Com uma
periodicidade mensal (à exceção de agosto), o Clube de Leitura destina-se a
promover o prazer da leitura partilhada.
As reuniões decorrem à volta de um livro previamente
escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre
quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura
ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador
convidado.
O Clube de Leitura reunirá a 23 de abril, pelas
21h00.
O livro selecionado será "País de abril" de Manuel Alegre, pelos 50 anos do 25 de abril.
Nesta antologia há muitos poemas que falam de Abril antes de Abril e de Maio antes de Maio, em Praça da Canção, editada em 1964, e em O Canto e as Armas, de 1967.
Em O Canto e as Armas há, por exemplo, aqueles quatro versos de
«Poemarma» que, decerto, anunciam o primeiro comunicado da Revolução:
«Que o poema seja microfone e fale
uma noite
destas de repente às três e tal
para que
a lua estoire e o sono estale
e a gente
acorde finalmente em Portugal».
Mas, também, em «Lisboa perto e longe», a estrofe
que canta, sete anos antes, Lisboa na rua, de cravo vermelho na mão, no
Primeiro de Maio de 1974:
«Lisboa tem um cravo em cada mão
tem
camisas que Abril desabotoa
mas em
Maio Lisboa é uma canção
onde há
versos que são cravos vermelhos
Lisboa
que ninguém verá de joelhos.»
Quem é Manuel Alegre?
O poeta Manuel Alegre foi galardoado, juntamente com o fotógrafo José Manuel Rodrigues, com o Prémio Pessoa 1999, uma iniciativa do jornal "Expresso" e da Unisys. Foi a primeira vez que este prémio, que pretende «reconhecer uma pessoa de nacionalidade portuguesa com uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária e científica do país», foi atribuído ex-aequo. Pinto Balsemão, em representação do júri, justificou a escolha do nome de Manuel Alegre, que viu reunida a sua obra poética no volume "Trinta Anos de Poesia" (Publ. D. Quixote), por «ser uma referência da poesia portuguesa deste século» e representar « a visão de um Portugal aberto ao mundo e um humanismo universalista atento a tudo o que nos rodeia».
Manuel Alegre, que poucos meses havia sido consagrado com o Prémio da Crítica
do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, pelo
conjunto da sua obra, a propósito da publicação do livro "Senhora das
Tempestades", nasceu em Águeda em 1936 e estudou Direito na Universidade
de Coimbra, onde participou ativamente nas lutas académicas. Quando cumpria o
serviço militar em Angola, participou na primeira tentativa de rebelião contra
a guerra colonial, sendo então preso pela PIDE. Seguiu-se o exílio em Argel,
onde foi membro diretivo da F.P.L.N. e locutor da rádio Voz da Liberdade. A sua
atividade política andou sempre a par da atividade literária e alguns dos seus
poemas ("Trova do Vento que Passa", "Nambuangongo Meu Amor",
"Canção com Lágrimas e Sol"...) transformaram-se em hinos geracionais
e de combate ao fascismo, copiados e distribuídos de mão em mão, cantados por
Adriano Correia de Oliveira ou Manuel Freire. Os seus dois primeiros livros,
"Praça da Canção" (1965) e "O Canto e as Armas" (1967)
venderam mais de cem mil exemplares. Comentando o prémio, em entrevista ao
"Diário de Notícias", o escritor afirmava: «Devo tudo aos meus
leitores. É, sobretudo, uma vitória deles. Porque foram os leitores que, ao
longo da minha vida literária, estiveram sempre perto de mim e me ajudaram a
vencer várias censuras (política e estética). Expresso-lhes a minha gratidão.»
Regressado do exílio em
1974, "o poeta da liberdade" desempenhou um papel de relevo no
Partido Socialista. Foi membro do Governo, deputado da Assembleia da República
e ocupou um lugar no Conselho de Estado, funcionando muitas vezes como uma espécie
de consciência crítica do seu partido. Os livros mais recentes (note-se ainda a
incursão pela prosa: "Jornada de África", 1989, "Alma",
1995, e " "A Terceira Rosa", 1998) levam-no ao diálogo com
poetas de outros tempos, como Dante ou Camões, ou a refletir sobre a condição
humana, a morte e o sentido da existência, de que são exemplo os "Poemas
do Pescador", que se enfrenta com o enigma da sua vida, incluídos no livro
"Senhora das Tempestades", «Senhora dos cabelos de alga onde se
escondem as divindades / (...) Senhora do Sol do sul com que me cegas / / (...)
Senhora da vida que passa e do sentido trágico // (...) Senhora do poema e da
oculta fórmula da escrita / alquimia de sons Senhora do vento norte / que
trazes a palavra nunca dita / Senhora da minha vida Senhora da minha morte.»
Recebeu o mais prestigiado galardão das letras lusófonas, o Prémio Camões, em
2017.
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