terça-feira, 29 de outubro de 2019

CLUBE DE LEITURA - NOVEMBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

Livro indicado: "O amante" de Marguerite Duras

Data: 28 novembro, 21h00 às 22h00

Sinopse: Saigão, anos 30. Uma bela jovem francesa conhece o elegante filho de um negociante chinês. Deste encontro nasce uma paixão. Ela tem quinze anos e é pobre. Ele tem vinte e sete e é rico. Os amantes, isolados num mundo privado de erotismo e autodescoberta, desafiam as convenções da sociedade.
Enquanto ela desperta para a possibilidade de traçar o seu próprio caminho no mundo, para o seu amante não há fuga possível. A separação é inevitável e tragicamente cadenciada pelos últimos acordes da presença colonial francesa a Oriente.

A jovem é a própria autora e este é o relato exacerbado de uma paixão inquieta e dilacerante. De tão etérea, a sua realidade gravar-lhe-ia no rosto marcas implacáveis de maturidade. Para o mundo, fica uma obra que contém toda a vida.
Obra intemporal, relato de um mundo perdido, O Amante foi vencedor do prestigiado Prémio Goncourt, em 1984, e confirmou o génio literário de Marguerite Duras, nome cimeiro da literatura mundial.


Quem é Marguerite Duras?

Nasceu em 1914 no atual Vietname - que à época ainda era uma colónia francesa, a Indochina - , só foi conhecer a França, país de origem de sua família, em 1932. Engajou-se na Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial, foi membro do Partido Comunista até 1950 e participou ativamente do movimento de Maio de 1968. Além de ser escritora - seu romance mais célebre, O Amante, foi vencedor do prêmio Goncourt, a mais importante condecoração literária francesa -, Duras também trabalhou no teatro e no cinema. No filme Hiroshima meu amor, do cineasta francês Alain Resnais, o roteiro é de sua autoria. Ela ainda dirigiu cerca de quinze filmes, entre eles India Song. Seu primeiro sucesso teatral foi Une journée entière dans les arbres, peça encenada em 1965. Duras morreu em março de 1996, em Paris.

Escritora e cineasta francesa, a sua obra, habitada por personagens em busca de amor até aos limites da loucura ou do crime, foi visceralmente marcada pela juventude passada na Indochina. O romance autobiográfico L'Amant (1984) foi adaptado ao cinema, realizou Nathalie Granger (1973) e India Song (1975). 

 



Excertos: 
pág. 7:

"...tenho 15 anos e meio. É a passagem de uma barcaça no Mékong."
Pág. 14:

E nessa manhã apanhei o carro em Sadec onde a minha mãe dirige a escola das raparigas. É o fim das férias escolares, já não sei quais. Fui passá-las na pequena casa de posto da minha mãe. E nesse dia regresso a Saigão, ao pensionato. O carro para os indígenas saiu da praça do mercado de Sadec. "

pág. 15:

"É portanto durante a travessia de um braço do Mékong na barcaça que está entre Vinhlong e Sadec, na grande planície de lama e de arroz do sul de Cochinchina, a das Aves."




https://www.google.com/maps/search/sadec,+saig%C3%A3o/@10.4931875,105.9322657,98648m/data=!3m1!1e3

pág. 16:

"A minha mãe dizia-me às vezes que nunca, em toda a minha vida, voltarei a ver rios tão belos como aqueles, tão grandes, tão selvagens, o Mékong e os seus braços que descem para os oceanos, estes territórios de água que vão desaparecer nas cavidades dos oceanos".


