sexta-feira, 30 de setembro de 2016

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO




Livro indicado: “A selva” de Ferreira de Castro
Destinatários:  público em geral
Data:  27 Outubro 2016
Horário: 21h00 às 22h00



SINOPSE:

Considerado um dos livros-monumento e de maior sucesso, dentro e fora de portas, da nossa literatura moderna, A Selva, notável epopeia sobre a vida dos seringueiros na selva amazônica durante os anos de declínio do ciclo da borracha, foi lida e amplamente elogiada por nomes que vão desde Jaime Brasil (Livro único na literatura de todo o mundo) a Agustina Bessa-Luís: (obra-prima) e Jorge Amado (clássico do nosso tempo), não passando igualmente despercebida a grandes figuras da literatura internacional, como Albert Camus (estilo sinuoso e sugestivo, como uma vegetação exuberante de termos estranhos e maravilhosos. Livro inesquecível), Blaise Cendars (brilhante e ardente estilista), seu tradutor francês ou Ztefan Zweig (admirável romance).



AUTOR

Ferreira de Castro - José Maria Ferreira de Castro nasceu em Ossela, Oliveira de Azeméis, a 24 de Maio de 1898. Oriundo de uma família de camponeses pobres, fica órfão de pai aos oito anos e emigra, em 1911, com doze anos e a instrução primária, para o Brasil. Por algumas semanas trabalha em Belém do Pará, mas não tarda a ser expedido para o interior da selva amazónica. Permanece ali quase quatro anos, tempo em que escreve contos e crónicas que envia para jornais do Brasil e de Portugal. Com 14 anos redige Criminoso por Ambição, o seu primeiro romance que, mais tarde, aquando do seu regresso a Belém do Pará, em 1916, publica em fascículos e vende de porta em porta. Lança-se igualmente no jornalismo, colaborando assiduamente em jornais e revistas do Brasil.
Já senhor de grande fama no jornalismo brasileiro, decide, após o intenso contacto com os seus compatriotas lhe ter feito renascer as saudades da pátria, regressar a Portugal em 1919 com apenas quatrocentos escudos no bolso. O êxito obtido no Pará é, contudo, totalmente ignorado em Portugal. Vive períodos de absoluta miséria e passa dias inteiros sem comer quando reinicia a sua dupla faina de repórter e escritor. Em 1934, decidirá abandonar o jornalismo, devido à censura prévia nos tempos difíceis da ditadura. Mais tarde afirmaria que «(...) a censura tem, porém, uma virtude: é demonstrar quanto vale ser um homem livre, um povo livre!» (in Mensagem, 1946)
Publica, em 1928, o romance «Emigrantes» e «A Selva» em 1930, acompanhados de estrondoso êxito nacional. Sobre estes livros, o crítico literário Álvaro Salema, em artigo publicado no jornal O Comércio do Porto, de 12 de Maio de 1953, afirma: «A publicação de "Emigrantes", em 1928, fixou uma data na história literária portuguesa, que é também um ponto de partida decisivo. (...) Ferreira de Castro desvendou com "Emigrantes" e logo a seguir com "A Selva" um novo roteiro para a criação literária no romance, na novela e no conto (...)».
Seguir-se-á, a um ritmo regular, a publicação de outros romances: «Eternidade» (1933), «Terra Fria» (1934), «A Tempestade» (1940), «A Lã e a Neve» (1947). No período imediato ao pós-guerra, Ferreira de Castro torna-se um dos autores mais lidos em Portugal e no estrangeiro - onde a literatura portuguesa pouca expressão tinha. As suas obras estão editadas com sucesso em mais de dez línguas (em França é traduzido por Blaise Cendars) e, com a 10.ª edição de «A Selva», atinge a fasquia de meio milhão de exemplares vendidos em todo o mundo com um só livro. 
Durante este mesmo período, Jaime Brasil publica o opúsculo Os Novos Escritores e o Movimento Chamado «Neo-Realismo», reivindicando para Ferreira de Castro a condição de iniciador — e não apenas precursor — do realismo social na literatura.
A fama e o reconhecimento do autor não mais cessarão de crescer. Em 1949, a sua editora, a Guimarães, inicia a publicação das Obras Completas do autor, ilustradas por nomes como os de Júlio Pomar, Keil do Amaral, Sarah Affonso, Artur Bual, João Abel Manta, entre outros.
Nos anos cinquenta publica, entre outros, os romances «A Curva da Estrada» (1950), «A Missão» (1954) e «O Instinto Supremo» (1968).
Ferreira de Castro foi, por diversas vezes, proposto para o Prémio Nobel e, por outras, recusou sê-lo, em detrimento de outros escritores portugueses. 
Ferreira de Castro morre no Porto a 29 de Junho de 1974. Apenas um ano antes a UNESCO anunciava que «A Selva» estava entre os dez romances mais lidos em todo o mundo.
Consagrado como uma das maiores figuras da literatura portuguesa, sobre ele escreveu Óscar Lopes: «foi o primeiro grande romancista português deste século que se determinou por problemas objectivos e não apenas por impulsos íntimos».



