Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de
Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões
decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos,
proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar
os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante.
Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.
Livro indicado:
"Carne crua" de Rubem Fonseca
Data: 26 setembro, 21h00 às 22h00
Sinopse:Rubem
Fonseca é um verdadeiro mestre na arte de esfolar a pele das palavras
até deixar as histórias em carne viva. Neste seu mais recente livro, o
autor reuniu vinte e seis textos que, embora mantenham a crueza de
assassinatos, traições e injustiças sociais, trazem também a avidez das
descobertas, a delicadeza das histórias de amor e umas trocas de olhar
com a poesia.
Quem é Rubem Fonseca?
Rubem Fonseca nasceu em Minas Gerais, Brasil, em 1925. É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com o Prémio Camões em 2000. É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora.
Saiba mais:
Rubem Fonseca nasceu em Minas Gerais, Brasil, em 1925. É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com o Prémio Camões em 2000. É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora.
Saiba mais:
Excertos de Graça Serra:
pág. 52:
"Você acredita em macumba, José?
Eu acredito em saci-pererê, respondi."
O Saci-pererê é um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro.
pág. 70
"A Igreja Nossa Senhora da Penha de França, popularmente conhecida como Igreja da Penha, é um tradicional santuário católico localizado no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Erguida no alto de uma pedra, é famosa pelos 382 degraus da escadaria principal, onde muitos fiéis pagam promessas, subindo a pé ou de joelhos. O Santuário possui também um funicular..."
pág. 91
"Eu só conheço dois Ismaeis neste mundo: você e o de Melville".
"Eu também conheço dois. O Ismael Silva, sabe, aquele cantor? (...) Se você jurar, que me tem amor..."
Herman Melville foi o autor de "Moby Dick" (1851), cujo narrador é um marinheiro chamado Ismael.
Ismael Silva foi um cantor e compositor do Rio de Janeiro (1905-1978). Além de mais de 200 músicas gravadas ao longo da sua carreira, ele também foi um dos fundadores da primeira escola de samba do Brasil, a “Deixa falar”, em 1928. A escola foi responsável pela introdução de instrumentos de percussão na música, já que até então os sambas eram acompanhados por violões, pandeiros, violinos e castanholas. Ismael tem entre suas músicas mais conhecidas as seguintes composições: “Me faz carinhos”, “Se você jurar”, “Antonico”, “Para me livrar do mal”, “Tristezas não pagam dívidas”, “Me diga o teu nome”, entre outras.
Herman Melville
Ismael Silva
pág. 91
Quem foi que disse "Mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo..."
Esses versos fazem parte de um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), intitulado "Poema de 7 faces", publicado em seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em 1930. O poema completo é o seguinte:
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
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pág. 92:
«Eu estava num beco sem saída? Como disse o Charlie, "As circunstâncias se tornaram um beco sem saída..."»
Charlie Brown Jr. era o nome de uma banda brasileira de rock (desde 1992 até 2013). As letras das suas canções faziam críticas à sociedade.
"Beco sem saída" é o nome de uma canção de 2007. Em 2013, Chorão, o vocalista do grupo, morreu no seu apartamento em S. Paulo, devido a uma overdose de cocaína e álcool. A banda decidiu então trocar de nome, para preservar a sua memória.
Beco Sem Saída
Charlie Brown Jr.
As circunstâncias se tornaram um beco sem saída
Seu orgulho te traiu e te jogou no chão
E as cicatrizes dessa história mal escrita
Se converteram no aprendizado da reconstrução
Mas todos vivemos dias incríveis
Que não passam de ilusão
Todos vivemos dias difíceis
Mas nada disso é em vão
Todo bem que você faz pra quem te ama
E quem te ama te faz
Isso tudo é o que te faz levar a vida na paz
Só Deus sabe quanto tempo
Que o tempo deve levar
As circunstâncias se tornaram um beco sem saída
Seu orgulho te traiu e te jogou no chão
E as cicatrizes dessa história mal escrita
Se converteram no aprendizado da reconstrução
Mas todos vivemos dias incríveis
Que não passam de ilusão
Todos vivemos dias difíceis
Mas nada disso é em vão
Todo bem que você faz pra quem te ama
E quem te ama te faz
Isso tudo é o que te faz levar a vida na paz
Só Deus sabe quanto tempo
Que o tempo deve levar
Viver, viver e ser livre
Saber dar valor para as coisas mais simples
Viver, viver e ser livre
Saber dar valor para as coisas mais simples
Só o amor constrói pontes indestrutíveis
A arte maior é o jeito de cada um
Vivo pra ser feliz não vivo pra ser comum
pág.102:
"Você gosta de Noel Rosa?", perguntei.
