segunda-feira, 30 de junho de 2025

CLUBE DE LEITURA - JUNHO 2025

Na passada quinta-feira, dia 26 de junho, pelas 21h00 decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura, para análise e discussão da obra "Cabeça, coração e estômago" de Camilo Castelo Branco, obra publicada postumamente em 1962.

Em 1859, o romance entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido torna-se do conhecimento público no Porto, levando ambos à prisão. Camilo tinha então 34 anos. Este episódio marca o início de um período particularmente fértil na sua produção literária, durante o qual escreve várias obras, entre elas Coração, Cabeça e Estômago.

O romance tem como protagonista Silvestre da Silva, que, após a sua morte, deixa uma autobiografia ao seu editor (Camilo Castelo Branco) na esperança de que este a publique para saldar as dívidas que deixou por pagar.

 A obra está dividida em três partes, cada uma representando uma fase distinta da vida do protagonista:

Coração

Passada em Lisboa, esta parte acompanha a juventude de Silvestre da Silva, marcada por pelas emoções, pelo coração, tendo vários amores fugazes e superficiais, que acabam invariavelmente em desilusão. Entre as suas paixões contam-se: uma vizinha órfã, uma vizinha de nome desconhecido, uma quarentona que gere uma hospedaria, Clotilde (uma mulher casada), uma viúva proprietária de um hotel, uma mulata e Elisa de La Salete.

Cabeça

Decorrida na cidade do Porto, esta fase corresponde à idade adulta de Silvestre e a uma tentativa de vida mais racional e responsável. Valoriza a carreira, colabora com o Periódico dos Pobres e procura casar com uma mulher rica e séria. Uma tentativa que acaba por falhar. Acaba acusado e condenado por calúnia, agravando a sua frágil situação financeira. Apesar disso, começa aqui a alimentar ambições políticas.

 Estômago

A terceira e última parte decorre na província, entre Soutelo e Carrazedo de Montenegro. Marca o início de uma vida mais tranquila e serena, centrada no prazer da boa mesa. Já mais velho, Silvestre casa-se com Tomásia, que o trata bem, e instala-se na casa do sogro. A sua principal preocupação passa a ser o bem-estar físico e o prazer gastronómico.

Convida o editor a passar uma temporada em sua casa. Este, crítico do desprendimento intelectual do protagonista, acusa-o de se ter “entorpecido”. Silvestre responde com a frase: “Brutaliza-te, faz-te estômago”, numa tentativa de convencer o amigo a render-se aos prazeres da gula.

É nomeado regedor, o seu primeiro sucesso político, mas acaba acusado de abuso de poder em benefício próprio, numa crítica evidente à classe política.

Morre provavelmente em consequência dos excessos alimentares e da negligência com a própria saúde. Deixa os seus escritos ao editor, que os publica, que não parece muito convencido do talento do amigo e autor.

A obra é uma crítica à sociedade da época, destacando a devassidão, a hipocrisia, a duplicidade e decadência moral, visando várias classes, como os ricos, políticos e o clero.

A linguagem utilizada na obra é algo complexa, com muitas expressões e frases da época em que o texto foi escrito, bem como várias palavras desconhecidas para os leitores atuais, o que dificulta uma leitura fluída e clara. 









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