Ontem,
pelas 21 horas, na Biblioteca Municipal, decorreu a sessão do Clube de Leitura
de Julho, com a abordagem do livro "O fiel defunto" de Germano
Almeida, Prémio Camões 2018.
Todos
os livros publicados por Germano Almeida anteriores ao "O fiel
defunto" eram obras cuja temática abordava a fome, a seca e a emigração.
Com
esta obra o autor rompe com a seriedade e o elitismo na sua literatura e usa o
humor, a sátira e uma ironia refinada, que nos remete a Eça de Queirós,
escritor que o terá influenciado, assim como Jorge Amado e Gabriel Garcia
Marquez.
Quando
se pensava que estávamos perante uma obra dramática, com o assassinato violento
de um prolífico escritor, que prometia ser uma saga policial e um momento de
lamentações, eis que nos é apresentada uma sátira social, na qual é usado o
escárnio e mal dizer, mas com algum carácter pedagógico.
A
obra centra-se essencialmente na crítica ao poder político que passa a
sobrevalorizar o escritor/artista praticamente só após a sua morte, mas também
toda a sociedade cabo-verdiana se vê ali retratada, ou qualquer outra do mundo
dito civilizado, pois são acontecimentos intemporais e transversais a todas.
A
prosa é fluída, sobressaindo uma imaginação e criatividade prodigiosa, muito
agradável de ler.
O
autor leva-nos a Cabo Verde através dos seus usos e costumes, arquitetura, não
faltando a gastronomia com a moreia frita e a doçaria típica, quando refere "...e lembrou-se de um bolo de chocolate de grande
qualidade que a pastelaria Morabeza fabricava e de que Matilde se disse
apaixonada".
Morabeza é nome de pastelaria e nome de bairro do Mindelo,
mas tem um significado próprio, significa afabilidade, amabilidade, gentileza,
posturas que melhor definem o espírito e a cultura cabo-verdiana em que até a
ironia é muito mais suave.
Marcelo Rebelo de Sousa visitou o Mindelo em abril de 2017 e
disse, num discurso aí proferido:
“Onde há morabeza, há saudade. Há saudade, porque há morabeza”.
Com tanta informação sobre Cabo Verde ficou a
vontade de um dia, mergulhar e deambular por lá e quem sabe cruzar com
Germano Almeida, que tanto nos divertiu.
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