Na
passada 5ª feira, dia 26 de outubro, pelas 21h00, decorreu mais uma sessão do
Clube de Leitura para a abordagem e discussão da obra "Pedro Páramo",
de Juan Rulfo (1917-1986).
Como
neste mês de outubro o Clube faz 11 anos de existência, foi também comemorado
com um delicioso bolo e umas belas ofertas de um lápis personalizado para cada
um dos elementos.
A
novela "Pedro Páramo" publicada em 1955, foi considerada uma Obra
Representativa da Unesco e dos livros mais influentes do século XX, tendo representado
um ponto de viragem na literatura hispano-americana e mundial, que ajudou a
renovar.
A
nota introdutória da autoria de Gabriel Garcia Márquez, Prémio Nobel da
Literatura em 1982, dá-nos conta da importância que teve para ele
esta obra e como francamente influenciou posteriormente grandes nomes da
Literatura como Octávio Paz, Jorge Luís Borges, Eduardo Galeano, Gunter Grass,
Susan Sontag e muitos outros. Jorge Luís Borges confessou que a leitura desta
obra o ajudou a superar um momento em que lhe estava a faltar a criatividade.
Também
já foi alvo de duas adaptações para cinema em 1967 e 1976, estando em processo
de adaptação uma 3ª versão pela Netflix, sob a direção de Pedro Prieto, de
origem mexicana, que tem trabalhado como diretor de fotografia com realizadores
como Pedro Almodôvar, Spike Lee, Martin Scorcese e Oliver Stone. Por isso, vai
certamente merecer toda a nossa atenção, ainda em 2023. Será? Aguardemos pois!
Juan Rulfo já tinha publicado uma
coletânea de contos "Chão em chamas" em 1953. Em 1964, publicou ainda
"O galo de ouro" que começou por ser um roteiro de um filme, mas
acabou sendo publicado como romance em 1980. Apesar de ter abandonado a escrita de livros depois da publicação
destas obras, Rulfo continuou ativo na cena literária mexicana, colaborando com
outros escritores em roteiros (Carlos Fuentes e Gabriel Garcia Márquez)
escrevendo para televisão e dedicando-se à fotografia.
Desde 1962 até sua morte,
Rulfo foi diretor do departamento de publicações do Instituto Nacional Indígena
do México. Foi membro da Academia de Letras Mexicana e recebeu vários prémios
literários em vida, de entre os quais o Prémio Príncipe das Astúrias, em
1983. O escritor morreu, de câncer, aos 68 anos.
Rulfo
é considerado um precursor do chamado “Realismo Mágico" latino-americano,
um movimento que contou com integrantes como Garcia Márquez, Jorge Luís Borges
e Júlio Cortázar, todos seus confessos admiradores.
A
novela é passada durante a revolução Cristera que decorreu no México entre 1926
e 1929. Na sequência da Constituição mexicana de 1917, com leis anti-clericais
e após uma Assembleia Constituinte em 1º de dezembro de 1917, que pretendia
impor repressão sobre a Igreja Católica, provocou um levantamento popular e um
conflito armado. A reação popular teve início a 1 de janeiro de 1927. A novela
narra a história de Juan Preciado, que chega a Comala à procura do seu pai
Pedro Páramo, um homem corrupto pela revolução. Depara-se com um mundo de
mortos vivos.
Há uma certa relação da obra com a
vida do autor e da sua família, visto que Rulfo nasceu em uma família de proprietários de terra
que ficou arruinada pela Revolução Mexicana, o seu pai e dois tios morreram na
época da Guerra Cristera e com a morte de sua mãe, por um ataque
cardíaco.
Dolores Preciado, mãe de Juan
Preciado está no seu leito de morte, e pede ao filho para voltar à sua cidade
natal, Comala, para que este conheça finalmente o seu pai, Pedro Páramo. Juan
concorda, e parte então nesta viagem louca, para uma cidade fantasma, que
quando nos apercebemos, tem bastantes pessoas.
Assim, fazemos um percurso onírico onde o nosso guia, Juan Preciado, filho de “um tal Pedro
Páramo”, começa por nos conduzir, até que nos perdemos (assim como o nosso
guia/narrador) no meio de vozes que sopram histórias, que avançam e recuam no
tempo, que se encontram e se desencontram, que nos falam de Comala – ou seja,
do México, da América Latina. Tomamos conhecimento de almas que divagam, de
senhores de terras e de gentes, de corrupção e de poder, prisões e
assassinatos, abandono e traições, amores perdidos e revolta contra Deus,
mulheres amadas e outras tomadas à força, a guerra contra e a compra dos
mesmos. Abrimos e fechamos portas, entramos e saímos de enredos, pairando por
um percurso fantasioso, mas terrivelmente próximos do que é a profunda América
Latina.
Muito
bem escrito, com linguagem direta e clara, mas sem linearidade narrativa,
cronologicamente desorganizado, exige ao leitor juntar as peças e preencher as
lacunas, requerendo uma leitura atenta e, se possível, uma segunda leitura.
Um
livro que nos desassossegou, com momentos de algum humor negro, muito criativo,
em que são os mortos que nos relatam as suas vidas, numa descrição surrealista.
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