A sessão do Clube de Leitura de ontem decorreu animada com a análise e discussão da obra “Bonjour tristesse” de Françoise Sagan (1935-2004).
Este seu primeiro romance gerou um escândalo
mundial, transformando-se rapidamente num best-seller, vendendo milhões de
exemplares. O lançamento da edição
americana em 1955 ampliou internacionalmente o sucesso do romance, que adquiriu
um renome ainda maior ao ser adaptado para o cinema em 1957 pelo realizador Otto Preminger, com atores Deborah Kerr, David
Niven e Jean Seberg nos principais papéis.
A sua prosa contida, seca e austera faz lembrar a dos
maiores nomes da literatura francesa. No entanto, dentro dos limites da forma
clássica, Françoise Sagan expressa um amoralismo e um tédio precoce em relação
a um mundo com que muitos dos seus leitores se identificaram. Fortemente
influenciada pelas primeiras obras de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir,
Sagan criou personagens cujas vidas são marcadas pela solidão, por um sentido
agudo da passagem do tempo e especialmente pelo tédio. A sua ocupação principal
é a busca do prazer, mas são continuamente dececionadas pelo carácter efémero
de todos os prazeres, de todas as relações humanas. Evitando qualquer tipo de
grandiloquência, Françoise Sagan apresenta em Bonjour Tristesse uma
visão da realidade que é fundamentalmente crua e descomprometida.
Em 1953, aos 18 anos de idade, a
jovem que viria a ser conhecida como Françoise Sagan foi reprovada em exames
prestados na Sorbonne, em Paris. Durante as férias de Verão daquele ano,
refazendo-se da frustração, passou várias semanas a escrever o seu primeiro
romance, Bonjour Tristesse, publicado em 1954.
O livro fez um sucesso
extraordinário, e a autora, cercada de enorme publicidade, transformou-se em
uma espécie de porta-voz de uma geração entediada e desiludida de jovens
franceses do pós-guerra. O livro, de facto, embora tenha a sua trama situada na
Riviera francesa, ecoa o estado de espírito das caves parisienses, onde se
praticava o «comportamento existencialista».
A obra destacou-se pela análise psicológica
das relações amorosas, da solidão e da forma de reverte-la. Está implícita a
defesa de uma total liberdade individual, inclusivamente da feminina, do hedonismo, o
charme dos carros velozes, a vida social intensa e boémia e a influência de
correntes filosóficas da época. Tudo isto num contexto de pós-guerra causou escândalo,
assim como a agitada vida da autora contribuíram para que o seu primeiro
romance fosse considerado um mau exemplo para a juventude e fosse apelidada de "charmant petit monstre".
De leitura rápida, agradável, linguagem acessível, musical e direta, sem grandes sofisticações, num estilo claro, contém todos
os elementos para a construção de um drama. A narrativa é hábil, rica,
fantástica, bastante visual, pontuada por opiniões, sentimentos e aforismos,
que é surpreendente, porque a autora é demasiado jovem para tanto conhecimento
sobre a alma humana.
A
sua paixão pela velocidade desmedida e pelo álcool, os sucessivos tratamentos
de desintoxicação a que foi submetida e a sua dependência pelo jogo levaram-na
praticamente à ruína. A partir de 1990, o seu nome foi, por várias vezes,
envolvido em escândalos relacionados com uso e posse de droga e, em 2002,
apareceu implicado numa fraude fiscal ligada à companhia petrolífera ELF
Aquitaine.
O título Bonjour tristesse foi inspirado num
poema de Paul Eluard
Adieu tristesse
Bonjour tristesse
Tu es inscrite dans les lignes du plafond
Tu es inscrite dans les yeux que j’aime
Tu n’es pas tout à fait la misère
Car les lèvres le plus pauvres te dénoncent
Par un sourire
Bonjour tristesse
Amour des corps aimables
Puissance de l’amour
Dont l’amabilité surgit
Comme un monstre sans corps
Tête désappointée
Tristesse beau visage
Paul Eluard, La vie immédiate,
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