Na passada quinta-feira, dia 29 de
fevereiro, pelas 21h00, decorreu a sessão mensal do Clube de Leitura para
a análise e discussão da obra "Manhã e noite" de Jon Fosse, Prémio
Nobel da Literatura 2023.
Foi consensual que a obra selecionada se trata de
uma obra de arte literária, um diamante precioso, que merece uma leitura atenta
e apaixonada.
O romance que divide-se em apenas dois
capítulos. Manhã e noite, que simbolicamente representa o nascimento e a morte,
o autor, através de uma linguagem poética, inovadora, de uma desconcertante
simplicidade, leva-nos a revisitar a vida de Johannes, num confronto com a
morte, mas também com a aceitação do ciclo natural da vida e a inevitabilidade
da morte.
Num ambiente tipicamente nórdico, mágico das autoras boreais, nebuloso, agreste, ventoso, gelado, marítimo, onde não falta
um cais de pesca e o isolamento associado a estes lugares inóspitos, somos convidados
à melancolia, à reflexão e à filosofia.
No entanto, a mensagem final que nos surge é pacificadora. Não é preciso ter medo da morte, porque a passagem pode ser doce e tranquila, sem dores físicas ou psíquicas e não tem que ser solitária. Pode ser sim, um paliativo para as angústias, em que num sussurro nos sugere resignação, apontando o caminho para o despojamento, aceitação e resignação.
Concluindo, trata-se de uma reflexão sobre o
significado da vida, Deus e a morte.
Já conhecíamos o autor.
Ainda nos lembramos da história dramática de Asle e Alida à
procura de um teto para uma nova vida, no romance Trilogia e, por
isso, em Manhã e Noite, não estranhamos o isolamento, a solidão, a pobreza
e a dureza da vida neste território norueguês, aqui revelado. Por
isso, também estávamos já um pouco familiarizados com o estilo pós-moderno do
autor, com muitas semelhanças às do romance anterior, embora agora com mais
repetições e mais despontuação, que induzem maior dinamismo e fluidez aos
diálogos, bem como musicalidade e poesia ao texto.
No entanto, em Manhã e Noite, Fosse surpreende-nos, a poucas páginas
do início, toda ela dedicada ao parto bem sucedido, com um salto temporal
paradoxal, levando-nos abruptamente para o momento da morte de Johannes, o
personagem principal, deixando o leitor temporariamente aturdido pelo hiato
criado.
Mas a narrativa segue e o leitor deixa-se levar, acabando por reconhecer a
oposição que o autor estabelece ao passar da primeira parte do
romance, a do dizer, do fazer, do concreto…, para a segunda parte,
na qual predomina o pensar, a indecisão, isto é … manhã/noite,
como sugere o título, ou o mesmo seria dizer vida/morte.
De facto, na segunda parte, Fosse revela-nos Johannes, só, muito
envelhecido, às portas da morte, como um fantasma que revisita os momentos da
sua longa vida de pescador, marcada pela morte da mulher Erne, pelo amor dos
filhos, em especial de Signe e sobretudo pela amizade inabalável de
Peter que, por ser o seu melhor amigo, é incumbido de o levar ao último
destino.
Os diálogos e os não-ditos finais, de ordem metafísica, em que Johannes
questiona Peter sobre quem vão encontrar no lugar para onde vão, em
circunstâncias tão más para navegar, são angustiantes mas apenas e só até tudo
ser unificado, indiferenciado, desvanecido, até restar apenas o amor de Signe
pelo pai.
Gostei muito do livro.
Luísa Correia(proponente da obra)
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