Fonte:https://www.wook.pt/livro/a-selva-ferreira-de-castro/16016153






A Selva” é considerado o romance mais autobiográfico de Ferreira de Castro. À semelhança de Alberto, personagem central da obra, Ferreira de Castro também emigrou para o Brasil, também foi abandonado por aquele que supostamente seria o seu protector, acabando por ser ver “obrigado” a ir trabalhar para o seringal Paraíso, viajando em 3ª classe no barco Justo Chermont. Aliás, é o próprio Ferreira de Castro que o admite por ocasião da edição comemorativa da “Selva” em 1955.

Escrito em 1929 em apenas 8 meses, esta é uma obra que serviu de exorcismo ao autor, não só pelas dificuldades por ele passadas e narradas, mas e principalmente, pela exposição ao mundo da difícil e desumana vida levada por aqueles que retiravam (e retiram) borracha na selva amazónica.

Publicado em 1930, a obra foi bem acolhida pela crítica, sendo ainda hoje considerada a melhor obra de Ferreira de Castro.

O argumento é simples mas, em simultâneo, inquietante e revoltante.

Alberto é um jovem monárquico que se vê obrigado a fugir de Portugal por estar associado a um desacato. Emigra assim para o Brasil em busca se riqueza. Logo aqui o autor desmistifica a imagem de El Dorado que se tinha do Brasil. Alberto chega com sonhos de riqueza e logo vê cair essa ilusão ao ser abandonado à sua sorte por aquele que o devia guiar e proteger (o mesmo aconteceu a Ferreira de Castro).

Dessa forma Alberto apenas consegue trabalho na extracção de borracha, partindo então rumo ao seringal Paraíso em plena selva amazónica.

E é neste local, onde as dificuldades da vida ultrapassam o imaginável, que Alberto irá perceber o sentido da vida.

Embora a personagem central do livro seja Alberto, a Selva Amazónica acaba por ser o intérprete principal da obra. É nela que o autor expressa todo o poder da narrativa, dando-lhe alma, carisma, povoando-a de fantasmas, de ameaças ocultas sob a sua densa vegetação, de vida.

Nela se passa a maior parte do romance e é nela que Ferreira de Castro narra a difícil vida dos seringueiros que eram (e não são actualmente?) sepultados vivos na selva.

Pessoas humildes, analfabetas e muito pobres, o seringueiro aceitava que lhe pagassem a viagem em troca de, depois de instalado, ir pagando com a borracha extraída. No entanto este era o início do esquema que levava o seringueiro a ficar totalmente dependente do patrão acabando por cair na escravidão. No seringal, ele era obrigado a comprar tudo o que consumia e necessitava ao patrão (nada mais havia do que kms e kms de floresta cheia de perigos) e via o preço da borracha, que tão dificilmente extraia, ser-lhe pago de uma forma miserável. Ou seja, era explorado e dessa forma a sua conta corrente ia aumentando e nunca mais conseguia pagar o que devia.

Ferreira de Castro expõe essa relação desonesta entre patrão e seringueiro, demonstrando a exploração e a escravatura encoberta.

Mas vai mais longe, efectua análises à alma humana e escandaliza-se com o facto do ser humano ser capaz de ser tornar uma animal sem sentimentos: ”como podia ser, como podia ser que as vítimas saboreassem também o papel de algoz? De que sórdida matéria era formada a alma de alguns homens, que gozavam em castigar a desgraça alheia, mesmo quando era igual à deles?”

Um livro excepcional que adorei cada página, cada parágrafo.

Ferreira de Castro é objectivo, no entanto as suas descrições são pura poesia, arte literária pura, extremamente visual, luxuriante até na forma como constrói a narrativa.



O romance de Ferreira de Castro A Selva 

É uma adaptação do romance A Selva, de Ferreira de Castro, que retrata experiências suas durante a sua permanência no Brasil.



Ferreira de Castro - José Hermano Saraiva


Ferreira de Castro e Ossela O Escritor visto pela sua terra :Ferreira de Castro "Um escritor visto pela sua terra", de Ricardo Praça da Costa



A Selva
2002 Drama/Romance 1h 45m
A Selva é um filme de longa metragem luso-hispano-brasileiro realizado por Leonel Vieira no ano de 2002. É uma adaptação do romance A Selva, de Ferreira de Castro, que retrata experiências suas durante a sua permanência no Brasil.

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