sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

CLUBE DE LEITURA - FEVEREIRO

Ontem, pelas 21 horas, decorreu a sessão do Clube de Leitura de fevereiro, para a análise e discussão da obra "Um castelo em Ipanema" da brasileira Martha Batalha.

A narrativa, estruturalmente, não é linear, é até um pouco complexa, porque a autora recorre de forma inteligente, a analepses (interrupções cronológicas para esclarecer algo do passado) e a prolepses  (acontecimentos futuros). Esta é uma técnica recorrente neste romance, o que nos obriga a redobrar a atenção, porque a história se inicia no princípio do século XX, mais precisamente em 1904 e vai quase até à atualidade.

Trata-se de um romance leve, mas com alguma profundidade, de leitura fluída,  agradável e que até apetece ler de um fôlego.

Chega-nos o calor, a exuberância do Brasil e ao mesmo tempo o tom cinzento de duas das histórias dramáticas que atravessam o passar de um século, tem o tom lírico dos brasileiros, drama familiar, personagens marcantes no cenário carioca, mais precisamente em Ipanema, onde dá vontade de mergulhar na próxima oportunidade de uma viagem.

A situação política, económica e social  do Brasil durante este período de tempo também é muito bem retratado. Percorremos a história do Brasil do século XX, não faltando sempre as referências à poesia, à música, à célebre Garota de Ipanema, à Bossa Nova e, claro, ao Carnaval.

Curiosamente, o Castelinho de Ipanema existiu de verdade, tal como o cônsul sueco Johan Edward Jansson, que o mandou construir em 1904, assim como muitas das personagens.  

Assim, ao longo de 110 anos conhecemos um saga familiar imersa em história, construída com humor, ironia e sensibilidade. A riqueza e a complexidade dos múltiplos personagens criados pela autora permitem tratar de temas que se entrelaçam e definiram a sociedade brasileira nas últimas décadas, como o sonho da ascensão social, os ideais femininos e feministas, a revolução sexual, a reação ao golpe militar, a divisão de classes, a deterioração do país.

Um romance comovente sobre escolhas e arrependimentos, sobre a matéria granular da memória e as mudanças impercetíveis e irremediáveis do tempo.

 


 

 

 

 

 






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