Na passada terça-feira, dia 28 de maio, pelas 21h00, decorreu a sessão, do mês de maio do Clube de Leitura, para a análise e discussão da obra "Senhor Ventura" de Miguel Torga, publicada em 1943.
Em 1985, foi publicada uma nova edição e o próprio autor, no prefácio, confessou que esta obra tinha sido escrita de uma "assentada" e, passados quase 40 anos, na verdade, pretendia deixá-la no esquecimento.
No entanto, acaba por fazer uma espécie de revisão, justificando que naquela época "os atrevimentos são argumentos", deixando a "nu toda a fantasia descabelada e toda a canhestrez expressiva que se tem na juventude", mas a lucidez e benevolência que adquiriu ao longo da vida, levaram-no, pelo contrário, a recuperá-la, limpando-a de "impurezas" e dando um "jeito", numa tentativa de torná-la mais legível.
Trata-se de uma novela dividida em três partes, num total de 33 capítulos curtos, em que Miguel Torga deu asas à imaginação, também porque segundo ele, a caneta parecia o "cabo endiabrado de uma vassoira de feiticeira", por isso voou e esqueceu as leis da gravidade. "Portuguesmente verosímil", os lusitanos foram e serão sempre "andarilhos do mundo", capazes do melhor e do pior, nesta aventura que se inicia em Penedono, no Alentejo, passa por Lisboa, Macau, Pequim, Mongólia, Xangai, Cantão, Hong Kong, Nanquim, etc.
Pícara, ingénua, maliciosa, safada, trágica no fim, porque em tragédia sempre morrem os mitos. E este mito é bem português, fadado para enfrentar as agruras da vida numa peregrinação aventurosa de um emigrante, com mortos e feridos, miséria e grandeza, amores e traições, fomes e febres, alegrias entre o Oriente, Tatiana e Penedono.
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