Na passada quinta-feira, dia 26 de
junho, pelas 21h00 decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura, para análise e
discussão da obra "Cabeça, coração e estômago" de Camilo Castelo
Branco, obra publicada postumamente em 1962.
Em
1859, o romance entre Camilo Castelo Branco e Ana Plácido torna-se do
conhecimento público no Porto, levando ambos à prisão. Camilo tinha então 34
anos. Este episódio marca o início de um período particularmente fértil na sua
produção literária, durante o qual escreve várias obras, entre elas Coração,
Cabeça e Estômago.
O
romance tem como protagonista Silvestre da Silva, que, após a sua morte, deixa
uma autobiografia ao seu editor (Camilo Castelo Branco) na esperança de que
este a publique para saldar as dívidas que deixou por pagar.
A
obra está dividida em três partes, cada uma representando uma fase distinta da
vida do protagonista:
Coração
Passada
em Lisboa, esta parte acompanha a juventude de Silvestre da Silva, marcada por
pelas emoções, pelo coração, tendo vários amores fugazes e superficiais, que
acabam invariavelmente em desilusão. Entre as suas paixões contam-se: uma
vizinha órfã, uma vizinha de nome desconhecido, uma quarentona que gere uma
hospedaria, Clotilde (uma mulher casada), uma viúva proprietária de um hotel,
uma mulata e Elisa de La Salete.
Cabeça
Decorrida
na cidade do Porto, esta fase corresponde à idade adulta de Silvestre e a uma
tentativa de vida mais racional e responsável. Valoriza a carreira, colabora
com o Periódico dos Pobres e procura casar com uma mulher rica e séria. Uma
tentativa que acaba por falhar. Acaba acusado e condenado por calúnia,
agravando a sua frágil situação financeira. Apesar disso, começa aqui a
alimentar ambições políticas.
Estômago
A
terceira e última parte decorre na província, entre Soutelo e Carrazedo de
Montenegro. Marca o início de uma vida mais tranquila e serena, centrada no
prazer da boa mesa. Já mais velho, Silvestre casa-se com Tomásia, que o trata
bem, e instala-se na casa do sogro. A sua principal preocupação passa a ser o
bem-estar físico e o prazer gastronómico.
Convida
o editor a passar uma temporada em sua casa. Este, crítico do desprendimento
intelectual do protagonista, acusa-o de se ter “entorpecido”. Silvestre
responde com a frase: “Brutaliza-te, faz-te estômago”, numa tentativa de
convencer o amigo a render-se aos prazeres da gula.
É
nomeado regedor, o seu primeiro sucesso político, mas acaba acusado de abuso de
poder em benefício próprio, numa crítica evidente à classe política.
Morre
provavelmente em consequência dos excessos alimentares e da negligência com a
própria saúde. Deixa os seus escritos ao editor, que os publica, que não parece
muito convencido do talento do amigo e autor.
A
obra é uma crítica à sociedade da época, destacando a devassidão, a hipocrisia,
a duplicidade e decadência moral, visando várias classes, como os ricos,
políticos e o clero.
A linguagem utilizada na obra é algo complexa, com
muitas expressões e frases da época em que o texto foi escrito, bem como várias
palavras desconhecidas para os leitores atuais, o que dificulta uma leitura
fluída e clara.
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