MOURAD BALTI TOUATI/EPA
O
italiano "La Reppublica" anunciou a morte de Umberto Eco, na
sexta-feira, com um artigo cujo título resume bem não só a sua
personalidade, como a importância que ele tinha - e continuará a ter -
no seu país de origem e no mundo. "Morreu Umberto Eco, o homem que sabia
tudo".
Escritor, filósofo, professor, semiólogo e crítico
literário, Umberto Eco é autor de vários ensaios sobre semiótica,
estética medieval, linguística e filosofia, mas foi com a publicação de
"O Nome da Rosa", seu primeiro romance, em 1980, que ganhou popularidade
mundial, inclusive em Portugal. Traduzido para mais de 30 línguas e
vencedor de vários prémios literários, o livro foi um enorme sucesso de
vendas, transformando-se imediatamente num best-seller internacional.
"O
Nome da Rosa" é, contudo, um livro não muito dado a rótulos. Tem tanto
de crónica medieval como de relato histórico e intriga policial e
detectivesca. Durante as suas pesquisas, um estudioso tropeça por acaso
numa tradução francesa de um manuscrito do século XIV, escrito pelo
monge benedito alemão Adso de Melk, que ali relata uma sua aventura,
vivida na adolescência, ao lado do monge fransciscano Guilherme
Baskerville, em que os dois, de visita a uma abadia no norte de Itália,
em 1327, se veem subitamente envolvidos numa história de crimes,
conspiração e descobertas extraordinárias. O romance foi adaptado ao
cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, em 1986.
Além de "O
Nome da Rosa", entre os seus livros mais conhecidos estão "O Pêndulo de
Foucault", publicado em 1988, "A Ilha do Dia Anterior" (1994),
"Baudolino" (2000), "A Misteriosa Chama da Rainha Loana" (2004) e "O
Cemitério de Praga" (2011). Na área das ciências sociais e humanas são
também conhecidos os seus "Como se Faz uma Tese em Ciências" e "A
Definição da Arte", "Obra Aberta" e "Os Limites da Interpretação".
Umberto
Eco não foi o académico e teórico que se protegeu atrás das suas
publicações nem o comunicador que opina sobre tudo e a eito. Foi ambos
mas sempre na dose certa, e isso nem sempre agradou aos críticos. Eco,
de resto, sempre reagiu com humor a tudo o que fosse ego ferido. Numa
entrevista de 2002 ao "Guardian", o escritor e filósofo dizia: "Não sou
um fundamentalista, dizendo que não há diferença entre Homero e Walt
Disney. Mas o rato Mickey pode ser perfeito da mesma forma que um haiku
[poema curto] japonês o é.”
Umberto Eco interessava-se por semiótica e filosofia ao mesmo tempo que escrevia sobre futebol e terrorismo e publicidade. A entrevista que deu ao Expresso em abril do ano passado
é um bom exemplo dessa diversidade de preocupações. O tema principal
eram os livros, mas a conversa fluiu tão naturalmente que jornalista e
entrevistado acabaram a falar sobre temas como a migração, refugiados,
Estado Islâmico e outros fundamentalismos.
Umberto Eco nasceu em
1932 em Alexandria, uma cidade industrial na região do Piemonte,
noroeste de Itália. O seu pai, Giulio, era contabilista, e a mãe,
Giovanna, trabalhava num escritório. Enquanto criança, sublinha o "New
York Times", Eco passava muito tempo na cave em casa do avô, que era
tipógrafo mas na reforma ganhava dinheiro a encadernar livros, a ler as
suas coleções de Júlio Verne, Marco Polo e Charles Darwin. Na referida
entrevista ao Expresso, Eco conta que a avó materna, "que tinha apenas
cinco anos de escolaridade, era uma leitora voraz". "Trazia sempre
livros da biblioteca, que lia e me dava a ler. Não era seletiva,
devorava Balzac e a seguir uma novela popular. Por isso, aos 12 anos,
também eu lia Balzac e novelas de cinco cêntimos, o que me deu o gosto
pela leitura", conta.
Eco cresceu, estudou filosofia e estética e formou-se na Universidade de Turim com uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino. A partir de meados dos anos 50 começa a trabalhar na RAI, a televisão pública italiana, em programas culturais. É também nesta altura que começa a interessar-se por semiótica, a ciência dos signos, e é contratado para dar aulas na Universidade de Bolonha (primeiro de filosofia e depois de semiótica).
Eco cresceu, estudou filosofia e estética e formou-se na Universidade de Turim com uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino. A partir de meados dos anos 50 começa a trabalhar na RAI, a televisão pública italiana, em programas culturais. É também nesta altura que começa a interessar-se por semiótica, a ciência dos signos, e é contratado para dar aulas na Universidade de Bolonha (primeiro de filosofia e depois de semiótica).
O seu último
romance, "Número Zero" - uma reflexão sobre os jornais e os jornalismo -
foi publicado no ano passado. A editora independente O Navio de Teseu,
fundada pelo próprio Eco e outros autores, anunciou entretanto que vai
antecipar a publicação do último livro do escritor e filósofo para 27 de
fevereiro. O livro, intitulado "Pape Satàn Aleppe", reúne as suas
crónicas publicadas na revista "L'Espresso" desde 2000.
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