No passado dia 24 de abril, pelas 21h00, decorreu a sessão de abril do
Clube de Leitura para análise e discussão da obra "Nós matámos o
cão-tinhoso" do moçambicano Luis Bernardo Honwana (1942-)
Volvidos 50 anos sobre a Independência de Moçambique, o Clube de Leitura
abordou em abril uma obra que relembra os malefícios do império colonialista
português.
Nós Matámos o Cão-Tinhoso é uma coletânea de sete contos publicada em
1964, quando o autor tinha apenas 22 anos. Trata-se de uma obra marcante da
literatura moçambicana, que se destaca pela força temática e simbólica, apesar
da linguagem simples.
Através de uma escrita acessível, o autor transmite
emoções intensas e expõe, de forma crítica e simbólica, temas como o racismo, a
desigualdade social, o abuso sexual, a violência do regime colonial português,
a desumanização e a perda da inocência.
Entre os contos que compõem a obra, destaca-se aquele
que lhe dá o título. Narrado por uma criança, relata a história de um cão
doente, rejeitado e condenado, que simboliza os oprimidos do sistema colonial.
As crianças, por sua vez, incitadas por figuras de autoridade, representam a
forma como a violência e a opressão são perpetuadas através da educação e da
interiorização de valores discriminatórios. O contraste entre a pureza dos
sentimentos infantis e a brutalidade do contexto social e político é particularmente
marcante.
Outro conto relevante é Dina, que denuncia
o abuso sexual de mulheres negras por parte de colonizadores brancos. Através
da descrição de uma cena de violação, o conto expõe a raiva contida dos
trabalhadores agrícolas, que, apesar da revolta, permanecem submissos ou são
condenados a um fim trágico.
Todos os contos constituem um testemunho poderoso do
ambiente de miséria, opressão e exclusão vivido em Moçambique durante o período
colonial. Esta obra teve um impacto significativo, contribuindo para o
desenvolvimento de uma consciência crítica essencial aos movimentos de
libertação das colónias.
O autor, que apoiou ativamente a luta pela
independência, foi preso em 1964. Em 1969, em pleno contexto colonial e com a
guerra em curso, Nós Matámos o Cão-Tinhoso foi publicado em
língua inglesa, alcançando grande divulgação e reconhecimento internacional.
Após a independência de Moçambique, o autor assumiu vários cargos políticos,
tendo chegado a ser Ministro da Cultura.
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