A propósito do Mékong, encontrei este site (abaixo) que explica muito bem o seu longo percurso (4350 km), desde a nascente no Planalto do Tibete, até à foz, no Mar da China, em forma de delta.    




pág. 21:

"...é a minha mãe. Reconheço-a melhor ali do que em fotografias mais recentes. É o pátio duma casa sobre o Pequeno Lago de Hanói. Estamos juntos, ela e nós, seus filhos. Tenho 4 anos. A minha mãe está no centro da imagem. Bem vejo como ela está mal sentada, como não sorri, como espera que a fotografia acabe (...) Mas é pela maneira como estamos vestidos, como uns infelizes, que reencontro um certo estado em que a minha mãe por vezes caía...este grande desencorajamento de viver..." 


Encontrei esta foto, não sei se corresponde à descrita pela autora, mas pode ser. Há um pátio de uma casa, vê-se a escadaria, a autora tem cerca de 4 anos, a mãe está sentada, estão os três irmãos. Há uma quinta personagem, talvez seja uma serviçal, tem traços asiáticos. 






pág. 26:

"Na barcaça, ao lado do carro, há uma grande limusina preta com um motorista fardado de algodão branco. Sim, é o grande automóvel fúnebre dos meus livros. É o Morris Léon-Bollée."


Encontrei dois modelos de limusinas desta marca, pode ser um deles.

Léon Bollée foi o nome de um fabricante francês de automóveis, de Le Mans. A empresa foi fundada em 1895 e mais tarde fundida com a Morris.   




Pág. 50:

A casa de Huynh Thuy Lê junto ao rio

"Ela olha-o. Pergunta-lhe quem ele é. Ele diz-lhe que regressa de Paris onde fez os seus estudos, que vive também em Sadec, justamente junto ao rio, a grande casa com grandes terraços de balaustradas de cerâmica azul. Ela pergunta-lhe o que é que ele é. Ele diz-lhe que é chinês, que a sua família é originária da China do Norte. "


Em Julho, a propósito do livro "Princípio de Karenina" de Afonso Cruz, já vos tinha mandado estas fotos, que volto a encaminhar, para relembrar.

pág. 54:

"E depois, uma vez, veio uma quinta-feira à tarde ao pensionato. Levou-a no automóvel preto. 
É em Cholen. É do lado oposto às avenidas que ligam a cidade chinesa ao centro de Saigão (...) É um  apartamento no sul da cidade."

Cholen (ou Cholon) é o nome do bairro chinês, a 15 ou 20 minutos de carro do centro de Saigão. Existe desde 1778, foi construído por imigrantes chineses. Há aí uma grande variedade de restaurantes chineses e vietnamitas.  


pág. 156 ("Princípio de Karenina", Afonso Cruz)

"Depois de ter ficado mais 2 dias em Ho Chi Minh, decidi subir o rio Mekong até Phnom Penh (...) Durante o trajecto, parámos para ver a casa do amante de Duras, onde tomámos chá. O amante de Duras não sabia que era famoso." 


Marguerite Duras nasceu em Saigão em 1914. 

Aos 70 anos, decide contar a história da sua iniciação sexual, quando adolescente, com um comerciante chinês  de Sa Dec, cidade a cerca de 140 km de Saigão, onde a mãe era professora. Ela tem 15 anos e é pobre, ele tem 27 e é rico. O seu nome é Huynh Thuy Le. Isto passa-se em 1929.  

As famílias não aceitam esta relação e a separação é inevitável, marcada pelos últimos acordes da presença colonial francesa na Indochina. Em 1932, tinha então 18 anos, M. Duras volta para França com a família e ele casa com uma noiva chinesa arranjada pelos pais.

O livro chama-se "O Amante" e foi publicado em 1984. Venceu o Prémio Goncourt desse ano. Foi traduzido em 43 línguas e adaptado ao cinema em 1992. 

Por causa do livro e do filme, a casa onde Huynh Thuy Le viveu em Sa Dec, primeiro com os pais e depois com a mulher e os filhos,  é reconhecida atualmente como monumento nacional e transformou-se numa atração turística. 

Huynh Thuy Le morreu em 1972 com 70 anos. 

Marguerite Duras morreu em 1996, com 82.         








Sadec-Saigão 145 km

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