Na passada 5ª feira, dia 29 de junho, decorreu mais uma sessão do
Clube de Leitura para a abordagem e discussão da obra "Arquibaldo", de
Carlos Tê, letrista de canções, escritor, dramaturgo e cronista nos jornais
Público e Expresso.
Além da sua vasta e popular
obra poética, o autor apresentou-se em 2001 com o romance "O Voo
Melancólico do Melro" e três contos "Contos
Supranumerários". "Arquibaldo" é o seu mais recente
romance, publicado em 2022.
Trata-se de um romance que decorre na cidade e periferia do Porto, onde deambulam sobretudo os marginalizados (prostitutas, homossexuais, drag queens), no qual nos é dado a conhecer aquilo que Francisco, a personagem principal designa de "buraco da realidade", dos bairros difíceis, das condições de vida precárias de miséria e pobreza humana, sendo Arquibaldo o "cavaleiro andante" deste microcosmos.
Há também, paralelamente, uma peregrinação interior com pensamentos íntimos, demarcados a itálico, que são uma busca pelas raízes judaicas da personagem principal, tendo como fonte de inspiração a vida da escritora e tradutora (Diário de Anne Frank), Ilse Losa (1913-2006), que chega ao Porto, em 1934, em fuga do nazismo alemão, onde encontra asilo fraterno, refaz a sua vida e recria os seus sonhos.
O romance é labiríntico, de difícil leitura, disperso, polifónico, profundamente lírico, numa realidade caótica e desfigurada, no entanto, pontuada por alguma ironia e humor, com imensas referências musicais, literárias, mitológicas, históricas, artísticas e cinematográficas.
Durante toda a leitura da obra o autor faz reflexões sobre temas da Antiguidade Clássica, época medieval estabelecendo, muitas vezes, um paralelo com as grandes preocupações da atualidade, como os desastres ecológicos e nucleares, profetizados no "Apolcalipse" de S. João Evangelista.
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