"Quem? (...) Noé Rosa, Noé Rosa...Não o da Arca de Noé..."
"Não é Noé Rosa, é Noel, Noel Rosa."
"Igual ao Papai Noel?"
Uma pessoa que não conhece o Noel Rosa merece morrer.
Eu também não conhecia Noel Rosa. E como ainda não quero morrer, decidi investigar. Aí vai o que descobri.
Noel Rosa foi sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista e dos maiores artistas da música no Brasil. Nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel (onde vive Martinho da Vila) em dezembro de 1910 e morreu em maio de 1937, com 26 anos, de tuberculose. Nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula. Em outro conto deste livro, "O Mundo vai mal", pág.104, o narrador escreve "Dizem que o grande poeta Noel Rosa só andava com putas porque era feio". Isso não o impediu de ter inúmeras amantes, mesmo casadas. Levou uma vida de boémia, o que contribuiu para a sua doença e morte prematura. Deixou 259 canções que se tornaram clássicas dentro do cancioneiro popular brasileiro. Muitas são interpretadas até hoje por diferentes cantores. "Três apitos" é um exemplo disso. Em baixo, numa versão de Ney Mayogrosso.
pág. 109-110
Fazer um romance é fácil.(...) Peguei um livro de Fielding, ninguém sabe quem foi Fielding. (...) Plagiar um livro é fácil, principalmente um que ninguém conhece (...) Escolhi o desconhecido "Journal of a Voyage to Lisbon". Duvido que alguém vivo tenha lido este livro".
Pois eu não li e também nunca tinha ouvido falar em Fielding. Fui procurar e descobri o seguinte:
Henry Fielding foi um romancista inglês. Nasceu em 1707, morreu em 1754, com 47 anos.
A sua obra mais importante é "The History of Tom Jones" (1749), considerado o primeiro romance moderno inglês.
Em 1754, Fielding viajou de barco para Lisboa, em busca de um clima mais ameno e de cura para os seus problemas de saúde. Morreu 2 meses depois, em Lisboa. O seu livro "Journal of a Voyage to Lisbon", onde relata este período da sua vida, foi publicado postumamente, em 1755. Consta que o livro termina assim: " Fui transportado para a cidade mais nojenta da Terra". (em outras versões, o adjetivo "nojenta" é substituído por "sórdida").
Lisboa vingou-se bem dele, já que foi obrigado a ficar lá para sempre. Está enterrado no Cemitério dos Ingleses.
A imagem da capa é um desenho de Honoré-Victorin Daumier, pintor, escultor e caricaturista francês. Nasceu em Marselha em 1808, morreu em 1879 em Valmondois (a 32 km de Paris). É mais conhecido pelas caricaturas. Fez mais de 4 mil litografias.
O nome original do desenho é "Le Boucher au marché de Montmartre".
Daumier fez várias caricaturas com talhantes, a propósito de uma lei saída em 1858 e que liberalizava a venda da carne em Paris.
pág.102:
"Você gosta de Noel Rosa?", perguntei.
"Quem? (...) Noé Rosa, Noé Rosa...Não o da Arca de Noé..."
"Não é Noé Rosa, é Noel, Noel Rosa."
"Igual ao Papai Noel?"
Uma pessoa que não conhece o Noel Rosa merece morrer.
Eu também não conhecia Noel Rosa. E como ainda não quero morrer, decidi investigar. Aí vai o que descobri.
Noel Rosa foi sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista e dos maiores artistas da música no Brasil. Nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel (onde vive Martinho da Vila) em dezembro de 1910 e morreu em maio de 1937, com 26 anos, de tuberculose. Nasceu com hipoplasia (desenvolvimento limitado) da mandíbula. Em outro conto deste livro, "O Mundo vai mal", pág.104, o narrador escreve "Dizem que o grande poeta Noel Rosa só andava com putas porque era feio". Isso não o impediu de ter inúmeras amantes, mesmo casadas. Levou uma vida de boémia, o que contribuiu para a sua doença e morte prematura. Deixou 259 canções que se tornaram clássicas dentro do cancioneiro popular brasileiro. Muitas são interpretadas até hoje por diferentes cantores. "Três apitos" é um exemplo disso. Em baixo, numa versão de Ney Mayogrosso.
Três Apitos
Noel Rosa
Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe por que
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você
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