Ontem, pelas 21h00 decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura, para a discussão e abordagem da obra "La coca" de José Rentes de Carvalho, segundo uma sugestão de Teresa Stanislau.
O transmontano José Rentes de Carvalho guia-nos numa viagem entre a Galiza e o Minho numa pretensa investigação policial sobre o contrabando e o tráfico de droga, mas que o faz mergulhar num mar de recordações sobre aquela região, onde viveu quando era muito jovem.
É uma viagem cheia de nostalgias, melancolias e memórias, sendo por isso considerada autobiográfica.
Assim, na página 67, dá-nos conta das primeiras impressões da sua chegada a Lanhelas "A paisagem dos campos e bosques que se via do meu quarto, o rio, as serranias, a nesga de mar ao pé de Santa Tecla, isso de facto seduziu-me. Mas era serenidade demais, beleza demais, um equilíbrio tão perfeito que logo me faltou a desordem e o bulício a que me tinha habituado na infância, quando da minha janela olhava para o Porto. Aqui tudo respirava paz. Em vez da cacofonia citadina os ruídos eram distintos, cada galo esperava o seu momento de poder cantar, o ladrar dos cães espaçado como um diálogo"
A sua prosa tem uma estrutura frásica simples, com expressões quase jornalísticas, é limpa, agradável, elegante, irónica, umas vezes terna, outras vezes grotesca. Tanto apresenta uma beleza paisagística tranquila como uma violência de um Portugal que se desconhecia.
Rentes de Carvalho revela-nos que foi na biblioteca da Casa do Outeiral que descobriu o prazer da música, da arte e da leitura fazendo referência a obras que o terão marcado, como os clássicos, Proust com "Em busca do tempo perdido" e mais tarde "Patagónia" de Bruce Chatwin.
"Custou-me a acreditar, mas no resto do Verão foi lá que me fechei, descuidando as amizades, os amores, as festas e as companhias (...) Mas tudo eram tristezas passageiras que não enevoavam a euforia que eu diariamente vivia na biblioteca, onde de vez em quando me tomava a certeza louca de que ao achar nos livros tanta beleza e tanta sabedoria, a minha obrigação era correr a melhorar o mundo."
Foi conhecer o mundo e em Paris através de amigos comuns, cruzou-se com Pablo Picasso que na vida o aconselhou a saber usar la coca, a cabeça.
Rentes vive para contar e para colocar em ordem as emoções, muito embora remexer no passado lhe faça aumentar o desassossego.
E agora José?
Por nós pode continuar...
Por nós pode continuar...
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