem eles, tudo é escuridão. Eles trazem luz. Tranquilamente provocadores".

Carpe Librum!

 
6º Aniversário do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de S. João da Madeira.


 
 
 
 
 
 


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

 Livro indicado: "O Casamento" de Nelson Rodrigues (1966)



Sinopse: Em apenas 24 horas - aquelas que antecedem o casamento de Glorinha, menina dos olhos do seu pai (até em demasia) - o autor concentra nesta narrativa um desfile intenso de todas as obsessões que tanto o mitificaram como o tornaram maldito: adultério, incesto, moralismo, sexo e morte. Sabino, o pai, é informado que o seu genro foi apanhado a beijar outro homem e tem de decidir o que fazer: o problema é que um casamento não se adia, nem que para isso todas as vidas envolvidas fiquem viradas do avesso.

O Casamento é o único romance em nome próprio no meio das dezenas de peças de teatro e centenas de crónicas e ficções curtas escritas por Nelson Rodrigues. O livro foi feito por encomenda, concluído em apenas dois meses, e foi confiscado pela ditadura brasileira logo depois de ter sido publicado em 1966 por ser considerado «um atentado contra a organização da família».


Data: 25 outubro, 21h00 às 22h00

Nelson Rodrigues é um mito do século xx brasileiro, e um dos escritores mais prolíferos e aclamados. Nasceu no Recife em 1912, mudando-se em 1916 para o Rio de Janeiro, cidade que seria o cenário privilegiado de toda a sua obra. Começou a trabalhar como jornalista aos 13 anos, logo na secção policial, num jornal fundado pelo pai, e nunca mais parou. Fez da crónica e da escrita um hábito diário e destacou-se em todos os géneros literários, pela qualidade e pela quantidade: escreveu 17 peças de teatro, nove romances e milhares de páginas de contos e crónicas, que mais tarde deram origem a várias edições de textos reunidos, assim como a adaptações para teatro, cinema e televisão. Idolatrado e odiado, politicamente conservador, Nelson Rodrigues tanto apoiou a ditadura militar brasileira como foi, mais tarde, defensor acérrimo das suas vítimas. Reacionário assumido, desencadeou sempre sentimentos fortes, não só devido à sua obra como também à sua vida pública e privada. Morreu no Rio de Janeiro em 1980. 

Nelson Rodrigues  casou-se com Elza Bretanha, 
sua colega de redação em 1940
 
  Estátua de Nelson Rodrigues 
Copacabana - Rio de Janeiro




Curiosidades sobre o livro, por Graça Serra:


A propósito de "O casamento" de Nelson Rodrigues: o que é "Mãe-benta"?



Página 28:



"...passa uma das filhas com um prato de mãe-benta".



Fui ver do que se tratava e descobri que é o nome de um bolo típico brasileiro, bastante antigo.



Aqui vai o link com a história do nome e também a receita. Quem sabe a "nossa boleira preferida" (leia-se Ana Paula) não quer experimentar a receita e levar para nós vermos se ficou bem?????????

Tantas vezes o padre Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça de 1831 a 1832 e regente do Império Brasileiro entre 1835 e 1837, era visto na Rua das Violas, hoje Teófilo Ottoni, no centro do Rio de Janeiro, indo para a casa do cônego Geraldo Leite Bastos, seu amigo pessoal, de vida religiosa, correligionários e irmão de Maçonaria.

 
Página 40:



"Outra coisa que o espantava é que Burle Marx não põe bananeiras nas suas paisagens"




Roberto Burle Marx (São Paulo, 4 de agosto de 1909 – Rio de Janeiro, 4 de junho de 1994) foi um artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto paisagista.. Morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor de todo o mundo.

Junto algumas dicas que minha irmã , arquiteta e a morar em S. Paulo desde 1980, me mandou:




"Quanto ao Burle Marx, ele ficou famoso por ser grande companheiro de trabalho do Oscar Niemeyer. Ele era artista plástico, mas exerceu a função de arquiteto paisagista e desenhou muito em Brasília acompanhando Niemeyer. Na realidade ele foi um marco no paisagismo brasileiro, seguido por imensos países, fazendo a ruptura com o geometrismo e introduzindo as formas orgânicas. Digamos que acabou com o formato dos célebres jardins franceses!

Depois introduziu plantas exóticas e bem brasileiras no seus projetos, coisas bem da Amazónia. E fez espaços contemplativos, recantos, caminhos através da mata nativa. Tem um projeto em Águas de Lindóia, é muito bonito. Chama-se Praça Adhemar de Barros, e como todos os projetos dele, não é uma pracinha, é um espaço muito grande. Ele foi muito, muito bom e deu uma revolução nos espaços públicos e nas formas."
Praça Adhemar de Barros, em Águas de Lindóia



Página 62:


"Sabia 'In extremis', de Bilac, todinho." 











E nós portugueses também temos um Olavo Bilac (cantor). Que por acaso deve o seu nome ao poeta brasileiro, como ele contou ao jornal "Expresso" em 2017. Em baixo, um extrato dessa crónica. 

Olavo Bilac Português

 "O poeta esteve em Lisboa em 1916. Não sabemos se Cristina Lima (avó do cantor) chegou a falar com Olavo Bilac quando o paquete da companhia holandesa Zeeland aportou em Cabo Verde em 1916. O príncipe dos poetas brasileiros – como era então conhecido – embarcou em Lisboa na primeira semana de abril, depois de ter sido homenageado e aclamado na capital portuguesa.

Eram longas as viagens da Europa para a América do Sul, com paragens em vários portos para entrada e saída de mercadorias e passageiros. É provável que o autor do Hino à Bandeira [do Brasil] tenha aportado em Cabo Verde e que Cristina o tenha visto. O neto sabe apenas que ela batizou o filho com esse nome. E que por sua vez, o cabo-verdiano que cresceu em Macau e foi funcionário do Banco Nacional Ultramarino em Moçambique, transmitiu o nome que recebera de Cristina [sua mãe] ao filho, nascido em 1967 e que viria a ser cantor."

Página 210 :

"O Cristo de S. João da Cruz", de Salvador Dali, é descrito por Vicente, cabeleireiro de Glorinha: "Um Cristo sem rosto e musculado como um nadador".

O quadro encontra-se num museu em Glasgow.

Segue também um link com o original de S. João da Cruz que inspirou Dali. Pode ser visto em Ávila, no Convento da Encarnação.  

Este quadro é também a obra de arte de eleição de Jorge Sampaio, achei curiosa a coincidência. 

Siga-nos nas Redes Socias:Autoria de LuDiasBH Quero que meu Cristo seja o quadro que contenha mais beleza e alegria do que tudo quanto se tenha pintado até agora. (…) Agora, a nova época da pintura mística começa comigo! (Dalí) Salvador Dalí iniciou seu período místico lendo São João da Cruz, Santa Tereza de Ávila e …




http://www.snpcultura.org/vol_Cristo_sao_joao_cruz_obra_arte_eleicao_jorge_sampaio.html
«Cristo de S. João da Cruz»: obra de arte de eleição de Jorge Sampaio. Em entrevista à edição da revista «Artes & Leilões» de Fevereiro 2009, antigo Presidente da República, escolhe sem hesitação o Cristo de S. João da Cruz como a sua obra de arte de eleição. Excerto da conversa, por «e-mail», com a jornalista Fátima Vieira.