Decorreu ontem, mais uma
participativa sessão do Clube de Leitura, com a apreciação da obra "Quem
me dera ser onda" do escritor angolano Manuel Rui.
Foram vários os aspectos referidos e
foi unânime a opinião de que sendo aparentemente uma história infantil, é no
entanto um livro sério que nos fala de diferenças sociais, de poder político,
de corrupção, de sentimentos e lições de vida. Toda a história é uma metáfora.
Um porco que é levado para um apartamento onde são proibidos animais, com a
finalidade de ser engordado para a matança no carnaval. Duas crianças que se
afeiçoam ao animal e que tentam impedir a todo o custo o final que lhe está
reservado. Os vizinhos e administrador do prédio, que estando contra, são os
primeiros a fechar os olhos quando convidados para a festança. Uma professora
que arrisca a ser considerada uma caso psiquiátrico quando dá a liberdade
criativa aos alunos para que possam escrever uma composição como esta:
Redacção
Carnaval da vitória é o porco mais bonito do mundo. Meu pai que lhe
trouxe no sétimo andar onde a comissão de moradores é reaccionária porque não
quer porcos no prédio e o camarada Faustino tem kandonga de dendém e faz
kaporroto a cem kwanzas cada búlgaro. Primeiro o nome dele era só carnaval.
Depois que a gente ganhou a vitória contra o inimigo ficou carnaval da vitória. O inimigo é um fiscal fantoche
ladrão de porcos que lhe denunciamos no prédio onde ele ficou na vergonha. Carnaval
da vitória é o porco mais bom do mundo porque quando veio na nossa escola a
camarada professora deu borla.
O meu pai é um reaccionário porque não gosta de peixe frito do povo e ralha com a minha mãe. Ele é que é um
burguês pequeno mas diz que carnaval da vitória é um burguês. Por isso lhe quer
matar só por causa de comer a carne. Carnaval da vitória é um revolucionário
porque quando meu pai bateu em mim e no meu irmão Zeca ele lhe quis morder. Nós
não vamos deixar mater carnaval da vitória porque a luta continua e o responsável
da comissão de moradores não sabe as palavras de ordem que os pioneiros é que
lhe ensinam. E a camarada professora é muito boa porque deixa fazer redacções
que a gente quer e até trouxe na escola o primo dela Filipe que veio tocar
viola dentro da nossa sala.
Ruca Diogo
E um final poético.
“Vocês não gostavam de ser onda? (…)
Ainda se uma pessoa fosse entrava com essa força no mar onde a gente queria. Onda
ninguém amarra com corda.
(…)
- Quem me dera ser onda!
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