Sinopse:
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.
Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.
Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.
Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.
Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.
Críticas de imprensa
«Uma voz única e com um tom sublime.»
Eduardo Prado Coelho
Opinião de leitores
Eduardo Prado Coelho
Opinião de leitores
Intenso
Primeiro livro deste grande escritor da nova geração.
Brilhantemente intenso e doloroso. Repleto de sentimento da primeira à última palavra.
ImperdíveL.
Fundamental
um grande exercício de linguagem e sentimento por um dos melhores da nossa língua
Sessenta páginas que se lêem rapidamente, mas que provocam efeitos colaterais profundos. Descrever a caminhada final do pai doente, o sofrimento da família, e os seus próprios sentimentos é algo que eu estranho, por ser tão íntimo, mas ao mesmo tempo admiro, porque há-de requerer uma qualquer espécie de coragem contar a toda a gente o privado sofrimento da morte.
Não é ficção. Aconteceu. Foi o primeiro livro de José Luís Peixoto e, mesmo contando que tenha tido uns aperfeiçoamentos pelo caminho (a edição que li é de 2009), é revelador do talento admirável de colocar em palavras sentimentos que nem sempre sabemos pensar, falar, ouvir e, inevitavelmente, escrever. Quem sabe, escrever para ele seja o mais fácil, e por isso o tenha feito, não só como homenagem, mas como necessidade.
É sempre uma carga de nervos escrever sobre quem escreve tão bem. Porque nunca chega. Nunca presta. Nunca saberei exprimir como, em certas páginas, me senti a morrer um pouco, com descrições tão breves, mas pungentes, do que é acompanhar alguém que morre todos uns dias mais um bocado, que sofre num hospital, fazendo a família sangrar por dentro. Mas, ao mesmo tempo, surge a recordação do pai vivo e a felicidade da infância, contrapondo, de forma dura, a ausência numa casa que fica vazia.
Um livro intenso, por vezes violento, que se lê com um prazer imenso, como só se podem ler todos os livros excepcionalmente escritos.
“Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava. As várias sombras da sombra de mim, imóveis, passeavam-se de corpo para corpo, porque todos eles, todos meus, eram igualmente negros e frios. E abri a janela. Muito longe do luto do meu sentir, do meu ser, ser mesmo, o sol-pôr a estender-se na aurora breve solene da nossa casa fechada, pai. E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (Pág. 19)
“Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras.” (Pág. 20)
Fonte: http://planetamarcia.blogs.sapo.pt/morreste-me-jose-luis-peixoto-680078
Alguns excertos
É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste. Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és.
Sessenta páginas que se lêem rapidamente, mas que provocam efeitos colaterais profundos. Descrever a caminhada final do pai doente, o sofrimento da família, e os seus próprios sentimentos é algo que eu estranho, por ser tão íntimo, mas ao mesmo tempo admiro, porque há-de requerer uma qualquer espécie de coragem contar a toda a gente o privado sofrimento da morte.
Não é ficção. Aconteceu. Foi o primeiro livro de José Luís Peixoto e, mesmo contando que tenha tido uns aperfeiçoamentos pelo caminho (a edição que li é de 2009), é revelador do talento admirável de colocar em palavras sentimentos que nem sempre sabemos pensar, falar, ouvir e, inevitavelmente, escrever. Quem sabe, escrever para ele seja o mais fácil, e por isso o tenha feito, não só como homenagem, mas como necessidade.
É sempre uma carga de nervos escrever sobre quem escreve tão bem. Porque nunca chega. Nunca presta. Nunca saberei exprimir como, em certas páginas, me senti a morrer um pouco, com descrições tão breves, mas pungentes, do que é acompanhar alguém que morre todos uns dias mais um bocado, que sofre num hospital, fazendo a família sangrar por dentro. Mas, ao mesmo tempo, surge a recordação do pai vivo e a felicidade da infância, contrapondo, de forma dura, a ausência numa casa que fica vazia.
Um livro intenso, por vezes violento, que se lê com um prazer imenso, como só se podem ler todos os livros excepcionalmente escritos.
“Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava. As várias sombras da sombra de mim, imóveis, passeavam-se de corpo para corpo, porque todos eles, todos meus, eram igualmente negros e frios. E abri a janela. Muito longe do luto do meu sentir, do meu ser, ser mesmo, o sol-pôr a estender-se na aurora breve solene da nossa casa fechada, pai. E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.” (Pág. 19)
“Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras.” (Pág. 20)
Fonte: http://planetamarcia.blogs.sapo.pt/morreste-me-jose-luis-peixoto-680078
Alguns excertos
É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste. Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és.
Pai. A tarde dissolve-se sobre a terra, sobre a nossa casa. O céu
desfia um sopro quieto nos rostos. Acende-se a lua. Translúcida,
adormece um sono cálido nos olhares. Anoitece devagar. Dizia nunca
esquecerei, e lembro-me. Anoitecia devagar e, a esta hora, nesta altura
do ano, desenrolavas a mangueira com todos os preceitos e, seguindo
regras certas, regavas as árvores e as flores do quintal; e tudo isso me
ensinavas, tudo isso me explicavas. Anda cá ver, rapaz. E mostravas-me.
Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste
mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus
gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as
margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro
da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste,
e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as
árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras.
Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer,
em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora
chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que
nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se
adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais
abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de
respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me
agride. Pai. Nunca esquecerei.
José Luís Peixoto, in 'Morreste-me'
José Luís Peixoto nasceu em Galveias, em 1974.
É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias, traduzidas num vasto número de idiomas, e é estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras.
Em 2001, acompanhando um imenso reconhecimento da crítica e do público, foi atribuído o Prémio Literário José Saramago ao romance Nenhum Olhar. Em 2007, Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha. Com Livro, venceu o prémio Libro d'Europa, atribuído em Itália ao melhor romance europeu publicado no ano anterior, e em 2016 recebeu, no Brasil, o Prémio Oeanos com Galveias. As suas obras foram ainda finalistas de prémios internacionais como o Femina (França), Impac Dublin (Irlanda) ou o Portugal Telecom (Brasil). Na poesia, o livro Gaveta de Papéis recebeu o Prémio Daniel Faria e A Criança em Ruínas recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Os seus romances estão traduzidos em mais de vinte idiomas.
José Luís Peixoto, in 'Morreste-me'
José Luís Peixoto nasceu em Galveias, em 1974.
É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias, traduzidas num vasto número de idiomas, e é estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras.
Em 2001, acompanhando um imenso reconhecimento da crítica e do público, foi atribuído o Prémio Literário José Saramago ao romance Nenhum Olhar. Em 2007, Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha. Com Livro, venceu o prémio Libro d'Europa, atribuído em Itália ao melhor romance europeu publicado no ano anterior, e em 2016 recebeu, no Brasil, o Prémio Oeanos com Galveias. As suas obras foram ainda finalistas de prémios internacionais como o Femina (França), Impac Dublin (Irlanda) ou o Portugal Telecom (Brasil). Na poesia, o livro Gaveta de Papéis recebeu o Prémio Daniel Faria e A Criança em Ruínas recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Os seus romances estão traduzidos em mais de vinte idiomas.
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