Ontem, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal, decorreu a sessão do Clube de
Leitura de setembro para a análise e discussão do livro "Carne crua"
de Rubem Fonseca.
O autor, neste seu mais recente livro "reuniu vinte e seis contos que,
embora mantenham a crueza de assassinatos, traições e injustiças sociais,
trazem também a avidez das descobertas, a delicadeza das histórias de amor e
umas trocas de olhar com a poesia", que no entanto, não perdem a sua
natureza narrativa.
Segundo a apreciação do crítico literário brasileiro Mateus Baldi, Rubem
"joga com esse humor despretensioso das pequenas coisas, aliado a uma
prosa estranhamente fluída, como se deslizasse por entre os dedos e jamais
permitisse ser apanhada", considerando que a estética está consolidada
nesta obra. Talvez por isso seja apontado como o Papa da narrativa.
Apesar dos 94 anos de idade de Rubem a escrita é leve, jovem, interessante,
"fora da caixa", mas por vezes desconcertante. No conto "Gosto
de ver o mar" apresenta-nos um Brasil com uma perversa corrupção, em que
vale tudo e onde a personagem nos diz: "Neste país os ladrões se dão bem,
muito bem".
É um livro que apetece saborear lentamente, conto a conto, apreciando a
beleza de um texto simples, despretensioso, ora inocente, ora sarcástico e
cruel.
Há uma predominância de contos marcadamente anti-religiosos, com o adultério,
o assédio no trabalho, o canibalismo, os assassinatos, nos quais deambulam sem
remorsos personagens normalmente bastante agressivas, marginais, que espelham o
mal das sociedades e, em particular, o quotidiano da sociedade brasileira onde
prevalece a banalidade da morte e do crime. Muitos dos contos terão sido
inspirados em casos que o autor lidou quando exerceu a profissão de Comissário
de polícia.
Rubem Fonseca é natural de Minas Gerais, Brasil e é um dos mais prestigiados
escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura
de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo foi galardoado com o Prémio
Camões em 2000. É autor de uma vasta narrativa, que tem vindo a ser publicada
em Portugal, desde 2010. O seu livro "Feliz Ano Novo", publicado em
1975, que se tornou um best-seller, foi proibido pelo regime ditatorial, por
ofensa à moral e bons costumes.
Deliciem-se com "A praça", riam com "Boceta",
"Diarreia", "Igreja Nossa Senhora da Penha",
"Oropa" ou com a realidade cruel de "Carne Crua" ou
"Cornos".
Os contos são divertidos e vale a pena a sua leitura.
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